segunda-feira, 15 de setembro de 2014

ESPECIAL

Dois nomes ajudaram a fazer de Despedida de Solteiro o grande sucesso que a novela foi. O primeiro, um jovem loiro, de cabelos longos, que em 18 capítulos levou às adolescentes da época ao delírio, e se tornou uma das marcas registradas da trama. O segundo, o grande capitão, aquele que esteve no comando desta “embarcação” tão complicada de ser conduzida, cuidando da produção e dando o tom correto ao texto de Walter Negrão. João Vitti e Reynaldo Boury participam, hoje, do especial sobre as novelas que disputam a vaga de substituta de História de Amor. Mais curiosidades sobre Despedida de Solteiro e sobre estes dois nomes da teledramaturgia brasileira você confere nas entrevistas abaixo.
Reynaldo Boury

Na galeria dos grandes nomes da teledramaturgia brasileira, Reynaldo Boury merece lugar de destaque. De auxiliar de câmera, passou a editor, até assumir, como diretor, a novela A Moça que Veio de Longe, na Excelsior (1964). Migrou para a TV Globo em 1970 e lá esteve à frente de grandes sucessos, como Selva de Pedra, a primeira versão de Sinhá Moça e Tieta. Até se deparar com uma nova missão: implantar, em tempo recorde, a novela das 18h que substituiria Felicidade. No comando de Despedida de Solteiro, Boury, mais uma vez, viu o sucesso bater à sua porta. Após um período no núcleo de teledramaturgia da TV Pública de Angola, migrou para o SBT, sendo hoje o responsável pela exitosa Chiquititas. Na manhã deste domingo, Boury, muito gentil e extremamente atencioso, respondeu a diversas perguntas sobre a novela de Walter Negrão e seus trabalhos atuais. Confira!

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- O senhor já “apagou incêndios” na TV Globo, como quando assumiu a direção do remake de Irmãos Coragem, já no segundo terço da trama. Podemos dizer que Despedida de Solteiro se deu após um “princípio de incêndio”: o cancelamento do remake de Mulheres de Areia, em virtude da gravidez da protagonista, Glória Pires. Como foi implantar Despedida de Solteiro, praticamente às pressas? Quais as suas recordações das primeiras reuniões, escalação de elenco, pré-produção e primeiras gravações? Sentiu-se satisfeito com o resultado final da novela?

Realmente, a Glória Pires faria as gêmeas, mas, por estar grávida a Globo abandonou o projeto e fomos requisitados para a Despedida de Solteiro. Nada muito complicado, pois estávamos acostumados a este procedimento. Em Tieta, as condições foram muito piores e deu muito certo. Aqui, a cidade cenográfica já estava praticamente pronta. Foi só adereçar os cenários para uma cidade do interior, pois Mulheres de Areia seria no litoral. Nada muito difícil em transformar uma peixaria em uma oficina mecânica. E o resultado da novela foi bom, pois alcançou a meta que a Globo desejava.


- Atualmente, em Chiquititas, além de um elenco de crianças e novatos, o senhor tem o jovem Ricardo Mantoanelli em sua equipe de diretores. Em Despedida de Solteiro, o ator Cláudio Cavalcanti e Carlos Manga Júnior, dois profissionais pouco requisitados para essas funções, eram seus parceiros na direção. E também tínhamos crianças (Fernanda Nobre e Patrick de Oliveira) e novatos (como Helena Ranaldi, João Vitti, Letícia Spiller e Rita Guedes). Qual a importância do “sangue novo” para a dramaturgia, tanto em frente, como atrás das câmeras? Como o senhor garimpou tantos bons nomes para Despedida de Solteiro?

Excelente elenco a Globo sempre tinha. Também foi fácil selecionar. Algumas novidades surgiram: Rita Guedes, João Vitti, Helena Ranaldi (vinda da Manchete) Letícia Spiller; todos com talento. Lembro muito bem que a Helena Ranaldi, tinha que dirigir um caminhão. Já viu, né? Boa coisa não podia sair. Rita Guedes vinha do interior, e falava um pouco “caipirez”. Mas ambas se saíram muito bem. Foi fácil administrar. A Fernanda Nobre foi uma “cria” nossa. Menina esbanjava talento. Então foi só ir administrando. Deu certo. Com os dois diretores também aconteceu o mesmo. Carlos Manga Júnior também se revelou. Pena que não seguiu na dramaturgia; preferiu dirigir comercial, bem mais rentável. Claudio Cavalcanti foi meu parceiro em outros trabalhos. Grande talento da televisão brasileira. Ricardo Mantoanelli está começando na dramaturgia e se saindo muito bem. A Patrulha Salvadora foi uma dificuldade que ele resolveu com maestria. Tem futuro. E garimpar talentos sempre foi o nosso objetivo. Com Carrossel e agora, com Chiquititas, isso está sendo realizado.


- Como tem sido seu trabalho à frente do núcleo de dramaturgia do SBT? A aposta no segmento infantil prosseguirá? E a qual linha se dedicará o segundo horário de novelas da emissora?

O SBT precisa manter este filão infantil. Precisamos sempre seguir a faixa etária dos 05 aos 10 anos. Renovando sempre, pois as idades vão subindo e é necessário manter as crianças com uma novela saudável, familiar, onde todos possam assistir sem constrangimentos: avós, pais, filhos e netos. Novelas realizadas por uma família, para as famílias curtirem. O segundo horário de novelas, com certeza, surgirá na hora oportuna. O Silvio Santos é um mestre e não deixará esta oportunidade passar.
João Vitti

Não há quem ouça falar de Despedida de Solteiro e não se recorde, imediatamente, do Xampu. O jovem de longos cabelos loiros, que estreava na TV naquele junho de 1992, teve uma passagem meteórica pela novela, mas que se tornou fundamental para o desenvolvimento de uma das tramas paralelas, a de Bianca (Rita Guedes, que também estreava). João Vitti se tornaria conhecido em todo o país. Despedida de Solteiro seria o primeiro passo para uma carreira de sucesso que inclui, dentre outros, o Lúcio, de Éramos Seis, o jornalista Serafim, de O Cravo e a Rosa, o Jorge Luiz, de O Direito de Nascer, o Paulo, de Essas Mulheres, e o Joabe, de Rei Davi (para citar, apenas, meus trabalhos preferidos do ator). Cotado para o elenco de Os Dez Mandamentos, próxima novela da Record, João arrumou um tempinho para conceder, via Facebook, seu depoimento sobre Despedida de Solteiro para o nosso blog.

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- Em uma recente entrevista ao jornal Extra, você declarou, a respeito da escalação de seu filho, Rafael Vitti, para a nova temporada de Malhação: “Sinto Rafael mais maduro aos 18 do que eu quando estreei, aos 25”. Acredita que hoje a TV está mais estruturada para amparar novos talentos? Como se deu sua estreia na novela e como vê o trabalho de seu filho, ao lado de Felipe Camargo, seu companheiro de elenco em Despedida?

Atualmente se tem um cuidado maior com a preparação do ator (seja ele estreante ou veterano) para uma obra na televisão. Há um preparo anterior com uma série de workshops que permitem ao ator iniciar seu trabalho com mais segurança e conhecimento sobre o personagem que irá interpretar. Por exemplo: o Rafael teve um mês de preparo com seus colegas de elenco da Malhação. Tiveram aulas de fono, expressão corporal, interpretação, música e até diálogos com psicólogo para entenderem o universo em que iriam trabalhar e lidar com tranquilidade com todos os aspectos que envolvem uma exposição de imagem na Globo. Eu, como espectador, quando assisto a Malhação, percebo o resultado desse preparo no trabalho de cada um desses meninos e meninas estreantes. Isso é maravilhoso e significa que a empresa está muito atenta ao aspecto humano do nosso ofício. Comigo, foi no susto. Me ligaram numa segunda-feira em São Paulo e na quinta da mesma semana eu vim para o Rio e já comecei a gravar no dia seguinte. Foi uma loucura. rsrs... E quando o Rafael me disse que o Felipe seria seu pai na trama, eu fiquei muito feliz e tranquilo. Uma feliz coincidência.


- Xampu, seu personagem em Despedida de Solteiro, integrava o núcleo principal da novela. Você contracenou, ainda que por pouco tempo, com grandes nomes, como Lúcia Veríssimo, Lolita Rodrigues, Paulo Gorgulho, Elias Gleiser, Felipe Camargo, Mauro Mendonça e Ana Rosa. Como era a convivência com tantos talentos nos bastidores? Quais suas cenas preferidas como Xampu?

Poxa, trabalhar com veteranos como os que você citou, foi maravilhoso, um grande aprendizado e ao mesmo tempo me trazia um senso de responsabilidade muito grande. Não posso deixar de citar o mestre Reynaldo Boury, diretor da novela, que me acolheu como um filho. Sou eternamente grato a ele por esse cuidado comigo. Gosto muito das sequências que o personagem Xampu é preso numa penitenciária. Gravamos durante uma semana no Carandiru e aquela vivência me marcou para o resto da vida.


- Por que João Vitti gostaria que o público votasse em Despedida de Solteiro para ser reprisada no Canal Viva? Quais os bons motivos que o público terá para ver, ou rever, a trama?

Adoro quando reprisam um trabalho meu. Sou mais benevolente comigo nas reprises. rsrs... Despedida de Solteiro é meu início na TV e seria bacana para as moças entre 30 e 40 anos hoje, reverem o Xampu, que naquela época era uma febre.





Em tempo: João está excursionando por algumas capitais, até dezembro, com a peça A Dama do Mar, de Henrik Ibsen (numa versão de Maurício Arruda Mendonça, dirigida por Paulo de Moraes). Em janeiro, estará em cartaz em São Paulo. E em novembro, poderá ser visto no longa O Lucro Acima da Vida.

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