quinta-feira, 11 de setembro de 2014

ESPECIAL

Causou surpresa a presença de Lua Cheia de Amor na enquete que irá decidir a nova reprise do Canal Viva. Exibida entre dezembro de 1990 e julho de 1991, a novela chamou a atenção da audiência, mas não foi um estouro como outras produções das 19h. Os que acompanharam a trama, naquela época, lembram-se dela com saudade. Tanto pelo arrivismo de Mercedes (Isabela Garcia), como pelo recalque da maldosa Emília (Bete Mendes); pela elegância de Laís Souto Maia (Susana Vieira) ou a cleptomania de Isabela (Drica Moraes). Quem ouve falar de Lua Cheia de Amor se recorda que a novela era protagonizada por Marília Pêra, com sua Genuína Miranda, pobre de conhecimento e rica de caráter. Mas sente saudades mesmo é da translumbrante Kika Jordão (Arlete Salles), louca para adentrar “as portas douradas” da alta sociedade! É sobre todos esses destaques de Lua Cheia de Amor que falamos hoje. Para começar, uma entrevista com Ricardo Linhares, um dos autores da trama, e em seguida a opinião de um dos membros do #TeamLuaCheiaDeAmor, nosso querido amigo Wesley Vieira. Confiram!

Ricardo Linhares

Ricardo Linhares iniciou sua carreira na TV Globo com o Caso Verdade. Em seguida, integrou a equipe de roteiristas do Viva o Gordo (que retorna hoje ao Canal Viva) e do Teletema, que seguia o formato do Caso Verdade. Sua estreia nas novelas da casa foi como colaborador de Aguinaldo Silva, em O Outro (1987). No ano seguinte, esteve com Walther Negrão em Fera Radical. E após Tieta, novamente com Aguinaldo Silva e também com Ana Maria Moretzsohn, passou a autor-titular com Lua Cheia de Amor, tema dessa breve entrevista. No Viva, já podemos ver seu texto em O Tempo e o Vento e Anos Rebeldes, minisséries nas quais atuou como colaborador. Envolvido atualmente com os primeiros capítulos de Babilônia, seu próximo trabalho, às 21h, Ricardo cedeu o seu tempo para nos brindar com suas lembranças de Lua Cheia de Amor. Agradecemos sua gentileza e simpatia, e deixamos vocês, leitores, com a entrevista.

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- Você declarou em entrevista ao blog Eu Prefiro Melão, em 08 de dezembro de 2012: “Infelizmente, a minha novela (Lua Cheia de Amor) não pode ser reprisada, apesar dos inúmeros pedidos dos espectadores, por uma questão jurídica envolvendo os direitos dos herdeiros de Pedro Bloch”. Essas questões foram sanadas? De que forma o Viva conseguiu a liberação para exibir a novela, caso ela seja a vencedora da enquete? Quais lembranças guarda desta sua primeira incursão às 19h?

Esse tipo de negociação não passa pelos autores da novela. Em termos jurídicos, nem sei quais diferenças existem entre uma reprise no Vale a Pena Ver de Novo e no canal Viva. Eu estou tão agradavelmente surpreso quanto os fãs da obra.

Sessão da Tarde, seu passatempo preferido na adolescência:
os jovens dos anos 90 assistiam à Lua Cheia de Amor.
Na época em que Lua Cheia de Amor foi ao ar, os adolescentes assistiam às novelas – ao contrário de hoje em dia, quando há tantas opções que a telenovela não ocupa mais uma posição de destaque entre os afazeres da garotada no dia a dia. Quando eu era jovem, por exemplo, assistir à Sessão da Tarde era um dos meus programas prediletos. Hoje, os filmes não causam mais o mesmo impacto na TV, pois estão disponíveis em diversas mídias. Lua Cheia de Amor fez muito sucesso entre os jovens de então, e acho que faz parte da memória afetiva de uma geração, hoje por volta dos 40 anos. Assistir à reprise é como uma doce volta a outros tempos. É como revisitar parentes distantes, com quem a pessoa perdeu contato, mas que continuam importantes e queridos na lembrança.


- Lua Cheia de Amor sela o início de sua parceria com Gilberto Braga, com quem você viria a colaborar, ainda em 1991, em O Dono do Mundo e, posteriormente, em inúmeros outros trabalhos juntos. Como essa amizade e a afinidade profissional de vocês se intensificou ao longo desses 24 anos que separam Lua Cheia de Amor de Babilônia, próximo trabalho de vocês, e o que podemos esperar dessa nova novela?

Com João Ximenes Braga e Gilberto Braga, seus parceiros de jornada
em Babilônia, próxima novela das 21h.
A novela me marcou de diversas maneiras. Foi um trabalho muito importante na minha parceria com Ana Maria Moretzsohn, com quem eu havia, juntamente com Aguinaldo Silva, assinado Tieta, um ano antes. Depois, nós escreveríamos juntos diversas outras histórias. Tornou-se uma parceria e uma amizade para toda a vida. E foi o primeiro, e infelizmente único até hoje, encontro profissional com a minha querida Maria Carmem Barbosa.

Lua Cheia de Amor foi uma novela escrita por três autores, com a supervisão de Gilberto Braga, livremente inspirada na peça Dona Xepa, de Pedro Bloch, e na novela homônima escrita por Gilberto. Como todo momento feliz na vida da gente, rendeu saborosos frutos, que perduram até hoje. Um deles foi o fortalecimento dos meus laços profissionais com Gilberto. Na verdade, mais ou menos nessa mesma época, eu já estava colaborando com ele na primeira versão da minissérie Anos Rebeldes, que foi interrompida e retomada posteriormente. Além de ser um dos dramaturgos mais importantes da história da TV brasileira, Gilberto virou um amigo de todas as horas, companheiro profissional de tantos anos. Novelas vão e vêm, mas a amizade permanece. E o que eu mais me orgulho da época de Lua Cheia de Amor é a minha amizade duradoura com Gilberto e Ana Maria.

Agora, eu, Gilberto e João Ximenes Braga estamos escrevendo Babilônia, que está prevista para estrear em março de 2015, após o carnaval. Com direção geral de Dennis Carvalho e Maria de Médicis. Estrelada por Glória Pires, Adriana Esteves e Camila Pitanga, a novela abordará a vida de três mulheres fortes e ambiciosas.


Susana Vieira, belíssima como Laís Souto Maia:
mais uma prova do talento da atriz.
- Por que Ricardo Linhares gostaria que o público votasse em Lua Cheia de Amor para ser reprisada no Canal Viva? Quais os bons motivos que o público terá para ver, ou rever, a trama?

São tantos motivos... Rever a translumbrante Kika Jordão (Arlete Salles), a chique Laís Souto Maia (Suzana Vieira), Marília Pera (a camelô Genuína) em estado de graça, Isabela e Maurício lindos, talentosos e novinhos... Reapresentar novelas antigas, e ainda em bom estado de conservação, como Lua Cheia de Amor, reforçam a vocação do Viva como a casa dos sonhos dos fãs da TV brasileira.
Conheci Wesley Vieira em uma das (e não me recordo qual) comunidades sobre teledramaturgia do agora praticamente extinto Orkut. Wesley reside em Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais, onde atua como editor-chefe na revista Olhaí. Sempre soube que ele era um apaixonado por teledramaturgia, mas só descobri seu apego por Lua Cheia de Amor no blog Eu Prefiro Melão, para o qual o jornalista escreveu um texto rememorando a novela. Hoje, Wesley vai em busca, novamente, de suas lembranças da novela, pra trazer ao leitor maiores informações sobre a trama e convencer os indecisos a votarem em uma de suas novelas preferidas. Obrigado, Wesley, pelo ótimo texto e por sua participação no Vivo no Viva.

#TeamLuaCheiaDeAmor
por Wesley Vieira

Por que Lua Cheia de Amor merece ganhar uma reprise no Canal Viva?
1 – Nunca foi reprisada (não clamam tanto por novelas nunca reprisadas? Taí!).
2 – É a mais antiga (se Lua Cheia de Amor vencer, vai comprovar, de fato, o que a audiência do Viva quer: novelas antigas more and more, please!).
3 – Movimentada e divertida (nada melhor do que uma respirada, após assistir a densa O Dono do Mundo e a romântica e soturna A Viagem).
4 – Tem Arlete Salles como Kika Jordão – o grande papel de sua vida. Inesquecível!
5 – Justiça seja feita, Marília Pêra, apesar do exagero, também fez uma Genuína com dignidade. Sua personagem é divertida e humana.
6 – Tem uma trilha sonora deliciosa (imagina, New Kids On The Block tocando para Susana Vieira).
7 – Aliás, Susana Vieira também esteve impecável. Sua personagem, Laís Souto Maia, era deliciosa.
8 – Tá, ok, Lua Cheia de Amor não foi um grande sucesso e nem teve uma grande repercussão (nem de longe foi um fracasso), mas se ela voltar no Viva, será uma oportunidade de fugir das obviedades que já foram reprisadas na Globo. Essa pode ser a chave para novelas como Bambolê ou O Sexo dos Anjos ganharem uma reprise. Let´s Go!
9 – Quem sabe, agora, como obra fechada, Lua Cheia de Amor não ganhe um novo olhar em sua trajetória. Porque há novelas que envelhecem bem. Há sucessos que envelhecem mal. Em qual dessas categorias, essa novela se encaixa?
10 – Isabela Garcia fazia uma mocinha bem ordinária. Vale a pena acompanhar a história de Mercedes, jovem que queria arranjar um marido rico, mas renegava um grande amor, justamente por achar que ele era pobre.

Bom, há outros motivos para listar a volta de Lua Cheia de Amor, novela que nem mesmo um dos autores, Ricardo Linhares, acreditava numa possível volta, justamente por questões de direitos autorais com a família de Pedro Bloch. Foi uma agradável surpresa tê-la nessa lista.

Genú, a dona da muamba... La La Miranda...
Apesar de Kika Jordão ter se tornado a marca dessa novela (aconteceu com várias outras tramas que também tiveram personagens secundários mais relevantes que os protagonistas), Genuína Miranda, mais conhecida como Genú, foi uma personagem divertida. “Vem chegando, minha gente, que já tá ficando quente... Compra madame, na minha barraca, panela bem útil e bem mais barata...” – bradava ela, em sua barraca. A dona Xepa, que era feirante na história original, virou Genú, a mulher que perdeu sua loja por conta dos desatinos do marido viciado em mesas de jogos. Muito honesta e batalhadora, Genú pegou a mercadoria que restou da loja e foi para rua vender panelas e outros objetos. Virou “a dona da muamba”, tal como exemplificado na divertida música-tema de abertura, “La Miranda” cantada magnificamente por Rita Lee.

Sobre a história
Genú é uma daquelas heroínas de novela bem simplória, quase sem instrução, mas muito sábia e generosa. Filha de mãe espanhola com pai brasileiro, ela foi muito maltratada pela vida e sem o apoio do marido, criou os dois filhos sozinha. Seu sonho é reencontrar Diego, que volta após 15 anos de sumiço sob a alcunha de Esteban Garcia (Francisco Cuoco). Mulherengo e amoral, Diego se envolve com várias mulheres deixando Genú cada vez mais desiludida com seu retorno. Seu filho, Rodrigo (Roberto Bataglin) namora a jovem Flávia (Renata Lavíola) e se sente na obrigação de casar com ela após a morte do sogro. No entanto, ele conhece a rica empresária Rutinha (Sylvia Bandeira) e desiste do casamento.  Mercedes (Isabela Garcia), a filha caçula, tem um pouco de vergonha do jeito pobre da mãe e a esnoba. Romântica na medida certa, seu sonho é encontrar um bom partido, mas como os corações são bastante insensatos, ela se apaixona por Augusto (Maurício Mattar) e o rejeita por achar que ele é apenas um pobre motorista de táxi que foi morar na mesma vila onde ela vive. Ledo engano. O rapaz idealista e independente é herdeiro de uma das maiores agências de publicidade do Brasil. Filho de Conrado (Cláudio Cavalcanti) e da sofisticada Laís (Susana Vieira), ele não liga para o dinheiro da família e seu sonho é montar o próprio negócio tendo suas ideias revolucionárias como característica.

A trilha sonora
Aliás, os desencontros entre Augusto e Mercedes eram pontuados pela linda “Heal The Pain” do astro George Michael. As trilhas sonoras eram recheadas de grandes sucessos dos anos 90 como “Só Você Vai Me Fazer Feliz (Can't Help Falling In Love)”, do Julio Iglesias; “Luz da Lua (Prendi La Luna)” na voz da espanhola Ana Belén, “You Gotta Love Someone”, do britânico Elton John; “I’m Free” do The Soup Dragons e a velha boy-band New Kids On The Block com “Let’s Try Again”. Lembro perfeitamente das inúmeras vezes que a propaganda da trilha internacional era veiculada e meu desejo era ter o disco da novela. Foram preciso 10 anos para conseguir o tão sonhado disco, ou melhor, o CD com as ótimas músicas.

Outros Personagens
Mas Lua Cheia de Amor também tinha outros personagens interessantes como a recalcada Emília (Bete Mendes), a “boca de aratanha” que teve um caso com Diego e vivia às turras com a vizinha Genú. Wagner (Mário Gomes) era o vilão da história e sua meta era roubar a agência de publicidade de Conrado. Além disso, ele vivia infernizando a vida da esposa Isabela (Drica Moraes), a filha cleptomaníaca de Laís. A ricaça Rutinha também foi outro destaque da história.

Então, bora votar em #LuaCheiadeAmorNoViva?

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Leia mais sobre Lua Cheia de Amor, em um texto de Guilherme Staush, no blog Memória da TV. Clique aqui!

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