quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Bastidores

- O Dono do Mundo foi a estreia de Mauro Mendonça Filho, hoje diretor de núcleo, nas novelas da Globo. Já a equipe de autores contou com o auxílio de Euclydes Marinho, que colaborou com a primeira versão de sinopse. Aguinaldo Silva também integrou o time, do qual saiu para desenvolver o argumento de Pedra Sobre Pedra, substituta de O Dono do Mundo no horário. Danuza Leão também prestou consultoria, auxiliando Gilberto Braga no desenvolvimento dos personagens do núcleo mais abastado da trama.

- Sílvio de Abreu, por ocasião dos problemas enfrentados pela novela em seu início, auxiliou Gilberto Braga, retribuindo o auxílio deste, por ocasião dos problemas enfrentados em Rainha da Sucata. Sílvio, em dupla com Gilberto, participava da estruturação dos capítulos, mas nunca escreveu sequer um diálogo da trama. Após a saída de Sílvio, se deu a entrada de Ricardo Linhares, que havia acabado de concluir Lua Cheia de Amor, se integrou ao time de O Dono do Mundo, conforme havia sido estabelecido antes mesmo da estreia da novela.

- O elenco de O Dono do Mundo sofreu diversas modificações, da lista inicial aos que realmente atuaram na trama: Cleyde Yáconis daria vida à Constância Eugênia, que acabou com Nathália Timberg. Felipe Camargo, por conta de seus conflitos pessoais com Vera Fischer, foi substituído por Ângelo Antônio, como Beija-Flor. Na época, o ator ainda estava concluindo as gravações de O Farol, minissérie da Manchete, o que o fez vivenciar a atípica situação de atuar em duas emissoras ao mesmo tempo. Paulo Gorgulho passou por situação semelhante, quando, em junho de 1991, rescindiu o contrato com a Manchete para viver o Dr. Otávio. Tanto Gorgulho, quanto Ângelo, permaneceram na tela da Manchete, através da reprise de Pantanal. Dhu Moraes, Darlene Glória e Maria Helena Pader eram cotadas para viver Isabel; a personagem ficou com esta última e se transformou em Irene. Outra alteração de nome de personagem envolvia um dos vértices do triângulo amoroso central: Wanda se tornou Stella (Glória Pires) na versão definitiva da sinopse, assim como Sílvio virou Walter (Tadeu Aguiar) e Ulisses, Tabajara (Jece Valadão).

- Gilberto Braga exigiu e a figurinista Marília Carneiro atendeu: o figurino de Felipe Barreto (Antonio Fagundes) deveria ser “nova-iorquino”. O cirurgião também estaria sempre portando um relógio Rolex. Já Stella (Glória Pires) possuía modelos desenhados por Conrado Segretto.

- O arquiteto Keller Veiga, responsável pela cenografia de O Dono do Mundo, produziu uma simpática casa de chácara, cujo exterior e o interior poderiam ser utilizados. A construção de painel de compensado foi planejada devido à dificuldade de se encontrar uma locação que atendesse ao perfil dos personagens: ali moravam Lucas (Hugo Carvana), marceneiro, e sua irmã Ester (Odete Lara), paisagista. A casa possuía dois pisos, uma banheira em condições de uso, e custou aproximadamente 75 mil dólares, ocupando uma área de 300 metros quadrados.

- Telas de Portinari, Lasar Segall, Manabu Mabe, um desenho de Modigliani e as originais esculturas de Hildebrando Lima, Maria Celina Lisboa, Agostinelli, além de quadros de Pietrina Checcacci, adornavam os ambientes de Felipe Barreto (Antonio Fagundes), produzidos pela diretora de arte Cristina Médicis, que pesquisou em detalhes o cotidiano de cada profissão retratada em O Dono do Mundo e definiu os objetos de cena adequando-os aos perfis sócio-psicológico-culturais. “No caso dos cirurgiões plásticos, constatamos que eles têm maior sensibilidade para as artes plásticas. E, por causa do oficio, preocupam-se com formas harmônicas e bem proporcionadas. Muitos têm em seus consultórios esculturas, quase sempre de bustos e corpos”, relatou Cristina.


- A opção por Charles Chaplin na abertura partiu de uma conversa entre Boni e Hans Donner, na qual buscavam sintetizar a figura de um “dono do mundo”. Após se decidirem por Hitler, veio a ideia de utilizar a sequência de O Grande Ditador, filme no qual Chaplin “brinca” com uma bola de gás que remete à Terra. Os direitos de imagem foram conquistados mediante a promessa de não interromper a sequência do filme e a aquisição de outras fitas de Chaplin. As dificuldades para se entrar em acordo foram tão grandes que Hans Donner chegou a produzir uma paródia do filme, com Breno Moroni (o Mascarado, de A Viagem), no Palácio do Catete. A edição final da abertura consumiu três dias de trabalho e só ficou pronta às 20h10 de 20 de maio de 1991, dia de estreia da novela. No mercado internacional, a sequência de O Grande Ditador fora substituída por um fundo preto, no qual o “mundo de mulheres” flutuava.

- A equipe enfrentou temperaturas entre 6° C e 19° C negativos para gravar as 45 cenas previstas no roteiro, ambientadas no Canadá. Passaram por Quebec, Toronto, Drumondville e Lac Beauport. Os lugares públicos utilizados foram liberados mediante pagamento às autoridades locais. Uma importante rodovia em Quebec testemunhou o acidente de Walter (Tadeu Aguiar). Para a cena, a produção providenciou um carro cujo motor não correspondeu a contento. A solução foi buscar um guincho, que rebocou o carro até o barranco em que o mesmo deveria cair. Mas o automóvel deslizou pela neve e não sofreu nenhum arranhão ao capotar, sendo necessário regravar a sequência. Já para gravar em um trem, mesmo com o auxílio do embaixador Paulo Pires, do Rio de Janeiro, a produção se viu obrigada a comprar todos os lugares do vagão.

- Marcelo Serrado investiu nas aulas de piano para compor o Umberto. Seu professor Sílvio Merry era também seu dublê nas cenas em que o personagem estava ao piano.

- A novela se seguiu ao sucesso de Vale Tudo e não foram poucas as comparações entre uma e outra. Por ocasião da estreia, Beatriz Segall comentou: “Tenho certeza de que ele (Felipe Barreto) será a nova versão da Odete Roitman, já que o Gilberto sabe criar e conduzir muito bem uma história”. Glória Pires, vivendo Stella, remetia a Afonso Roitman (Cássio Gabus Mendes) que sua Maria de Fátima tanto enganou na novela de 1988. Sobre a coincidência, Gilberto comentou: “Várias vezes eu já escrevi uma cena em que pensei: ‘A Glorinha, dessa vez, está do outro lado da cama’. Vamos ver até que capítulo dura essa ingenuidade”.

- Com O Dono do Mundo, a Globo passou a exibir, antes do início de cada capítulo, uma retrospectiva dos episódios anteriores, se inteirando da história. A prática já havia sido testada em Araponga e foi adotada na novela das oito como forma de aproximar o público que havia se distanciado da trama.


- No capítulo 61, Renato Aragão, Dedé Santana e Mussum, então integrantes dos Trapalhões, participavam da inauguração do restaurante de Altair (Paulo Goulart).

- A atriz Monique Alves, em tratamento contra a leucemia, aceitou participar de O Dono do Mundo, vivendo Isaura, secretária da clínica médica. Monique era ex-mulher de Dennis Carvalho, diretor da trama, com quem tivera uma filha, Tainá. Monique alegou que precisava ocupar a cabeça para não pensar em besteira e, por isso, resolveu encarar o ritmo alucinante de gravações. Na época, a atriz Sílvia Pfeifer liderava uma campanha para arrecadar US$ 100 mil, quantia necessária para que Monique fizesse um autotransplante; na época, ainda raro no Brasil. Monique faleceu em 29 de agosto de 1994, em virtude de complicações relacionadas a leucemia.

- Já a atriz Aracy Balabanian surgiu como apresentadora do programa Tribuna Livre, produzido, na história, por Rodolfo (Kadu Moliterno). Coube a “apresentadora” coordena as perguntas dos debatedores da atração para Felipe Barreto (Antonio Fagundes). Quando chamou pelo auditório, no entanto, Lucas (Hugo Carvana) surgiu para denunciar o erro médico cometido pelo profissional, que descia mais um degrau em sua carreira, conforme Márcia (Malu Mader) planejara.

- Durante toda a novela, aliás, Gilberto Braga usufruiu do esquema de participações especiais que tomaria a parcela inicial do enredo de Insensato Coração. Os personagens permaneciam na novela conforme as exigências do roteiro. Foi assim com Flávia (Cláudia Magno), amante de Felipe, e Tavares (Paulo Figueiredo), advogado que o aconselhava a aceitar um acordo proposto por Herculano (Stenio Garcia). E também com Vanda (Lucinha Lins) e Valéria Renaud (Kate Lyra), responsáveis pela retomada da ascensão do cirurgião, após a denúncia de erro médico.

- Em meio ao burburinho sobre as alterações na novela, surge a notícia de Olga (Fernanda Montenegro) poderia ser mãe de Márcia (Malu Mader) ou uma homossexual apaixonada pela moça. Como se sabe, Olga era, na verdade, mãe de Felipe (Antonio Fagundes). E Fernanda Montenegro irá viver uma homossexual em Babilônia, próximo trabalho de Gilberto Braga, em parceria com Ricardo Linhares e João Ximenes Braga.


- O Dono do Mundo foi esticada até 03 de janeiro de 1992 para que a Globo pudesse escalar, sem pressa, o elenco de Pedra Sobre Pedra. Na época, Boni comentou: “Estamos fazendo com a novela do Aguinaldo o que deveríamos ter feito com O Dono do Mundo. Não adianta escolher uma atriz ou ator que não se encaixe no personagem”. A emissora também temia estrear uma nova novela no final do ano, período em que a audiência caia, em média, 15%, devido as férias.

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