ESPECIAL
Dois nomes ajudaram a fazer de Despedida de Solteiro o grande sucesso
que a novela foi. O primeiro, um jovem loiro, de cabelos longos, que em 18 capítulos
levou às adolescentes da época ao delírio, e se tornou uma das marcas
registradas da trama. O segundo, o grande capitão, aquele que esteve no comando
desta “embarcação” tão complicada de ser conduzida, cuidando da produção e dando
o tom correto ao texto de Walter Negrão. João Vitti e Reynaldo Boury
participam, hoje, do especial sobre as novelas que disputam a vaga de
substituta de História de Amor. Mais curiosidades sobre Despedida de Solteiro e
sobre estes dois nomes da teledramaturgia brasileira você confere nas
entrevistas abaixo.
Reynaldo
Boury
Na galeria dos grandes nomes da teledramaturgia
brasileira, Reynaldo Boury merece lugar de destaque. De auxiliar de câmera,
passou a editor, até assumir, como diretor, a novela A Moça que Veio de Longe, na Excelsior (1964). Migrou para a TV
Globo em 1970 e lá esteve à frente de grandes sucessos, como Selva de Pedra, a primeira versão de Sinhá Moça e Tieta. Até se deparar com uma nova missão: implantar, em tempo
recorde, a novela das 18h que substituiria Felicidade. No comando de Despedida de Solteiro, Boury, mais uma
vez, viu o sucesso bater à sua porta. Após um período no núcleo de
teledramaturgia da TV Pública de Angola, migrou para o SBT, sendo hoje o
responsável pela exitosa Chiquititas.
Na manhã deste domingo, Boury, muito gentil e extremamente atencioso, respondeu
a diversas perguntas sobre a novela de Walter Negrão e seus trabalhos atuais. Confira!
***
- O senhor já “apagou incêndios” na TV
Globo, como quando assumiu a direção do remake de Irmãos Coragem, já no segundo terço da trama. Podemos dizer que Despedida de Solteiro se deu após um
“princípio de incêndio”: o cancelamento do remake de Mulheres de Areia, em virtude da gravidez da protagonista, Glória
Pires. Como foi implantar Despedida de
Solteiro, praticamente às pressas? Quais as suas recordações das primeiras
reuniões, escalação de elenco, pré-produção e primeiras gravações? Sentiu-se
satisfeito com o resultado final da novela?
Realmente,
a Glória Pires faria as gêmeas, mas, por estar grávida a Globo abandonou o
projeto e fomos requisitados para a Despedida
de Solteiro. Nada muito complicado, pois estávamos acostumados a este procedimento.
Em Tieta, as condições foram muito
piores e deu muito certo. Aqui, a cidade cenográfica já estava praticamente
pronta. Foi só adereçar os cenários para uma cidade do interior, pois Mulheres de Areia seria no litoral. Nada
muito difícil em transformar uma peixaria em uma oficina mecânica. E o resultado
da novela foi bom, pois alcançou a meta que a Globo desejava.
- Atualmente, em Chiquititas, além de um elenco de crianças e novatos, o senhor tem o
jovem Ricardo Mantoanelli em sua equipe de diretores. Em Despedida de Solteiro, o ator Cláudio Cavalcanti e Carlos Manga
Júnior, dois profissionais pouco requisitados para essas funções, eram seus
parceiros na direção. E também tínhamos crianças (Fernanda Nobre e Patrick de
Oliveira) e novatos (como Helena Ranaldi, João Vitti, Letícia Spiller e Rita
Guedes). Qual a importância do “sangue novo” para a dramaturgia, tanto em
frente, como atrás das câmeras? Como o senhor garimpou tantos bons nomes para Despedida de Solteiro?
Excelente
elenco a Globo sempre tinha. Também foi fácil selecionar. Algumas novidades
surgiram: Rita Guedes, João Vitti, Helena Ranaldi (vinda da Manchete) Letícia Spiller;
todos com talento. Lembro muito bem que a Helena Ranaldi, tinha que dirigir um
caminhão. Já viu, né? Boa coisa não podia sair. Rita Guedes vinha do interior,
e falava um pouco “caipirez”. Mas ambas se saíram muito bem. Foi
fácil administrar. A Fernanda Nobre foi uma “cria” nossa. Menina esbanjava
talento. Então foi só ir administrando. Deu certo. Com os dois diretores também aconteceu o mesmo. Carlos Manga Júnior
também se revelou. Pena que não seguiu na dramaturgia; preferiu dirigir
comercial, bem mais rentável. Claudio Cavalcanti foi meu parceiro em outros
trabalhos. Grande talento da televisão brasileira. Ricardo Mantoanelli está
começando na dramaturgia e se saindo muito bem. A Patrulha Salvadora foi uma dificuldade que ele resolveu com
maestria. Tem futuro. E garimpar talentos sempre foi o nosso objetivo. Com Carrossel e agora, com Chiquititas, isso está sendo realizado.
- Como tem sido seu trabalho à frente
do núcleo de dramaturgia do SBT? A aposta no segmento infantil prosseguirá? E a
qual linha se dedicará o segundo horário de novelas da emissora?
O
SBT precisa manter este filão infantil. Precisamos sempre seguir a faixa etária
dos 05 aos 10 anos. Renovando sempre, pois as idades vão subindo e é necessário
manter as crianças com uma novela saudável, familiar, onde todos possam
assistir sem constrangimentos: avós, pais, filhos e netos. Novelas realizadas
por uma família, para as famílias curtirem. O segundo horário de novelas, com
certeza, surgirá na hora oportuna. O Silvio Santos é um mestre e não deixará
esta oportunidade passar.
João
Vitti
Não há quem ouça falar de Despedida de
Solteiro e não se recorde, imediatamente, do Xampu. O jovem de longos cabelos
loiros, que estreava na TV naquele junho de 1992, teve uma passagem meteórica
pela novela, mas que se tornou fundamental para o desenvolvimento de uma das
tramas paralelas, a de Bianca (Rita Guedes, que também estreava). João Vitti se
tornaria conhecido em todo o país. Despedida
de Solteiro seria o primeiro passo para uma carreira de sucesso que inclui,
dentre outros, o Lúcio, de Éramos Seis,
o jornalista Serafim, de O Cravo e a Rosa,
o Jorge Luiz, de O Direito de Nascer,
o Paulo, de Essas Mulheres, e o
Joabe, de Rei Davi (para citar,
apenas, meus trabalhos preferidos do ator). Cotado para o elenco de Os Dez Mandamentos,
próxima novela da Record, João arrumou um tempinho para conceder, via Facebook,
seu depoimento sobre Despedida de
Solteiro para o nosso blog.
***
- Em uma recente entrevista ao jornal
Extra, você declarou, a respeito da escalação de seu filho, Rafael Vitti, para
a nova temporada de Malhação: “Sinto
Rafael mais maduro aos 18 do que eu quando estreei, aos 25”. Acredita que hoje
a TV está mais estruturada para amparar novos talentos? Como se deu sua estreia
na novela e como vê o trabalho de seu filho, ao lado de Felipe Camargo, seu
companheiro de elenco em Despedida?
Atualmente
se tem um cuidado maior com a preparação do ator (seja ele estreante ou
veterano) para uma obra na televisão. Há um preparo anterior com uma série de
workshops que permitem ao ator iniciar seu trabalho com mais segurança e
conhecimento sobre o personagem que irá interpretar. Por exemplo: o Rafael teve
um mês de preparo com seus colegas de elenco da Malhação. Tiveram aulas de fono, expressão corporal, interpretação,
música e até diálogos com psicólogo para entenderem o universo em que iriam
trabalhar e lidar com tranquilidade com todos os aspectos que envolvem uma
exposição de imagem na Globo. Eu, como espectador, quando assisto a Malhação, percebo o resultado desse
preparo no trabalho de cada um desses meninos e meninas estreantes. Isso é
maravilhoso e significa que a empresa está muito atenta ao aspecto humano do
nosso ofício. Comigo, foi no susto. Me ligaram numa segunda-feira em São Paulo
e na quinta da mesma semana eu vim para o Rio e já comecei a gravar no dia
seguinte. Foi uma loucura. rsrs... E quando o Rafael me disse que o Felipe
seria seu pai na trama, eu fiquei muito feliz e tranquilo. Uma feliz
coincidência.
- Xampu, seu personagem em Despedida de Solteiro, integrava o
núcleo principal da novela. Você contracenou, ainda que por pouco tempo, com
grandes nomes, como Lúcia Veríssimo, Lolita Rodrigues, Paulo Gorgulho, Elias
Gleiser, Felipe Camargo, Mauro Mendonça e Ana Rosa. Como era a convivência com
tantos talentos nos bastidores? Quais suas cenas preferidas como Xampu?
Poxa,
trabalhar com veteranos como os que você citou, foi maravilhoso, um grande
aprendizado e ao mesmo tempo me trazia um senso de responsabilidade muito
grande. Não posso deixar de citar o mestre Reynaldo Boury, diretor da novela,
que me acolheu como um filho. Sou eternamente grato a ele por esse cuidado
comigo. Gosto muito das sequências que o personagem Xampu é preso numa
penitenciária. Gravamos durante uma semana no Carandiru e aquela vivência me
marcou para o resto da vida.
- Por que João Vitti gostaria que o
público votasse em Despedida de Solteiro
para ser reprisada no Canal Viva? Quais os bons motivos que o público terá para
ver, ou rever, a trama?
Adoro
quando reprisam um trabalho meu. Sou mais benevolente comigo nas reprises. rsrs...
Despedida de Solteiro é meu início na
TV e seria bacana para as moças entre 30 e 40 anos hoje, reverem o Xampu, que naquela
época era uma febre.
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