quarta-feira, 31 de dezembro de 2014


Retrospectiva

2014 passou... E o Viva passou super bem por 2014. No ano que se encerra amanhã, nosso canal preferido viu sua audiência subir consideravelmente, com diversas atrações, em diferentes horários e com sensíveis mudanças em sua programação.

Algumas dessas mudanças, confesso, não me apeteceram. Sou um dos que ainda sonham com o retorno das minisséries, na faixa hoje ocupada por seriados. É bem verdade que, no que diz respeito às minisséries, o Viva não apresentou grandes produtos em 2014. Logo em janeiro, precisamente no dia 06, trouxe de volta O Quinto dos Infernos, já vista em 2011. E outra reprise de 2011, Labirinto, deu o ar da graça em abril (dia 14), encerrando a exibição de produtos do gênero no canal. Entre a obra de Carlos Lombardi e a de Gilberto Braga, tivemos a exibição especial de Retrato de Mulher (incluindo seu episódio piloto, ‘Era Uma Vez... Leila’, exibido em 01° de março), comemorando o mês das mulheres, e de Cinquentinha, trama pouco atraente de Aguinaldo Silva, cuja reprise fora marcada por uma infeliz coincidência: José Wilker, que interpretava o falecido Daniel na minissérie, nos deixou em 05 de abril, vítima de um enfarte fulminante, enquanto Cinquentinha ainda estava no ar. A única minissérie vista no canal, após a extinção da faixa destinada a este gênero, foi O Auto da Compadecida, exibida de 26 a 29 de julho, por ocasião do falecimento de seu autor, Ariano Suassuna.

No dia 12 de maio, séries ocuparam o espaço até então preenchido com minisséries. A cada dia da semana, podemos acompanhar produtos da assim chamada segunda linha de shows da Globo. Alguns recentes, outros nem tanto: Afinal, o Que Querem as Mulheres? (segundas), Carandiru: Outras Histórias (terças), Mulher (já reprisada anteriormente; no ar, às quartas), A Cura (quintas) e Carga Pesada (às sextas, também já reapresentada). As séries elevaram a audiência do canal; eu me interessei em rever apenas A Cura, grande obra de João Emanuel Carneiro. Depois, não resisti ao charme das Cariocas, que passou a ocupar as segundas a partir de 23 de junho. Divertidíssima produção de Daniel Filho, com texto de Euclydes Marinho baseado nas crônicas de Sérgio Porto. Também revi a poesia de Chico Buarque, que inspirou Amor em Quatro Atos (segundas, desde 01° de setembro). Figuraram no horário outras produções menos abonadoras, como SOS Emergência (toda quinta, a partir de 17 de julho), Na Forma da Lei (terças, desde 22 de julho) e Separação?! (segundas, desde 06 de outubro), bem como produções já vistas anteriormente, caso de A Justiceira (no ar em 23 de setembro, terça).

A faixa de séries veio no embalo das comemorações de 04 anos do Canal Viva. As atrações especiais incluíram ainda a estreia de A Diarista (na terça, 06 de maio), humorístico que eternizou a hilária Marinete (Cláudia Rodrigues) e sua inseparável amiga Solineuza, a “Poia” (Dira Paes). Na quinta, dia 08, entra no ar o Mixto Quente, musical dos anos 80, gravado nas praias do Rio de Janeiro, que trazia o melhor da cena musical naquele momento (as atrações eram, em sua maioria, do período de ouro do pop rock nacional). O programa era reapresentado aos sábados, antes do aclamado Globo de Ouro, que, após um período fora do ar, retornara no dia 10.

Também para celebrar sua nova idade, o Viva reinventou identidade visual, bem como passou a dispor de um canal em HD. O slogan deixou de ser “Viva, do seu jeito” para se tornar “Viva, as melhores surpresas”. De todas as mudanças, apenas o canal HD não empolgou, de início. A maioria dos programas exibidos pelo Viva, em especial os mais antigos, passou a ter faixas pretas no entorno da imagem, o que causou reclamações por parte do público e um consequente retorno ao formato tradicional.

O Show da Vida é Fantástico, mais uma das estreias em comemoração ao aniversário do canal, repercutiu e muito bem! Primeiro por resgatar antigos clipes do Fantástico, comentados hoje em dia por músicos e profissionais que participaram da concepção dos mesmos. E depois por trazer de volta às telas a belíssima e muito talentosa Valéria Monteiro, musa do dominical da Globo no final dos anos 80 e início da década de 90. A série de 20 programas, de 10 minutos aproximadamente, estreou em 19 de maio, às 23h. E fora substituída posteriormente por matérias especiais já exibidas no Fantástico. Dentre elas, Destino Fantástico, com Glória Maria e Isabel Ferrari (no ar em 14 de julho), Sibéria: a Missão de um Mago, em que Glória acompanhou o escritor Paulo Coelho durante uma viagem (no ar em 18 de agosto), Diário da Vida Real e Altos Papos, com Zeca Camargo (a partir de 13 de outubro).

Outras produções próprias marcaram a trajetória do Viva durante 2014. Em 29 de janeiro, chegava ao fim a exibição original de Damas da TV, reprisada exaustivamente desde então (no momento, está no ar aos sábados, 18h30). Débora Duarte, Arlete Salles, Nívea Maria, Ruth de Souza e Glória Pires conduziam os episódios da série, levados ao ar durante o mês de janeiro. Em setembro, veio a primeira obra dramatúrgica produzida pelo canal. Meu Amigo Encosto, exibida às quartas, trazia o hilário Janjão (Danilo de Moura), o amigo do título, um espírito que atormentava a vida do pobre Ivan (George Sauma). Ambos os protagonistas estavam muito bem, destoando dos outros componentes do elenco, em desempenho aquém de seus personagens. A série trouxe bons momentos, mas não empolgou como esperado, talvez pela estratégia falha do Viva de coloca-la em um horário no qual o telespectador, normalmente, está na TV aberta, acompanhando a novela das nove.

O grande sucesso do Viva em 2014, em termos de produção própria, foi mesmo o Globo de Ouro Palco Viva. Dez programas especiais, exibidos a partir de 17 de novembro, que recriaram uma das atrações mais prestigiadas do canal e demonstraram o vigor de programas musicais, atração impensada para a TV aberta, e mesmo para a TV paga, desde que foram concebidas outras formas de se consumir música, fora a televisão, o rádio e os vinis. Foi bom rever grandes nomes da cena musical brasileira e ouvir novas versões de antigos clássicos. Até mesmo a participação de cantores da atualidade passou bem pelo crivo do telespectador. O único senão: o repertório de alguns destes artistas e algumas recriações que em nada contribuíram para a memória do artista homenageado, caso da Banda Tono, com Ouro de Tolo, de Raul Seixas, e de Thiaguinho para Pais e Filhos, de Renato Russo.

No ano que passou, o Viva também levou ao ar o desfile das escolas de samba do grupo de acesso de São Paulo (em 02 de março), bem como das campeãs da capital paulista e do Rio de Janeiro (07 e 08 de março, respectivamente). Mais de 800 profissionais foram mobilizados para a cobertura, que elevou a audiência do canal, garantindo um acréscimo de 50% em seus índices e o segundo lugar no ranking da TV paga. A experiência, que será repetida em 2015, contou com os repórteres Alê Primo, Júlia Bandeira, Mariane Salerno e Renata Simões (as três comandaram os boletins Viva Folia, exibidos desde dezembro de 2013). No desfile das campeãs, Betty Lago, Taís Araújo, Samantha Schmütz e Bruno de Luca revelaram os bastidores das escolas e realizaram entrevistas na concentração. No embalo do Viva Folia, o Viva O Sucesso abriu espaço para a série ‘Os Bambas do Samba’. Quatro programas, com figuras conhecidas do meio musical, foram apresentados do início de fevereiro até a semana de exibição dos desfiles das escolas de samba. Arlindo Cruz e Dudu Nobre, Alcione e Diogo Nogueira, Jorge Aragão e Péricles e Beth Carvalho e Zeca Pagodinho foram as duplas que passaram pela atração neste período.

O Cassino do Chacrinha também ajudou a esquentar os tamborins para o Viva Folia. Neguinho da Beija-Flor, Alcione, Fundo de Quintal, Jair Rodrigues e agremiações do Rio de Janeiro e de São Paulo garantiram o samba ao programa levado ao ar em 16 de fevereiro, domingo. Espécie de curinga da programação, o Cassino voltou ao ar em 26 de abril (sábado), trazendo uma sabatina com Dercy Gonçalves; em 26 de maio, com a última edição gravada por Chacrinha e contando ainda com Jair Rodrigues, falecido no dia 08 daquele mês; e ainda em 22 de dezembro, com um especial de Natal.

Falando em Natal... Para 2015, esperamos mais presentes do Viva. Este ano, as atrações foram poucas. Algumas estiveram atreladas a especiais da Escolinha do Professor Raimundo e do Sai de Baixo. Tivemos também a reexibição da Missa do Galo e do especial ‘Papai Noel Existe’, com Daniel Boaventura, Carolina Kasting, David Lucas e Reginaldo Faria. Ainda, o show ‘André Rieu – Live in Brazil’, comemorando a chegada do Ano Novo. A grande atração do Viva no período de festas foi mesmo Xuxa, no especial inédito ‘Natal Mágico da Xuxa’. Gravado no Ginásio do Ibirapuera, o evento musical comemorou os direitos da criança e também os 25 anos da Fundação Xuxa Meneghel. A atração serviu também para reverenciar o passado de sucesso da Rainha dos Baixinhos, no ano em que a mesma se viu envolvida em uma possível saída da Globo e um provável ingresso na Record.

No Viva, Xuxa reinou absoluta. De volta ao ar em 07 de setembro, o Planeta Xuxa, musical comandado pela loira nas tardes de sábado (posteriormente, domingo), turbinou a audiência do canal, colocando o Viva entre os dez mais assistidos durante o horário de exibição da atração. O sucesso garantiu, inclusive, dois horários alternativos para o Planeta (segundas, 21h, e domingo, 12h). Renato Aragão, que assim como Xuxa passou 2014 longe da TV aberta, também anda fazendo sucesso no Viva. A Turma do Didi, no ar de segunda a sexta às 20h30, ocupou em seus primeiros meses o terceiro lugar no ranking de audiência, entre o público adulto. O humorístico está no ar desde 14 de julho, mesma data em que a novelinha ecológica Flora Encantada, protagonizada por Angélica, substituiu a inesquecível Caça Talentos.

Já em 19 de julho, o Viva promove uma alternância de atrações na faixa que sucede à novela das 15h30. A série SOS Babá passou a dividir espaço com Obsessivos Compulsivos e Conselhos da Super Nanny, protagonizado por Jo Frost. Praticamente um mês depois, mais precisamente no dia 18 de agosto, o público das tardes foi contemplado com a reexibição do Bem Estar, matinal sobre saúde veiculado pela TV Globo. A reprise, no entanto, acontece em esquema diferente do adotado para o Vídeo Show e o Mais Você, cujos programas apresentados são os mesmos que foram exibidos naquele dia pela TV aberta. O Bem Estar reapresenta programas da época de sua primeira temporada, em 2011.

Ainda em agosto, o Viva trouxe de volta uma das séries de maior sucesso dos anos 90. Veiculada pela Globo no Xou da Xuxa, a princípio, Família Dinossauros logo arrebatou o público, migrando para as tardes de domingo. O sucesso foi tanto que o programa chegou a ser exibido entre Os Trapalhões e o Fantástico, nas noites dominicais. Não tardou para que surgissem mochilas, camisetas, chaveiros, álbuns, discos e uma infinidade de produtos baseados em Baby, o bebê que completa o clã formado pelo patriarca Dino, sua esposa Fran, e os filhos Bobby e Charlene. De volta ao ar através do Viva, Família Dinossauros aumentou em 135% os índices do horário. Seus números chegam a ser três vezes maior do que toda a média de audiência do canal. Ou seja: todo ‘vivamaníaco’ para diante do bebezinho dinossauro Baby, exclamando “Não é a mamãe!”.

A série pode ser vista também no Viva Play, plataforma de vídeos sob demanda lançada pelo canal na internet, em 26 de agosto. O Viva passou muito moderninho por 2014. Chegou a se tornar aplicativo para celular, através do Quiz Viva, game de perguntas e respostas, lançado em 25 de julho, que testa o conhecimento do público a respeito de temas televisivos e assuntos de décadas passadas. No dia 02 de agosto, o canal virou livro pelas mãos de Julio Cesar Fernandes, autor de “A Memória Televisiva como Produto Cultural: um estudo de caso das telenovelas do Canal Viva”. Lançado no Museu da Imagem e do Som, através do selo Pró-TV, o livro reúne uma extensa pesquisa sobre as novelas veiculadas pelo Viva, bem como depoimentos de profissionais do canal e a contextualização de temas como o saudosismo e a nostalgia.


O Viva também virou blog! No dia 05 de setembro, entra no ar o Vivo no Viva, nosso canal de contato com outros ‘vivamaníacos’, de comentários sobre a programação e atrações, e de sugestões de novelas e demais programas. Esperamos que todos os fãs do Canal Viva tenham um ótimo 2015. E acompanhem aqui, na próxima sexta, a continuação de nossa retrospectiva, exclusivamente dedicada as novelas do Viva em 2014. Não dá pra perder!

sábado, 20 de dezembro de 2014


O nosso resumo mensal de tudo o que rolou, tá rolando ou pode rolar no Viva e no blog.

O Mais do Viva deste mês é especial. Todos os tópicos da nossa coluna foram escritos por Julio Cesar Fernandes, autor do livro “A Memória Televisiva como Produto Cultural: um estudo de caso das telenovelas do Canal Viva”, lançado em agosto, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. Julio, coordenador de operações do jornalismo na TV Globo, desenvolveu o livro com base na adaptação da dissertação homônima, desenvolvida no curso de Pós-Graduação em Comunicação Social na Universidade Metodista de São Paulo. O trabalho se propôs a estudar a memória televisiva como parte da memória social e coletiva. O objetivo geral da pesquisa foi analisar a memória televisiva recuperada e construída pelo Canal Viva, por meio das novelas da Globo nele exibidas, verificando, assim, suas características como produto cultural e buscando o lugar dessa memória televisiva na trama das mediações culturais e das interações sociais.

Para adquirir a obra, consulte os sites Disal e Livraria Cultura. Maiores informações no Facebook do livro. Clique, curta, compartilhe, leia!

Saiba mais sobre “A Memória Televisiva como Produto Cultural: um estudo de caso das telenovelas do Canal Viva” na entrevista com Julio Cesar Fernandes, logo abaixo. Nossos agradecimentos ao autor, sempre simpático e muito solícito.

Entrevista
Julio Cesar Fernandes

Julio e Elmo Francfort, autor de Rede Manchete:
Aconteceu, Virou História
e Avenida Paulista, 900:
A História da TV Gazeta
.
- Como surgiu o livro “A Memória Televisiva como Produto Cultural: um estudo de caso das telenovelas no Canal Viva”? O que o motivou a escrevê-lo e como se deu todo esse processo, da coleta de dados ao resultado final?

Escrevi minha dissertação de Mestrado a cerca do Canal Viva e suas telenovelas. Sempre me interessei pela história da TV e o gênero televisivo que mais consumo é a telenovela. Então, quando surgiu o Canal Viva não tive dúvida: ele seria meu objeto de estudo.

O livro conta com um capítulo sobre a história da televisão e da telenovela no Brasil. Há também um levantamento bibliográfico de alguns conceitos como cultura e nostalgia. Por fim, há a pesquisa propriamente com entrevistas com profissionais do Canal Viva e um grupo focal com telespectadores das telenovelas no Viva.

Julio e Vida Alves, atriz pioneira e
presidente da Pró-TV.
- O livro foi lançado com o selo Pró-TV, uma importante associação que visa a preservação da memória da televisão brasileira. Como vê esta iniciativa e de que forma acredita que seria mais viável que o grande público viesse também a prestar sua contribuição?

A iniciativa da Vida Alves e da Pró-TV é louvável, desde 1995 eles batalham pela criação de um museu da televisão no Brasil. Com projetos como o da Coleção Pró-TV, o público terá a oportunidade de conhecer melhor nossa própria história e contribuir para a criação desse museu.

Espero que cada vez mais gente tome consciência dessa responsabilidade, afinal, a história é nossa!

A Novela da Minha Vida

A minha novela predileta é Quatro Por Quatro, desde que assisti pela primeira vez em 1994, me encantei. Gosto da agilidade do texto do Lombardi. Além disso, as cenas cômicas com as atrizes Letícia Spiller e Betty Lago são um prato cheio para quem gosta de humor em novela, que é o meu caso.

Aplausos Para...

Gilberto Braga. Na minha opinião, um autor completo. A “dupla” Anos Dourados e Anos Rebeldes é encantadora e traz um retrato da história do nosso País. Sem falar na adaptação do romance de Bernardo Guimarães, Escrava Isaura, e a contemporânea Celebridade.

Astros e Estrelas

Destaco o diretor Edison Braga. Trabalhei com o Edison no programa Projeto Lírios, da TV Mundo Maior. Ele foi diretor das novelas A Viagem e Mulheres de Areia, da TV Tupi. Com a extinção da Tupi, ele foi para a TV Cultura, onde dirigiu tele romances. Edison faleceu em 2012, em São Paulo, e, infelizmente, não é tão lembrado na história da teledramaturgia brasileira.

Vivamaníacos

Julio e Nilson Xavier, pesquisador em dramaturgia
e colunista do site do Canal Viva.
Eu sou vivamaníaco desde... que nasci.
O melhor do Viva até agora foi... a sua criação.
O Viva “deu ruim” quando... trocou o formato de 4x3 para 16x9, mas logo voltou atrás, graças aos fãs.
Eu quero ver na grade do canal... cada vez mais novelas antigas.
Eu gosto de ver o Viva quando tô no sofá... ou na cama, ou em qualquer lugar. Viva sempre!
Minha coleção de novelas tem... uma minissérie: Anos Rebeldes.
A maior relíquia do meu acervo de novelas é... a primeira versão de Escrava Isaura.

O Viva pra mim é... mais que um objeto de uma pesquisa, é meu canal predileto e a forma para manter viva a memória.

***


Confira a nova edição da Viva Revista. Tudo sobre as novelas do Viva!

domingo, 14 de dezembro de 2014


O Estúdio Viva vem com uma nova sugestão para o nosso canal preferido. Aproveitando o investimento em produções próprias, como o Globo de Ouro Palco Viva e as estreias de janeiro, Grandes AtoresRebobina, apresentamos este mês mais um programa que gostaríamos de ver ganhar forma na tela do Viva.


O mago das telas
Programa reverencia Hans Donner, o principal nome das vinhetas da Globo.

Não tinha ideia de quem era Hans Donner, o nome que sempre via nos encerramentos das novelas, como responsável pelas aberturas. E que pouco depois veria como destaque da escola de samba Mocidade Alegre, de São Paulo. Foi apenas em 2000, no programa Intervalo, da extinta TVE, que tive a real dimensão da importância deste austríaco para a conceituação do designer na TV brasileira. Foi Hans Donner quem criou o logotipo da TV Globo, como o vemos até hoje. Desenvolveu outras vinhetas, aberturas, inúmeros projetos que construíram sua história, entremeada por acusações de plágios e trabalhos mal sucedidos; mas, em sua quase que totalidade, exitosa.

Hoje em dia, Hans ainda participa da concepção de logotipos na Globo, embora já não exerça mais a mesma função de décadas passadas, onde supervisionava todo o departamento de arte. No último mês, sua trajetória foi revista em um post do colunista Nilson Xavier, que listou suas aberturas preferidas; a grande maioria, concebida por Hans Donner. O que se propõe aqui, no entanto, não é mais um texto elogioso. É um programa de temporada, dedicado ao resgaste da trajetória deste homem, unindo depoimentos do próprio a de colegas de trabalho, entremeados pela exibição de VTs antigos e conduzidos a partir da recriação de aberturas clássicas, utilizando-se dos recursos de hoje. Um doc-reality que, creio eu, todo fã do Canal Viva gostaria de ver.

“Doc”, evidentemente, por conta dos depoimentos do designer e profissionais envolvidos em suas criações, sejam eles de sua equipe ou ligados ao seu trabalho, como autores e diretores. A exibição desse retrospecto é ligada à veiculação das aberturas e vinhetas citadas e, se possível, imagens de bastidores (o Vídeo Show, por exemplo, gravou diversas matérias com Hans Donner, revelando todos os meandros da criação de várias aberturas).



Sabemos que Hans, além de inovar a identidade visual da Globo e revolucionar o grafismo na televisão, moldou muitos profissionais, que hoje trilham sozinhos os seus caminhos dentro da emissora carioca. Por que não vermos o designer gráfico instruindo jovens profissionais ou estudantes, na recriação de antigas aberturas de sucesso? É justamente daí que vem o “reality”. Hans coordenaria e avaliaria o trabalho de grupos de designers, na atualização de suas criações. Uma disputa entre designers é algo ainda não visto na TV brasileira. Acredito que o nosso mago das telas tenha sabedoria e competência para desenvolver algo do tipo.

Um novo programa para inovar a linguagem dos reality-shows e reinventar sucessos do passado. Como Hans Donner, que revigorou a imagem de uma emissora e escreveu sua marca na história da televisão brasileira.

O quê?
Hans Donner

Como?
Doc-reality que traz curiosidades e exibição de antigas aberturas, além de recriações de vinhetas, com os melhores recursos do designer gráfico.

Com quem?
O próprio Hans Donner, através de depoimentos e da interação com os demais participantes.

Onde?
Em externas, como no escritório de Hans Donner, em outros escritórios de designer gráfico e universidades.

Quando?
Quartas, às 22h. Dia e horário em que há significativa migração da audiência da TV Globo para outros canais e para a TV fechada.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014


Quem não gosta do horário mais debatido do Viva, o da meia-noite? Foi desta faixa que surgiram os maiores sucessos do canal, tramas que ficaram no imaginário do grande público e eram exaustivamente pedidas pelo público (nem tanto assim, em casos como O Dono do Mundo). Outros grandes sucessos ainda são sugeridos pelos telespectadores e nós não poderíamos ficar de fora desses palpites...


Viva, nos conceda esta dança!
Estreia de Manoel Carlos no horário nobre, nunca reprisada, é boa opção para meia-noite.

Quando Baila Comigo estreou, muitos duvidaram de seu sucesso. Parecia um impiedoso folhetim, que nada ia acrescentar à já batida trama de gêmeos que cresceram desconhecendo a existência um do outro. Ledo engano. Assim que foi ao ar o último capítulo da novela de Manoel Carlos, estreando como titular às 20h, o público já queria sua reprise. Reprise esta que quase aconteceu em 86, em dois tempos: no Vale a Pena Ver de Novo, quando foi preterida por Feijão Maravilha, e às 18h, por ocasião da suspensão das atividades do horário após a exibição de Sinhá Moça (que acabou substituída por Locomotivas). Quem nutria muita curiosidade pela novela, acabou adquirindo os DVDs de uma versão exibida em Portugal (com os quais meu amigo Zé Filho me presentou). Mas nada é igual a acompanhar na íntegra, com vinheta de numeração no início e cenas do próximo capítulo no final. Por isso é que imploramos... #BailaComigoNoVIVA!

Rio de Janeiro, 1981. A obstetra Lúcia (Natália do Vale) traz ao mundo duas novas criaturinhas. Irmãos gêmeos. Idênticos! Assim como os que o doutor Plínio Miranda (Fernando Torres) trouxe à luz, há quase 27 anos atrás: João Victor e Quinzinho (ambos Tony Ramos), que desconhecem a existência um do outro. E no que depender da mãe deles, Helena (Lilian Lemmertz), continuarão na mais completa ignorância, por toda a vida. Hoje casado com Helena, Plínio se ressente pelo ato do passado, quando Helena, optando por um dos gêmeos, permitiu que o outro ficasse com Joaquim Gama (Raul Cortez), pai dos meninos. Como Quim já era casado, a solução para que ele pudesse criar o filho, sem se indispor com a esposa, Marta (Tereza Rachel), foi induzi-la a acreditar que era estéril. Desconhecendo a origem do menino, Marta o aceitou. Mas pouco depois, descobriu-se grávida. O nascimento de Débora (Beth Goulart) lhe deu a certeza de que fora enganada pelo médico e pelo marido.

Lisboa, 1981. Guiada pelo ressentimento, Marta passou a ignorar a existência de João Victor, um dos nomes em ascensão nas empresas de Quim, que sofrera um enfarte recentemente. Decidido a corrigir os erros do passado, e recompensar seu outro herdeiro pela ausência de todos esses anos, o empresário decide voltar ao Brasil, a contragosto da esposa e da filha. O filho irá permanecer em Lisboa, à frente das negociações que serão realizadas por lá. Visando aproveitar-se desse afastamento temporário, e torná-lo definitivo, Marta diz a João Victor, no dia em que este completa 27 anos, que ele não é filho de sangue do casal; portanto, tem menos direitos do que Débora na divisão de bens. A revelação atordoa João Victor, que passa mal.

Voltamos ao Rio. Plínio, o médico, lê no jornal que Quim está voltando. Ele transmite a notícia à esposa, que teme a proximidade do ex-amante. Receosa, Helena decide pedir perdão a Quinzinho, o filho que ela criou, assim batizado em homenagem ao pai biológico. Caixa de banco, moderno e descolado, Quinzinho sequer entende o que Helena quer lhe dizer ao pedir perdão a ele. Não vê nenhum deslize no comportamento da mãe e duvida que isso, um dia, irá acontecer. Sai para um passeio de moto pela orla, e subitamente, sente-se mal, colidindo com o carro de Lúcia. O mal estar coincide com os momentos em que João Victor descobre que não é filho de Marta e, como ele e ela supõem até o momento, Quim.

O acidente envolvendo Lúcia e Quinzinho dá início à história de amor do casal, ameaçada pela presença de Marcelo (Fábio Pillar), ex-namorado da moça. É Marcelo quem une Quinzinho ao seu verdadeiro pai. Uma vez no Brasil, Quim pede a seu amigo e fiel escudeiro Guilherme (Cláudio Cavalcanti) que localize a família de Helena. Não demora muito e logo ele obtém o endereço de seu grande amor do passado: o bairro de Santa Teresa. Julgando ser perigoso aproximar-se repentinamente do filho e de Helena, Quim decide ir até o banco em que Quinzinho trabalho. Lá, testemunha uma briga armada por Marcelo, que ataca o bancário sem dó. Quinzinho revida, fazendo com que o pai biológico passe mal diante da confusão. Com os ânimos mais calmos, no entanto, Quim defende o herdeiro perante o gerente do banco, iniciando assim uma grande amizade. Ao saber pelo filho que ele e Quim se conheceram, Helena surta. Ela já havia ido ao aeroporto se certificar da ausência de João Victor entre os Gama que voltaram ao Brasil, o que a tranquilizara na ocasião. Agora, temendo as intenções de Quim, ela quebra o pacto de silêncio existente entre os dois e liga para ele, implorando que se afaste do gêmeo que ele enjeitou.

O que nem Helena, nem Quim, e muito menos Quinzinho, podem imaginar é que João Victor decidira voltar ao Brasil sem comunicar nada a ninguém. Com duas pessoas idênticas vivendo em uma mesma cidade (ainda que seja uma cidade do tamanho do Rio de Janeiro), os conflitos passam a ser inevitáveis. E se iniciam ainda no aeroporto, onde Lúcia foi buscar sua mãe, Sílvia Toledo (Fernanda Montenegro). E não fosse a chegada da esfuziante atriz, Lúcia certamente teria abordado João Victor. O gêmeo rico escapa do flagra da médica, mas sofre com a violência de Marcelo, que o confunde com Quinzinho. Assim como Lúcia, que desconhecendo a existência de outro ser igual ao seu namorado, questiona este sobre sua presença no aeroporto, instalando entre eles a desconfiança que irá minar o relacionamento, mais adiante.

As confianças cessam quando João Victor vai para o Sul, onde descobre o médico responsável pelos partos da região naquela época: Plínio Miranda. Munido desta nova informação, Victor retorna ao Rio, sendo surpreendido por uma surra aplicada pelos capangas de Caio Fernandes (Carlos Zara), pai de Lúcia e dono de uma academia de ginástica e dança. O sogro antipatiza com Quinzinho tão logo o conhece e, no intuito de afastá-lo de Lúcia, contrata alguns homens para que lhe deem uma surra. Qual não é a sua surpresa ao encontrar Quinzinho sem nenhum ferimento? Somada à antipatia de Caio, o namoro de Lúcia e Quinzinho padece com a intromissão de Mira Maia (Lídia Brondi), que sempre arruma um jeito de atazanar a vida da atual de seu ex-namorado, e também com Helena, que implora a Lúcia que termine o namoro, evitando maiores aborrecimentos. Incomodada com a presença constante de Mira na vida de Quinzinho, Lúcia decide dar um tempo na relação. Doente de saudade, no entanto, ela resolve procura-lo e se surpreende ao ver o bancário beijando Mira. Pouco depois, testemunha um encontro de João Victor e Débora, e acreditando tratar-se de Quinzinho, decide procura-lo, despejando desaforos que o rapaz, nem de longe, merecia ouvir.

É... O Rio de Janeiro é pequeno demais para os dois. Tanto Quim, quanto Helena, já perceberam isso. Ele encontrara Quinzinho em um bar e para impedir que Marta visse o gêmeo de seu filho adotivo tratou de manchar a blusa dela com vinho. Helena, por sua vez, se encontra com João Victor em um restaurante; sua emoção é tanta, que chega a desfalecer. E os gêmeos passam a circular pelos mesmos ambientes, o que aumenta a tensão existente em torno do primeiro encontro. É Plínio quem decide pôr fim à situação. Procura Quim e exige que ele se afaste de sua família, sem sucesso. Leva o empresário, então, até a casa em que ele vive com Helena, disposto a colocar o casal frente-a-frente. Helena vai direto ao ponto: Quinzinho acredita que Plínio é seu pai; ama esse pai com todas as suas forças. Ela não seria capaz de destruir as ilusões do filho e, por isso, decide preservar a mentira. O que ninguém imagina é que Marta colocaria João Victor ainda mais próximo de Plínio. Ela contrata um detetive particular, que lhe dá o endereço do médio. E após um tenso encontro com ele, no qual expõe sua mágoa por ter sido enganada com relação à sua fertilidade, exige que Plínio lhe dê explicações sobre a origem de João Victor. Diante das negativas do doutor, Marta decide colocar o filho adotivo à par de tudo: entrega a ela o telefone de Plínio.

E os gêmeos que ainda não se conhecem, escutam a voz um do outro. Tony Ramos, grande ator, diferenciou João Victor e Quinzinho apenas com mudanças de penteado, postura e entonação de voz. Um trabalho sensível que seduziu público e crítica naquele ano de 1981. Ao ligar para Plínio, João Victor é atendido por Quinzinho, que combina com o rapaz uma visita à noite. Ao avisar os pais do encontro, o bancário quase provoca um surto em Helena e Plínio, que, com a ajuda de Guilherme, consegue tirar o rapaz de casa, evitando o encontro dos dois. Guilherme passou a ser chefe de Quinzinho, cujo curso de piloto de helicóptero lhe rendeu uma vaga nas empresas de Quim, forma que o empresário encontrou para ficar próximo do filho. Helena suspira aliviada, sem imaginar que João Victor voltaria a procurar por Plínio. Compadecida, a mãe leva o filho para uma igreja, e diante do altar, inventa mais uma mentira, continuando a manter João Victor e Quinzinho separados. Diz que seus pais morreram tão logo os gêmeos nasceram; ela assumiu a criação de um e Quim, de outro. Não bastasse enganar o filho, Helena ainda lhe pede para que não procure Quinzinho, uma vez que não quer que ele descubra sua verdadeira origem. A cena é uma das mais belas de toda a trama.

Sem ter como se aproximar do irmão, João Victor passa a verificar seu trabalho na empresa, de longe. Até que, tomado por uma repentina coragem, vai ao encontro do gêmeo, na companhia de Débora. Pela primeira vez diante do irmão, João Victor se emociona. Ao chegar em casa, arrependido por não ter se aproximado do rapaz, ele se volta para o espelho, imaginando como seria o diálogo entre os irmãos. Decidido a manter-se próximo de Quinzinho, o gêmeo de Quim passa a frequentar os mesmos lugares que ele. Sabendo disso, Helena decide desabafar com alguém a respeito das mentiras que inventou. E quem mais poderia ajuda-la senão Lúcia, que já a amparou em outro momento? A história comove Lúcia, que vai a uma recepção na casa de Quim, apenas para ver o irmão de seu amado e prometer que vai ajuda-lo. Sabendo do sofrimento de João Victor, Helena decide que irá consola-lo. Mas tão logo chega ao seu apart-hotel, é surpreendida pela presença de Quim. João Victor sequer imagina que está diante dos pais biológicos e, sem medo de se expor, revela que tem visto Quinzinho com frequência. O mesmo Quinzinho que, de repente, se vê diante de uma briga ferrenha entre Quim e Marta. Já afeiçoado ao filho, o empresário decide doar a ele uma porcentagem dos bens de sua família; em especial, da parte que cabe a João Victor.

Quinzinho sequer pode imaginar que a boa ação de Quim tem a ver com seu passado. Em uma conversa com Helena, na qual descobre que o atual patrão fora o primeiro amor da vida dela, brada aos quatro ventos que não aceitaria outro pai que não fosse Plínio. E, decidido a se aproximar cada vez mais da família dos patrões, vai até o apart-hotel de João Victor, que ao ver o irmão pelo olho mágico, não o atende. Os dias seguem e Quinzinho se vê obrigado a partir para uma viagem em Portugal. Querendo marcar presença na vida do irmão, João Victor faz com que chegue até ele, antes de embarque, um livro com uma dedicatória sua. Quinzinho retribui a gentileza, ligando para João Victor e dizendo que tão logo ele volte ao Brasil, os dois vão se encontrar. A esta altura, Débora namora, a contragosto de Marta, com Caê (Lauro Corona), um tremendo pobretão. Ao ir à casa da namorada, o jovem vê João Victor, que não tem outra alternativa, a não ser contar tudo sobre os gêmeos. Desesperado com a gravidade da situação, Caê decide desabafar com o padrasto Otto (Milton Gonçalves, que causou uma polêmica racial por ser esposo, na novela, de Beatriz Lyra (Letícia)). O problema é que Mira ouve tudo e movida pelo seu faro jornalístico decide ir atrás de João Victor. Um homem a imagem e semelhança de Quinzinho... Tudo o que Mira queria!

O que não poderia acontecer, nesta altura do campeonato, acaba acontecendo. Caio, inimigo de Quim e de Quinzinho, descobre o segredo em torno dos gêmeos e passa a chantagear o empresário. Numa tentativa de neutralizar as investidas criminosas de Caio, seu sócio em uma empresa de táxi aéreo, Quim havia colocado a bela Paula (Susana Vieira) em seu encalço. Instruída por Guilherme, Paula seduz Caio, mesmo sendo casada com Mauro (Otávio Augusto), um ciumento piloto de avião que tão logo descobre o romance da esposa com o dono da academia, decide mata-lo. Para isso, joga sua aeronave em cima de Caio, causando a morte deste e a sua. Os gêmeos estão livres do vilão, mas não de Mira, que procura Helena, com um bolo nas mãos. No topo do doce, dois bonecos: o gêmeo feliz, Quinzinho, e o gêmeo triste, João Victor. Helena se desespera com as palavras de Mira e, pouco depois, com a certeza de que sua filha Lia (Christiane Torloni) está próxima de descobrir seu segredo. Com medo, ela confessa à menina tudo o que fez e é aconselhada a abrir a história de uma vez.

Até porque a presença de João Victor começa a instigar Quinzinho. Ele reata o namoro com Lúcia, mas morre de ciúmes ao vê-la com outro homem, que sequer imagina ser João Victor; a esta altura, já envolvido com Mira. É chegada, mesmo, a hora de Helena abrir o jogo. Ela procura Quinzinho, diz que ele é filho de Quim, e mais: João Victor é seu irmão gêmeo. Pouco depois, é João Victor, também por intermédio de Helena, quem descobre tudo sobre sua origem. Os dois correm ao encontro um do outro, mas um blecaute atrapalha os planos dos gêmeos. Quando enfim encontram uma lanterna, a luz retorna e aí podem ficar frente-a-frente, sem mais mentiras, nem escuridão. Assim se encerrava aquele capítulo de sábado, 05 de setembro, três semanas antes do término da novela. Pouco depois, Quinzinho declara seu amor ao irmão e também ao pai, Plínio. Quanto a Quim, os dois prometem ser amigos, até que o destino fortaleça a relação entre eles. Os momentos finais guardam os diversos pedidos de perdão de Helena: a João Victor, Quinzinho e Plínio. E também os casamentos de Caê e Débora, Quinzinho e Lúcia, e João Victor e Mira, que dá a luz a gêmeos.

A trama principal, embora ótima, não condizia com o título. Baila Comigo se justificava pela presença da academia de ginástica e dança, sintetizada pela figura de Joana Lobato (Betty Faria). Ao longo da narrativa, a professora se envolvia com Caio, João Victor e Quim. Mesmo estando em meio aos principais personagens, sua trama não se desenvolveu a contento. O doutor Saulo também ficou a mercê da principal estória da novela. Reginaldo Faria, intérprete do médico, chegava a abrir os créditos de novela (o que incomodara o ator, uma vez que o protagonista era Tony Ramos). Ainda assim, seu personagem não cresceu, como parecia que ia crescer, a princípio. Entretanto, era interessante acompanhar sua relação de amor e ódio com a ex-namorada Dolores (Arlete Salles), que já havia vivido um casamento desestruturado, e seu namoro com Lia, irmã de Quinzinho.

Manoel Carlos já havia figurado no horário nobre como colaborador de Gilberto Braga, em Água Viva. Baila Comigo, aliás, tem muito de Água Viva e também de Dancin’ Days, ambas já exibidas no Viva. As cenas são longas, a psicologia dos personagens muito bem definida, e os diálogos extensos. Nada da dramaturgia rasa e veloz que temos hoje, onde os personagens se moldam ao sabor das conveniências do roteiro. Em Baila Comigo, não há quem não haja com coerência, possibilitando ao público entender e perdoar certas atitudes (em especial, as de Helena). Uma novela deliciosa, com Manoel Carlos em sua melhor forma e com todos os seus corriqueiros personagens (até mesmo a empregada intrometida; aqui, Conceição (Maria Alves)). Sabemos que o público do Viva é apaixonado pelas novelas do autor. Fica a dica...


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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014


As “novas” novelas
Uma análise de O Dono do Mundo e Tropicaliente, últimas estreias do Viva.

Entre o final de outubro e o começo de novembro estrearam as novas novelas do Canal Viva: O Dono do Mundo, à 00h00, e Tropicaliente, 15h30. Ambas com a árdua missão de manter os números e a repercussão de suas antecessoras; respectivamente, Dancin’ Days e História de Amor. Passada a ressaca das novelas anteriores, e com ambas as tramas atingindo um mês de exibição, já é tempo de fazer uma análise mais detalhada do que O Dono do Mundo e Tropicaliente nos oferece, em termos de trama, elenco e produção.

A reprise de O Dono do Mundo nos permite elucidar os motivos que levaram à rejeição da trama. Márcia (Malu Mader) se entregar a Felipe (Antonio Fagundes), apenas três ou quatro dias após conhecê-lo, soou pouco convincente. É claro que Felipe usou de toda a sua dissimulação para conduzir o jogo de forma que ele saísse vitorioso, e que Walter (Tadeu Aguiar) menosprezou as vontades da mulher, privilegiando o trabalho. O que incomodou, e bastante, foi ver Márcia, mesmo desamparada por Felipe após a morte de Walter, continuar se iludindo, a ponto de tornar a se encontrar com ele e insistir em acreditar em suas mentiras, mesmo com dezenas de evidências apontando para o caráter sórdido do cirurgião. É difícil ver uma pessoa se rastejando por alguém que não a quer, quando na verdade deveria estar sofrendo pela culpa de ter causado a morte de um noivo tão bonzinho, seguindo um pensamento simplista, comumente adotado pelo telespectador médio. Mais: Gilberto Braga pretendia, com a novela, criticar as elites. Mas a trama foi construída de tal forma que a tal “elite” soa muito mais inteligente do que os pobretões que engana. E não são poucos os enganadores e enganados! Além de Márcia seduzida por Felipe, tivemos Xará (Jorge Pontual) caindo na lábia de Constância (Nathália Timberg) e Taís (Letícia Sabatella) sendo conduzida por Olga (Fernanda Montenegro), quase sem notar, ao caminho da prostituição de luxo.

O perfil realista dos personagens, se agride por um lado, por outro traz desempenhos brilhantes do elenco competentíssimo de O Dono do Mundo. Fernanda Montenegro está soberba como Olga, sempre distribuindo tiradas politicamente incorretas; Nathália Timberg deita e rola com Constância, muito bem amparada pelo apagado Altair, de Paulo Goulart; e Maria Padilha já nos faz detestar sua Karen. Cabe destacar também Stenio Garcia (Herculano) e Cláudio Corrêa e Castro (Vicente). O trio de protagonistas (Antonio Fagundes, Glória Pires e Malu Mader) também defende com primazia os seus personagens. E quanto talento vemos em Daniela Perez, a Yara. A cada cena dela, sentimos um aperto no peito. Triste...

Outra estreante de O Dono do Mundo, Letícia Sabatella, também se sai muito bem como Taís. Seu parceiro de cena, Ângelo Antônio, o Beija-Flor, está correto, mas o personagem não vai além das discussões sobre honestidade, o que o torna chato. No geral, os casais da novela não agradam. Impossível torcer por Felipe e Márcia, como a sinopse original previva, difícil querer a obstinada Taís com o apagado Beija-Flor, e desestimulante ver Stella (Glória Pires) se sacrificando para salvar o depressivo Rodolfo (Kadu Moliterno). Cenários e figurinos são arrasadores! Enquanto a classe alta exibe apartamentos belíssimos, o pessoal do subúrbio se abriga em casas concebidas com muita veracidade, diferente dos tempos atuais, em que casa de pobre em novela é entulhada de elementos vendidos à exaustão pela Globo Marcas.

Para concluir os comentários sobre a novela de Gilberto Braga, tem valido a pena ver O Dono do Mundo. Buscar entender os erros, a reação do público de 1991, e acompanhar as mudanças realizadas no roteiro para que a audiência voltasse aos trilhos pré-estabelecidos. A tal comentada cena da virada, em que Márcia fere Felipe com um bisturi, trouxe novos ares para a novela. Já estou roendo as unhas à espera do Felipe pobretão!

Tropicaliente não sopra forte como os ventos de Fortaleza. A novela de Walther Negrão é impregnada com o estilo do Ceará. Não só pelas paradisíacas locações, mas também pelos cenários e figurinos. Todos abusam dos tons claros, de vidros, madeiras, flores naturais. A concepção de Helena Brício (figurinos), Mário Monteiro (cenografia) e Tisa de Oliveira (produção de arte), dentre outros nomes, foi impecável. O colorido encantador, no entanto, se dissipa diante do desenvolvimento lento do roteiro. As cenas de dança na aldeia já irritam (e nós já sabemos que ainda serão vistas à exaustão). Mas se as coisas demoram a acontecer, ao menos acontecem com um texto muito bem elaborado por Walther Negrão. É como o ritmo de História de Amor, cujas tramas demoravam a se finalizar, mas permaneciam interessantes em virtude do texto de Manoel Carlos.

História de Amor, no entanto, além da trama romântica central bem elaborada, trazia diversas tramas paralelas que garantiram o gás necessário aos mais de duzentos capítulos da novela. O mesmo não se pode dizer de Tropicaliente. O fio condutor é bastante frágil e não evolui a contento. A paixão de Letícia (Sílvia Pfeifer) e Ramiro (Herson Capri), que deveria ser a principal trama da novela, é ofuscada pelo entrelaçamento dos personagens paralelos, com destaque para Açucena (Carolina Dieckmann, com uma imagem bastante diferente da que vemos hoje) e Vitor (Selton Mello). O psicológico fragilizado do rapaz é o grande destaque do texto de Negrão e da interpretação de Selton; de longe, o melhor desempenho do elenco. Ainda vamos ver muitas loucuras de Vitor, obcecado pelo poder e pela conquista.

O elenco, no geral, é interessante. Como é gostoso ver Carla Marins como Dalila, tão distante da Joyce de História de Amor; o mesmo para Ana Rosa, aqui como Ester, e Stenio Garcia, cujo Samuel nada lembra o Herculano da novela da meia-noite. Lúcia Alves (Isabel), Cinira Camargo (Manoela), Nelson Dantas (Bujarrona) e os protagonistas Sílvia Pfeifer e Herson Capri se destacam. Ao lado de Selton Mello, a ótima Paloma Duarte dá o tom perfeito à sua ainda menina e já obstinada mulher Amanda. Quem também merece menção honrosa é Cássio Gabus Mendes, que consegue se safar bem do perfil excessivamente chato de Franchico. E Regina Dourado está fantástica como Serena. Já de cara a torcida para que ela consiga manter-se ao lado de Ramiro é muito maior do que a que quer o pescador com Letícia.

Tropicaliente não precisa ser acompanhada com afinco. Muitos capítulos irão passar sem que nada de realmente importante para o desenvolvimento da trama aconteça. Os imbróglios entre Letícia, Ramiro e seus familiares norteiam a novela até o fim, e chegam a ficar cansativos, tamanho é vai-e-vem envolvendo os personagens. Uma boa novela, que, entretanto, não figura entre as melhores do autor, nem entre as mais interessantes das que já foram exibidas pelo Viva.