quinta-feira, 23 de outubro de 2014

1991 na Globo

Enquanto O Dono do Mundo estava no ar, muita coisa rolou na tela da Globo. Vamos recordar as grades de programação do primeiro e último capítulo da novela e relembrar os grandes destaques daquele ano?

Primeiro Capítulo

Para começar, diretamente do jornal Folha de São Paulo, a programação da TV Globo, para o estado, no dia 20 de maio de 1991, data de estreia de O Dono do Mundo:


Destaques do ano


Pela primeira (e única) vez em sua trajetória, o Vale a Pena Ver de Novo reprisava minisséries. Em uma época na qual a classificação indicativa não era tão rigorosa, o público das tardes pode conferir grandes sucessos levados ao ar após às 22h. Para abrir essa nova faixa de reprises dentro da grade vespertina, a Globo apostou em Riacho Doce. Exibida no ano anterior, com grande sucesso, a minissérie abusava das cenas sensuais para ilustrar o romance de Eduarda (Vera Fischer), uma mulher casada, e Nô (Carlos Alberto Ricelli), pescador que tivera seu corpo fechado para o amor por sua avó, Manuela (Fernanda Montenegro). Ainda assim, foi reprisada sem cortes, com todos os seus 40 capítulos, entre 01° de abril e 24 de maio. No vídeo acima, podemos conferir um dos intervalos do último capítulo da reprise, no qual é anunciada a exibição do quinto capítulo de O Dono do Mundo. Destaque também para o Globo Serviço, que alerta para os perigos do surf ferroviário, prática criminosa da qual vemos Beija-Flor (Ângelo Antônio) participar, logo nos primeiros capítulos da novela.

Substituindo Riacho Doce em 27 de maio, O Pagador de Promessas sofreu um reajuste em seus oito capítulos para que pudesse ocupar o Vale a Pena Ver de Novo por dez dias. A minissérie de Dias Gomes, baseada em seu filme homônimo, trazia José Mayer como Zé do Burro, rapaz simplório que faz uma promessa a Iansã para salvar a vida de seu burrinho Nicolau: vai sair de Monte Santo, interior nordestino, carregando uma cruz até a igreja de Santa Bárbara (correspondente a Iansã na doutrina católica), em Salvador. A intolerância religiosa não permite que Zé cumpra sua promessa, já que ele é assassinado em meio a confusão que se instala na porta da igreja, por conta de seus intentos.

Durante a última semana da reprise de O Pagador de Promessas, de 03 a 07 de junho, estreou Salomé, única novela de Sérgio Marques (habitual colaborador de Gilberto Braga) como autor titular. A obra de Menotti del Picchia quase foi adaptada em 1978 pelo próprio Giba. O projeto foi suspenso por conta da promoção do autor para o horário das 20h (onde estreou com Dancin’ Days) e só saiu da gaveta em 1991. A novela também apelou para a sensualidade e trouxe Patrícia Pillar, no auge de sua beleza, fazendo strip-tease na Paris dos anos 30, em pleno horário das seis. O desenrolar da narrativa, no entanto, não recorreu a outros artifícios do gênero, mesmo apostando no quadrado amoroso que envolvia Salomé (Patrícia) e Duda (Petrônio Gontijo), alvos do desejo de Antunes (Carlos Alberto) e Santa (Imara Reis), padrasto e mãe da moça. Chamava atenção a belíssima abertura e a presença de Lilia Cabral (minha lembrança mais forte da novela) como a louca Ernestina. Das novelas que estrearam em 1991, é a única que o Viva, até agora, não resgatou.


Na terça-feira, 04 de junho, as minisséries voltavam a ocupar a cena com a estreia de O Sorriso do Lagarto, às 22h30. O romance de João Ubaldo Ribeiro ganhava forma no texto de Geraldo Carneiro e Walther Negrão, produzido pela TV Plus, representando assim a primeira produção independente exibida pela Globo. No elenco, astros como Tony Ramos, Maitê Proença, Raul Cortez, José Lewgoy e Pedro Paulo Rangel. Veja no vídeo acima, um intervalo de O Dono do Mundo, no qual podemos conferir chamadas de O Sorriso do Lagarto e Salomé, ambas na segunda semana de exibição.

A partir de 10 de junho, o público vespertino pode rever as estórias de Ana Terra (Glória Pires) e Capitão Rodrigo (Tarcísio Meira) resumidas em 10 capítulos. Era a reprise de O Tempo e o Vento (já exibida pelo Viva, no início de 2012). O clássico de Érico Veríssimo fez parte da comemoração dos 20 anos da TV Globo, em 1985.

A última minissérie a dividir o horário do Vale a Pena Ver de Novo com Top Model, foi Lampião e Maria Bonita, primeira produção da TV Globo no gênero. E de todas as reprises, foi a mais curta: cinco capítulos exibidos entre 24 a 28 de junho. A trama, como pode se supor pelo título, desvenda os meandros da relação amorosa de Lampião (Nelson Xavier) e Maria Bonita (Tânia Alves), em seus últimos dias de vida.


Na segunda seguinte, dia 01° de julho, as tardes perdiam as minisséries para ganhar a reprise de mais uma novela. Após o Vale a Pena Ver de Novo, às 13h30, a Globo exibiu o blockbuster Superman II, na Sessão da Tarde. Em seguida, 16h30, entrava no ar a saga de Roque Santeiro e de sua viúva que foi sem nunca ter sido. Vista na tela do Viva em 2011, a novela de Dias Gomes turbinou a faixa vespertina. Tanto que serviu como arma da Globo para impulsionar sua novela das 18h: logo no dia seguinte ao retorno da trama, a emissora inverteu seu horário com a Escolinha do Professor Raimundo, que passou das 17h30 para 16h50. Assim, Roque Santeiro ficou coladinha em Salomé, impulsionando a novela, que padecia com a concorrência do Aqui Agora, do SBT.

A próxima semana também traria uma nova reprise para a grade da tarde. Era Cambalacho, que substituía Top Model no Vale a Pena. Fernanda Montenegro podia então ser vista em dose dupla na TV: como Olga Portela, em O Dono do Mundo, e como a cambalacheira Naná, que vivia de pequenos trambiques, necessários para a criação de seus filhos adotivos. Em um golpe de sorte, Naná e seu amigo Jejê (Gianfrancesco Guarnieri) enriquecem, tendo que lidar com a ferrenha perseguição da vilã mais que perigosa Andréa Souza e Silva (Natália do Vale). Uma ótima trama que fez o público vespertino vibrar e que, certamente, faria muito sucesso no Viva! Após a estreia da reprise, a Globo exibiu, na Sessão da Tarde, o clássico Tudo por uma Esmeralda, estrelado por.


O mês de julho ficaria mesmo marcado pelas estreias de novela. No dia 15, Antonio Calmon brindava a juventude enlouquecida dos anos 90 com sua obra mais comentada, Vamp. A novela tornou-se uma coqueluche e levou Cláudia Ohana (Natasha) e Ney Latorraca (Conde Vlad) ao topo do sucesso. Uma curiosidade: a audiência de Vamp foi tão surpreendente que, em determinado momento, seus índices passaram a ser superior ao Jornal Nacional e a O Dono do Mundo. O público que acompanhava Carrossel no SBT, certamente usava Vamp como sala de espera, marcando assim a forte responsabilidade que as novelas de cunho infanto-juvenil tiveram na fidelização desse público em frente a TV, por toda década. Reprisada no Viva em 2011, Vamp se relevou uma decepção, ao menos para mim: os vampiros com dentes artificiais e o texto repleto de redundâncias diluíram a aura cult que a novela havia adquirido com o passar do tempo.

Na terça, 10 de setembro, a problemática da AIDS invadia o horário nobre global. Era a estreia de O Portador, minissérie estrelada por Jayme Periard. Seu personagem, Léo, era contaminado após passar por uma transfusão sanguínea, posterior a um desastre de avião. Léo procura descobrir quem lhe doou o sangue contaminado, encontrando em seu caminho personagens que poderiam ser portadores do HIV por conta das diversas situações em que foram expostos ao longo de suas vidas. A minissérie de 08 capítulos se encerrou na semana seguinte.

Em 07 de outubro, após os parcos 107 capítulos de Salomé, estreava Felicidade, exibida pelo Viva com grande sucesso entre setembro de 2012 e julho de 2013. Éramos contemplados com mais uma Helena de Maneco, desta vez vivida por Maitê Proença. Nada correta, a personagem aprontou poucas e boas até conseguir viver a plenitude de seu amor com Álvaro (Tony Ramos), pai de sua filha Bia (Tatyane Goulart), que estabelece, desconhecendo o parentesco que os une, uma grande amizade com o meio-irmão Alvinho (Eduardo Caldas), filho de Álvaro e Débora (Vivianne Pasmanter). A novela fora acusada, na época, de ser mexicana demais, uma referência clara do processo pelo qual a Globo passou com O Dono do Mundo para tentar conter a fuga de telespectadores. Pura bobagem! Com o repeteco no Viva, pudemos constatar a força do texto de Manoel Carlos e a delícia que foi vê-lo tão bem interpretado.

Para encerrar o ano, a Globo trouxe de volta outro grande sucesso. Fera Radical voltou em Vale a Pena Ver de Novo no dia 16 de dezembro. E durante 03 semanas pudemos ver Malu Mader duas vezes mais vingativa! Se em O Dono do Mundo, sua Márcia pretendia destruir apenas Felipe Barreto (Antonio Fagundes), em Fera Radical seu alvo era toda a família Flores. Ao menos até que descobrisse o verdadeiro responsável, dentre os membros do clã, pela chacina de sua família. O que Cláudia (Malu) não imaginava era que se apaixonaria por Fernando Flores (José Mayer), o herdeiro peão de Altino (Paulo Goulart) e Joana (Yara Amaral), a grande vilã da trama.

Tela Quente


Durante a exibição de O Dono do Mundo, a Tela Quente apresentou grandes produções do cinema; dentre elas, muitas da que estão presentes nas chamadas que anunciavam os filmes de 1991 e que viriam a figurar por anos em outras sessões da emissora, em especial a Sessão da Tarde.

20 de maio: Rambo III
27 de maio: As Grandes Férias
03 de junho: Sexta-Feira 13, Parte 07: A Matança Continua.
10 de junho: Um Hóspede do Barulho
17 de junho: Loucademia de Polícia 05: Missão Miami Beach
24 de junho: Namorados por Acaso
01° de julho: Mestres do Universo
08 de julho: Te Pego Lá Fora

15 de julho: Copa América: Brasil e Equador
Excepcionalmente neste data, a Tela Quente foi cancelada para a exibição do jogo entre Brasil e Equador, pela Copa América. Na mesma data, às 18h50, estreou a novela Vamp.

22 de julho: Um Príncipe em Nova York
29 de julho: Corra que a Polícia Vem Aí
05 de agosto: Mais Forte que o Ódio
12 de agosto: O Milagre Veio do Espaço
19 de agosto: Indiana Jones e a Última Cruzada
26 de agosto: Ninguém Segura Essa Garota
02 de setembro: Cemitério Maldito
09 de setembro: Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira
16 de setembro: Deu a Louca nos Monstros
23 de setembro: O Limite da Traição
30 de setembro: A Hora do Pesadelo V: O Maior Horror de Freddy



07 de outubro: Até que a Vida nos Separe
14 de outubro: Falcão, O Campeão dos Campeões.
21 de outubro: Uma Professora Muito Especial
28 de outubro: Joga a Mamãe do Trem
04 de novembro: Criaturas II
11 de novembro: Vice-Versa
18 de novembro: A Volta do Guerreiro Americano
25 de novembro: Um Diretor Contra Todos
02 de dezembro: Armados e Perigosos
09 de dezembro: Um Robô em Curto-Circuito
16 de dezembro: Corrida na Correnteza
23 de dezembro: Os Fantasmas Contra-Atacam
30 de dezembro: Superman IV: Em Busca da Paz

Último Capítulo

O Dono do Mundo chegou ao fim em 03 de janeiro de 1992. Do primeiro ao último capítulo, a grade da Globo não sofreu grandes alterações. Vejamos a programação publicada na Folha de São Paulo, na sexta-feira em que a novela se despediu.


A reprise de Roque Santeiro se encerrava no mesmo dia que O Dono do Mundo. Boatos davam conta de que a Globo precipitou o final da trama para que não houvesse comentários relacionando a reprise à Pedra Sobre Pedra, novela das oito que substituiu O Dono do Mundo, e trazia universo semelhante ao de Roque Santeiro.

Uma última curiosidade: no sábado, 04 de janeiro, logo após a reprise do último capítulo de O Dono do Mundo, a Globo levava ao ar o clássico ... E O Vento Levou, que havia estreado na emissora na faixa Primavera Global, em 1983, em uma edição especial do Super Cine. Em sua primeira exibição, o filme foi exibido em duas partes, logo após a novela Champagne, numa estratégia da Globo para combater o crescimento da Manchete e do SBT. * Em 1992, ... E O Vento Levou foi exibido em parte única, das 21h45 a 01h45.


* colaboração: Fábio Costa

2 comentários:

  1. Excelente post...muitoo bom mesmo. adorei. tem que repetir sempre nas próximas estreias do Viva..esperando ansioso por 1994 na Globo quando Tropicaliente estrear

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  2. Obrigado, Alexandre! 1994 na Globo já está em produção e vem com bônus do ano 2000, quando Tropicaliente foi reprisada. rs... Abs e obrigado por nos prestigiar!

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