sexta-feira, 3 de outubro de 2014


Não sai de mim não, encosto!
Série do Viva traz sacadas inteligentes e competência do elenco principal

Uma família endividada passa a dividir o mesmo teto. A partir desta story-line, podemos presumir muitas das situações que os membros do clã irão vivenciar. O mesmo acontece com Meu Amigo Encosto. Um rapaz desajustado descobre que os males de sua vida são causados por um espírito zombeteiro. Dá pra esperar muitas situações inconvenientes, em que o jovem, tentando se esquivar da influência do encosto em questão, acaba passando por louco ou coisa parecida. No entanto, mesmo sabendo que o tema é "batido", a série que estreou no último dia 24 não deve passar batida pelo público do canal.

Essas comédias de costumes, como a produção inédita e o Sai de Baixo (da story-line citada acima) atraem não pelo ineditismo de seus temas, mas pela forma como eles serão contados. E Meu Amigo Encosto conta suas histórias muito bem! O roteiro de Fausto Noro, Thiago Luciano e Tony Góes traz boas sacadas, principalmente em diálogos mais curtos, como o de Ivan (George Sauma) e Rosimary (Amanda Ritcher), em um bar, no final do segundo episódio. Influenciado por Janjão (Danilo de Moura), o dono da Rita Fantasias diz, em alto e bom som, que não vai “comer” sua funcionária; ela, decepcionada, exclama “não” com veemência! Contando não tem a mesma graça; mas no ar, me fez chamar a atenção para o que Meu Amigo Encosto oferece de melhor: o trio presente na cena que descrevi (Amanda Ritcher, Danilo de Moura e George Sauma).

O grande destaque, sem sombra de dúvida, é a dupla protagonista Janjão e Ivan. Tanto George Sauma, quanto Danilo de Moura, estão muito à vontade em seus personagens. O Ivan de George, entre o trágico rapaz falido e o abilolado jovem perseguido por um fantasma, diverte apenas com suas expressões. Já o folgado Janjão entrete mais por conta das formas como despeja suas falas. O tom malandro que impõe aos diálogos confere ainda mais graça à sua caracterização, com camisas estilizadas e a porção final da barriga sempre saltando pra fora da calça. Rosimary vem agregar ao encosto e ao encostado. Seu ar de sofredora aumenta conforme a fantasia que usa para promover a loja em que trabalha. Quando se despe de qualquer alegoria, no entanto, Rosimary irradia felicidade (principalmente ao lado de Ivan). A mudança é visível nas expressões e no gestual da atriz, que realça, com primor, as intenções do texto.

O mesmo não se pode dizer de Cadu Fávero (Dr. Clint) e Fani Pacheco (Neiva). O primeiro soa exagerado no destempero do “encostologista” que usa métodos modernos (e eis aqui uma grande, e honrosa, novidade em roteiros do gênero, como o bode virtual em um tablet). Já Fani Pacheco ainda carrega consigo o estigma de ex-BBB, presente também na personagem, e, talvez por isto, não parece segura em suas cenas. Ainda lhe falta familiaridade com a dramaturgia.

No mais, Meu Amigo Encosto é uma ótima opção. Talvez o público do Viva, afeito ao humor político de Viva o Gordo ou ao “inteligente” de Os Normais, não tenha ainda se atentado para o puro e simples entretenimento proposto pela série. Vale a pena conferir!


Para encerrar, uma dúvida: por que sobrepor sinais sonoros às falas que contém palavrões? A TV fechada dispõe de uma liberdade que a aberta não desfruta há tempos (primeiro, com a ditadura; hoje, com a classificação indicativa atrelada a horários). As falas de Janjão não são tão ou mais ofensivas do que muitos filmes vistos no Telecine ou vídeos na internet, por exemplo.

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