segunda-feira, 15 de setembro de 2014

ESPECIAL

Tropicaliente parece, ao menos nas redes sociais, ser carta fora do baralho na enquete que irá decidir a próxima novela das 15h30. Concordo que, dentre as três concorrentes, esta seja a que menos apelo possui. Mas ainda assim, tem seu charme e merece voltar ao ar. Exibida em 1994, às 18h, Tropicaliente causava boa impressão com suas imagens do paradisíaco Ceará. Nem só de praia, no entanto, se fez a novela. Um bom elenco, encabeçado por Herson Capri, Sílvia Pfeifer e Regina Dourado; histórias que poderiam ser resumidas em duas linhas, mas que Walther Negrão, soube, habilmente, desenvolver; gratas revelações, como Carolina Dieckmann; e um vilãozinho de aterrorizar, Vitor Velásquez (Selton Mello). Figuras simpáticas como a de Franchico (Cássio Gabus Mendes), Gaspar (Francisco Cuoco), Adrenalina (Natália Lage) e Manuela (Cinira Camargo) deram o tom dessa novela ensolarada, que, embora não tenha ido bem em seu primeiro repeteco, merece uma nova oportunidade. E para convencer você a votar em Tropicaliente, o Vivo no Viva convocou nosso parceiro de longa data, Fábio Costa. É contigo, Fábio!
Fábio Costa foi, pode-se assim dizer, um dos primeiros amigos novelo-virtuais que fiz. Tão jovem quanto eu e tão interessado em novelas quanto eu, Fábio era tratado como referência em antigas comunidades do Orkut. Foi lá que nasceu nossa amizade, em uma conversa sobre a icônica Roda de Fogo, de Lauro César Muniz. E, coincidentemente hoje, Fábio estará à frente, representando a Editora Giostri, do lançamento do box “Obras completas de Lauro César Muniz”, que leva ao público os 16 textos teatrais que constituem a obra do autor. Apesar do compromisso com sua atividade profissional, Fábio encontrou tempo e atendeu ao pedido do blog: defender a zebra Tropicaliente aqui no #Team. Obrigado, Fábio, e sucesso, sempre!

#TeamTropicaliente
por Fábio Costa

Dentre as três novelas que concorrem à vaga atualmente ocupada por História de Amor nas reprises do canal Viva, Tropicaliente, de Walther Negrão, é a mais recente (foi ao ar em 1994) e, talvez, a menos desejada por boa parcela do público que rejeitou (em duas ocasiões) a reapresentação do remake de Pecado Capital (1998/99) e prefere produções mais antigas e marcantes.

Escrita pelo mesmo autor de Despedida de Solteiro (1992/93), que também concorre, e sem qualquer pretensão revolucionária tal qual sua “irmã”, Tropicaliente foi uma grande vitrine das belezas naturais do Ceará, cenário para o romance entre Ramiro Suarez (Herson Capri), um humilde pescador, e Letícia Velásquez (Sílvia Pfeifer), requintada, culta, de família rica, filha do empresário Gaspar Velásquez (Francisco Cuoco).

Os dois não puderam se casar e cada um foi para o seu lado, embora o sentimento não tenha deixado de existir. Letícia se casou com Jordí (Jonas Bloch), pai de seus filhos Vítor (Selton Mello), típico rebelde sem causa, e Amanda (Paloma Duarte). Ramiro se uniu a Serena (Regina Dourado) e com ela teve Cassiano (Márcio Garcia) e Açucena (Carolina Dieckmann).

Letícia volta a Fortaleza depois de anos afastada, viúva, e reencontra Ramiro. Isso prejudica as intenções do arquiteto François (Victor Fasano), que pretende se casar com ela. Ainda, as duas famílias se entrelaçam também graças ao romance que surge entre Vítor e Açucena. Vítor é um rapaz perturbado, afetado pela ausência do pai, por cuja morte acusa Letícia.

Cassiano, o filho mais velho de Ramiro e Serena, namora Dalila (Carla Marins), a bela filha de Samuel (Stenio Garcia) e Ester (Ana Rosa). Samuel é grande amigo de Ramiro e seu companheiro nas lutas pelos direitos dos pescadores da aldeia em que moram. Tem com Ester um filho, Davi (Delano Avelar), que trabalha na empresa dos Velásquez e tem vergonha de sua origem pobre. Em seu desejo de ascender socialmente ele fica noivo de Olívia (Leila Lopes), filha de Bonfim (Edney Giovenazzi), amigo de Gaspar, e Isabel (Lúcia Alves), típica perua, de bom coração e tiradas ótimas sobre tudo e todos.

Em meio a esses personagens encontramos uma das melhores figuras da história: Franchico (Cássio Gabus Mendes), um rapaz meio malandro, espertalhão, que não sabe bem de onde veio nem o que pretende, e se infiltra entre ricos e pobres. É ele, por exemplo, que ajuda François em seu romance com Letícia, bem como se aproxima de Gaspar para encontrar um jeito de vencer na vida sem fazer força.

Produzida num momento em que a dramaturgia global buscava outros cenários para suas tramas além do eixo Rio-São Paulo – Sonho Meu (1993/94), de Marcílio Moraes e Lauro César Muniz, sucesso que a antecedeu no horário, se passava em Curitiba –, Tropicaliente incentivou o turismo no Ceará a ponto de lotar os hotéis durante os chamados meses de baixa temporada.

Em especial, é compreensível que muitos telespectadores que desejem rever Tropicaliente pensem assim por ser esta uma novela que evoca a infância da geração que hoje gira em torno dos 30 anos. As novelas das seis marcam a memória afetiva porque em geral eram as que assistíamos ao chegar da escola ou das brincadeiras na rua com os amigos, têm um gosto de infância, e esta é uma época na qual em geral não temos o senso crítico que se apura com a idade. É meu caso pessoal, por exemplo; na época da novela eu contava apenas sete anos.

Acho que “vale a pena ver de novo” Tropicaliente – para aproveitar o nome da sessão de reprises da “mãe” do Viva – para apreciar o ótimo trabalho de Regina Dourado como Serena, protagonista da história ao lado de Herson Capri e Sílvia Pfeifer; a beleza desta, que melhorou como atriz a cada trabalho; o Franchico de Cássio Gabus Mendes e sua irmã Adrenalina (Natália Lage), em sua amizade com o filho de Bonfim e Isabel, Pessoa (Guga Coelho), embalados por Chico Science & Nação Zumbi com “A Praieira”; os mistérios guardados pelo velho pescador Bujarrona (Nelson Dantas); a trama folhetinesca irresistível que envolve Davi, Dalila, Samuel e Ester; ver jovenzinhas em início de carreira as futuras Jade e Maysa (de O Clone), Giovanna Antonelli e Daniela Escobar; a participação destacada de Cleyde Blota do meio para o fim da novela; o veterano Francisco Cuoco num papel interessante, de esteio da família e dos negócios, ao mesmo tempo em que não abria mão de aproveitar a vida.

Não foi exatamente uma novela marcante, que tenha se tornado clássica. Motivos para rever Tropicaliente são buscados mais em carinho pessoal, memória afetiva mesmo, do que em justificativas calcadas na história da teledramaturgia, e seu lamentável esticamento – fase em que o casal Ramiro e Letícia resolve viver junto, numa cabana na praia – prejudicou muito o saldo final. Mas nem só de clássicos vive a teledramaturgia, assim como nem só de clássicos deve viver um canal como o Viva.

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Um comentário:

  1. Obrigado, amigo Duh! Foi um prazer e um privilégio escrever no blog sobre TROPICALIENTE, contribuir para esta votação democrática após tanta mumunha em relação ao horário. É uma novela despretensiosa e sem qualquer novidade, mas que tem também seus apetrechos. E, para os que desaprovam sua escolha, PECADO CAPITAL valeria bem mais a pena. Para se pensar... rs

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