terça-feira, 30 de setembro de 2014



Nem só de novelas vive o Viva. Programas de humor e atrações musicais comumente ocupam lugar de destaque na grade do canal e tem suma importância para o seu desempenho na audiência. A produção dos novos episódios do Sai de Baixo, por exemplo, ocorreram após o sucesso da reprise do dominical. O mesmo vale agora para o Globo de Ouro Palco Viva, que estreia em novembro.

A TV Globo, além do seu vasto acervo dramatúrgico, possui inúmeros programas voltados para o entretenimento. Por que não dispor cada vez mais deste conteúdo no Canal Viva? Por que não deixar de lado os importados, e exaustivamente reprisados, Obsessivos Compulsivos e SOS Babá (para ficar apenas nestes dois exemplos), e investir em produtos nacionais, já exibidos pela Globo com grande repercussão e que serão, certamente, alvos certeiros da audiência no Viva?


É para apontar possibilidades ao canal que criamos O Viva Que Eu Quero Ver, seção que estreia agora aqui no blog. E, para dar início a esta coluna, voltamos aos anos 90 e trazemos para vocês leitores uma das atrações de maior apelo na época, pela inovação que propunha e o burburinho que causou: Você Decide!


Vale a pena decidir de novo
Reprise do Você Decide merece espaço no Viva

“Vale a pena ver de novo, ligar de novo e decidir de novo”. As irritantes chamadas que promoviam a volta do Você Decide ao ar, substituindo as novelas do Vale a Pena Ver de Novo, ainda estão vivas na memória do público que torceu o nariz para a reprise da atração e a deixou com o estigma de fracasso. Ledo engano. Exibido à tarde, sim, podemos dizer que o Você Decide fracassou. Mas enquanto esteve no ar no horário nobre, apesar da queda de audiência ao longo dos anos, o programa passeou tranquilamente pelo caminho do sucesso.

A queda de audiência citada, é importante ressaltar, fora totalmente proporcional ao declínio de qualidade que dominou as últimas temporadas do programa. Os episódios cômicos, que ocuparam a maior parte do período de exibição no Vale a Pena não agregaram em absolutamente nada à história da atração. Fazem parte dessa fase a série “Transas de família”, como José de Abreu e Maria Zilda, “Seria trágico se não fosse cômico”, com Betty Faria e Mário Gomes, “O doce sabor do sucesso”, com o cantor Alexandre Pires (em desempenho risível), e um, cujo título não me recordo, nem encontrei, no qual Marcello Anthony se veste de mulher para acompanhar a amante (Maria Padilha) em um retiro para mulheres. Também desta safra, os episódios que exploraram demasiadamente o erotismo, apostando inclusive na nudez de atores como Raul Gazolla (em “Vitória total e absoluta”) e Victor Fasano (em “Olha o passarinho”).

Destacam-se apenas, entre os cômicos, “Glorinha vai às compras”, que trouxe o talento de Cássia Kis Magro como a empregada doméstica que ganha um carro após fazer compras com o dinheiro dos patrões. E ainda os bons “Assim é se lhe parece”, com Fernanda Montenegro, “A mãe preta”, estrelado por Ruth de Souza (infelizmente, a menor audiência da reprise no Vale a Pena), e “A filha de Maria”, com Elizabeth Savala e Deborah Secco, exibido no Natal de 1999.

Você Decide bom, mesmo, foram os dos primeiros anos. Estes sim merecem ocupar a tela do Canal Viva. Recheados de polêmicas, o programa expôs diversos conflitos éticos e, trouxe, através do resultado de suas votações, um retrato do comportamento do povo brasileiro durante os anos 90.. Quem não se lembra de “Achados e perdidos”, episódio no qual Diogo Vilela fica com a mala de um companheiro de viagem, repleta de dólares. Entre ficar com o dinheiro, ou devolver, o público resolveu que o felizardo se aproveitaria da grana como bem entendesse. Na mesma época, o delegado que não sabia se entregava o filho criminoso à justiça (e no final, sua filha era a verdadeira bandida); a esposa que teme denunciar o assassino de um crime no motel, já que estava traindo o marido; o caso de incesto envolvendo Carlos Alberto Ricelli e Bruna Lombardi.

Os assuntos repercutiam dentro e fora do programa. Em 1993, a Polícia Militar do Rio de Janeiro conseguiu impedir a exibição de um episódio baseado na vida de Marli Pereira Viana, que, nos anos 70, provou a participação de um policial na execução de seu irmão. A própria Marli tentou barrar a exibição do episódio, “Sob o domínio do medo” (que acabou engavetado), para evitar a exposição de seu nome e uma possível deturpação dos fatos. No primeiro ano do programa, durante entrevista de Patrícia França com populares em Vitória (ES), nos famosos telões espalhados por cidades brasileiras, a Globo foi surpreendida com o testemunho de uma telespectadora que dizia ter sido coagida sexualmente ao realizar uma entrevista de emprego na Fundação Roberto Marinho, tal e qual ocorria no episódio daquela noite, “A cantada”, estrelado por Luiza Tomé. A veracidade dos temas, naquele momento, incomodava até mesmo a detentora do formato.

No caso de uma reprise no Canal Viva, certamente, os episódios “clássicos” da atração deveriam ser os primeiros a voltar. Há, claro, espaço para os mais recentes, desde que sejam bons. Haveria também a necessidade de se decidir a respeito do conteúdo da reprise: a apresentação, os telões e o resultado das votações seriam mantidos ou apenas a dramaturgia poderia ser levada ao ar? Neste segundo caso, poderiam optar por uma nova votação, talvez via internet, ou quem sabe, pela exibição dos dois finais (durante determinado período, três). E qual seria o melhor horário para a reprise do programa? Acredito que aos domingos, entre o Globo de Ouro e o Planeta Xuxa, seria o ideal. Essa faixa horário ficaria ainda mais turbinada!


Vale lembrar que a TV Globo pretende, segundo notas publicadas recentemente, retomar o Você Decide em 2015, o que inviabilizaria uma possível reprise no Viva. Caso isso não aconteça, no entanto, por que não “ver de novo, ligar de novo e decidir de novo”?

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