quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Repercussão

- Antes mesmo do segundo capítulo ir ao ar, Antonio Fagundes foi agredido, em um restaurante, por uma senhora que ordenou que o ator (e não seu personagem) tomasse vergonha na cara e não fizesse mal a uma virgem.

- A Globo recebeu em torno de 80 ligações telefônicas com queixas contra a novela. Entre as reclamações: Felipe Barreto (Antonio Fagundes) não deveria tentar seduzir Márcia (Malu Mader) de maneira tão sórdida; um ator como Fagundes não poderia interpretar um vilão; a abertura da novela soava indecente por remeter à figura de Hitler; e Gilberto Braga era imoral demais para o horário nobre.

- Após a estreia da novela, a Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher, de Belo Horizonte, fechou uma agência de encontros, que leiloava uma virgem de 18 anos por Cr$ 200 mil, em anúncio publicado no Estado de Minas, jornal de maior circulação regional. Em depoimento, o proprietário da agência negou que o anúncio fosse verdadeiro: era apenas uma estratégia de marketing, inspirada em O Dono do Mundo.

- A crítica tratou de buscar semelhanças entre Felipe Barreto (Antonio Fagundes) e o cirurgião plástico Ivo Pitanguy. Gilberto Braga desmentiu a inspiração em um dos diálogos da novela, quando uma personagem exclamava: “Se o doutor Ivo Pitanguy cruzasse no corredor com o doutor Felipe Barreto, nem o cumprimentaria”. O aclamado cirurgião da vida real também se posicionou: “O cirurgião da novela não tem ética, é um estereótipo grosseiro, e isso ajuda a transmitir uma impressão negativa dos médicos da nossa especialidade”.

- Em julho de 1991, a advogada Sulema Mendes de Budin entrou com uma medida cautelar para retirar O Dono do Mundo do ar, alegando que a novela não se adequava ao horário em que era veiculada, com base no artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor, sobre “impedimento de atividades nocivas”, e no artigo 221 da Constituição, que prevê “respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família”. A medida não fora aceita pelo juiz Ely Barbosa, da 58ª Vara Cível do Rio.

- Já no município de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, um movimento Pró Felipe Barreto fora criado pelo comerciante José da Silva Gomes. O slogan da campanha era “não deixemos que este homem seja destruído por gostar de mulher”.  A intenção era impedir a derrocada de Felipe. O movimento fora publicado em um jornal carioca e rendeu 400 telefonemas com mensagens de apoio; a maioria, de mulheres.

- Beija-Flor (Ângelo Antônio), a princípio, um surfista ferroviário, se tornou exemplo de honestidade para o brasileiro, diante de sua conduta incorruptível ao longo da novela. A Globo se apressou em colocar no ar uma campanha exaltando o resultado de uma pesquisa sobre corrupção do Ibope, que enalteceu o fato de Beija-Flor ter se recusado a receber comissão pela compra de um equipamento para a produtora em que trabalhava. 74% dos entrevistados aplaudiam a atitude do personagem.

- Por outro lado, o público repudiou as cenas de assalto a um edifício, levadas ao ar em 23 de novembro de 1991. O assaltante Valdomiro (Jandir Ferrari) invadia o apartamento de Constância (Nathália Timberg) e fazia Zoraide (Jaqueline Lawrence) de refém. Assim, conseguia também adentrar o apartamento de Olga (Fernanda Montenegro), onde contava à Stella (Glória Pires), que após um período preso, no qual tentou se regenerar, voltou ao crime para se vingar da morte de sua filha, com uma bala perdida. O diálogo foi interpretado como apologia ao crime e a cena acusada de ser “excessivamente verídica” para um programa de entretenimento, exibido num horário em que as crianças ainda estão vendo TV. Leonor Bassères defendeu a sequência, dizendo se tratar apenas de um gancho folhetinesco para envolver Stella (Glória Pires) em uma situação de perigo.


- O cirurgião plástico Hosmany Ramos, preso em 1981 acusado de contrabando, roubo de veículos e da morte de dois possíveis cúmplices, se viu retratado em O Dono do Mundo. Condenado à vinte anos da prisão, Hosmany disse em entrevista a Folha, ao final da novela, que acreditava que a Globo não havia retratado fielmente sua história por não conseguir explicar ao seu tradicional telespectador como alguém poderia ter sido condenado sem provas concretas. Hosmany também apontava semelhanças na passagem do banco de pele que Felipe Barreto (Antonio Fagundes) implantou na novela e o cirurgião da vida real estudou implantar enquanto foi diretor da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.

- Em 1997, a Volkswagem aproveitou-se da ideia disseminada na abertura de O Dono do Mundo para lançar o novo Polo Classic Sedan, com o veículo fazendo as vezes de Chaplin. *


* colaborou Wesley Vieira

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