O fraco desempenho de O Dono do Mundo, em seu início, tem e muito
a ver com o SBT. É evidente que a rejeição à trama colaborou para que a
audiência caísse, mas talvez a fuga de telespectadores não fosse tão intensa
senão houvesse no canal ao lado uma boa opção para o público. E por boa opção,
entenda-se, as novelas Carrossel e Rosa Selvagem, que estrearam no mesmo
dia que a concorrente global.
Ambas eram rivais de O Dono do Mundo no horário. Carrossel se iniciava às 20h, já
roubando preciosos pontos do Jornal Nacional. Às 21h, entrava no ar Rosa Selvagem. A novela infantil sempre
registrou índices maiores do que sua sucessora, que foi, em muito, impulsionada
por ela e favorecida pela crise que se abateu sobre a trama de Gilberto Braga.
O sucesso de ambas levou o SBT a investir cada vez mais nas novelas mexicanas,
levando O Dono do Mundo a bater de frente com outros três títulos: Simplesmente Maria, Quinze Anos e Ambição.
Carrossel
Produzida pela Televisa em 1989,
Carrossel se tornou um fenômeno infantil tão logo se iniciou a sua exibição no
SBT. Seus personagens eram populares, sua música-tema grudou feito chiclete, e
um sem número de artigos, incluindo LPs, fitas K7 (tive o Carrossel Dois:
Professora Helena cantando com as crianças) e álbuns de figurinhas se
reproduziram pelo mercado. A trama, exibida por aqui entre maio de 1991 e abril
de 1992, trazia como protagonista a doce professora Helena (Gabriela Rivero),
sonho de dez entre dez crianças na época. Ela administrava o conflito de seus
alunos, em especial o de Cirilo (Pedro Javier Viveros), menino pobre e negro,
apaixonado pela mimada Maria Joaquina (Ludwika Paleta). Guardo boas recordações
da novela, que acompanhei não só em 91, como nas reprises de 93 e 95. Lembro do
carrinho motorizado que Cirilo ganhava do pai, quando este acertava na loteria,
e do acidente envolvendo a mãe de Maria Joaquina. As outras crianças também
ajudaram a fazer o sucesso de Carrossel:
a gordinha Laura (Hilda Chavez), o fortão Jaime Palilo (Jorge Granilo) e a doce
Marcelina (Georgina Garcia). O SBT levou ao ar uma versão brasileira da novela,
em 2012, também com merecido sucesso.
Rosa
Selvagem
A empregada Maria (Victoria Ruffo) é
iludida pelo patrão, que a engravida e a abandona. Anos depois, a moça ascende
socialmente, o que a leva a reencontrar seu antigo amor. O argumento já era havia
inspirado uma produção da Tupi e retornava ao ar em 09 de setembro, numa versão mexicana. Entre
Carrossel e Rosa Selvagem, o SBT passou a exibir Simplesmente Maria, dando início a uma fórmula empregada até hoje
pela emissora, que visa manter o público de uma produção que se encerra (no
caso, Rosa Selvagem) para outra que está
começando. E, nessa primeira tentativa, já apresentou bons resultados. Embalada
pela novela infantil, Simplesmente Maria,
registrou em seu início, impressionantes 23 pontos. Carrossel, nesse momento, já não batia de frente com O Dono do Mundo por muito tempo, uma vez
que a grade havia sido alterada.
20h15 Carrossel
20h45 Simplesmente Maria
21h15 Rosa Selvagem
Com o término de Rosa Selvagem, Simplesmente
Maria passou a ocupar a faixa das 21h15. Mas o SBT manteve três novelas em
sua grade noturna, estreando, logo após Carrossel,
a novela juvenil Quinze Anos, que
trazia em seu elenco duas das maiores estrelas mexicanas, em início de carreira:
Adela Noriega e Thalia. A trama, que debatia os conflitos de Maricruz (Adela) e
Beatriz (Thalia), duas adolescentes precisando enfrentar a vida adulta que se
aproximava, durou pouco na tela do SBT, apesar dos bons índices, chegando ao
final em 30 de novembro.
Ambição
Uma das novelas mexicanas mais
cultuadas de todos os tempos foi a última a disputar audiência com O Dono do Mundo. Talvez você não se
lembre da estória, mas certamente irá se recordar da vilã do tapa-olho Catarina
Creel (María Rubio), reverenciada até mesmo pela teledramaturgia brasileira (em Aquele Beijo, de Miguel Falabella). A
trama policial destoava do tom lúdico de Carrossel e do dramalhão de
Simplesmente Maria. Talvez esse diferencial explique o sucesso da novela. Vale
a pena destacar aqui o anúncio do SBT para promover a estreia de Ambição, citando O Dono do Mundo.
Ambição,
a nova novela do SBT!
Já
que o Felipe ficou bonzinho e a Márcia já não quer mais vingança, assista a uma
novela onde as intrigas vão começar agora.
Você lembra como o Felipe
era ambicioso? E é esta ambição toda que você vai ver na novela que estreia dia
2 no SBT. Ambição começa com uma
misteriosa morte. E o que é melhor: a morte de um grande milionário. A história
esquenta quando Alexandre, o filho do milionário, e Vilma, a jovem esposa de
Alexandre, assistem à leitura do testamento. Você não tem ideia do que esta
herança provoca. Mas dá pra imaginar que não vai faltar muita intriga, grandes
paixões, casamentos por conveniência e suspeita a respeito da morte. Será que
Catarina, a viúva do milionário está envolvida? Será que Catarina é mais
maldosa do que a Constância e a Karen juntas? Não perca Ambição, a nova novela do SBT, de segunda a sábado, após a novela Carrossel. Uma novela onde os maus são
maus mesmo e os bons são realmente bons.
O burburinho em torno destas tramas
foi intenso e nós resgatamos aqui algumas matérias sobre o episódio: uma
entrevista com Silvio Santos, sobre o fenômeno de audiência que se revelou as
mexicanas e quatro Cartas e Cartazes,
ótima coluna de José Eustáquio Lopes Jr. do também ótimo SBTpedia. À José Eustáquio e aos demais colaboradores do blog,
nosso agradecimento pela cessão dos textos.
***
Silvio
Santos diz que sua emissora vai continuar brega para sobreviver
Se a Globo não estiver satisfeita com
Gilberto Braga, autor de O Dono do Mundo,
o SBT ficaria feliz em contratá-lo. Quem diz isso é Silvio Santos, dono do
Sistema Brasileiro de Televisão, emissora que desestabilizou a Rede Globo
exibindo novelas mexicanas. Em entrevista à Folha, ele afirma que vai continuar
a ser brega se isso garantira sobrevivência do SBT.
Silvio informa que tem na prateleira
novelas norte-americanas, venezuelanas e italianas, entre outras. Ele pretende
levar o Matéria Prima, do
apresentador Sérgio Groisman, da TV Cultura para o SBT. Em janeiro de 92, Silvio
planeja reiniciar a produção de novelas.
Folha - A audiência das novelas
mexicanas está além das suas expectativas?
Silvio Santos - Eu não esperava que
num horário tão tradicional como é o do Jornal
Nacional e o da novela das 20h30 da Globo, nós pudéssemos conseguir mais de
dez pontos de audiência. Sabia que eram boas, que iam tocar o público feminino
e infantil porque são novelas familiares.
Folha - Você acredita que as mexicanas
estão roubando público de O Dono do Mundo?
Silvio Santos - É muito difícil roubar
público da Globo. Não sei por que razão. Eu tenho a impressão que existe alguma
coisa mágica, que nos impede de roubar público da Globo. Não só nós, como
também a Manchete. Mas parece que, agora, a Globo começou a perder alguns
pontos. Algo de novo está acontecendo.
Folha - Você gosta de O Dono do Mundo?
Silvio Santos - Eu não posso dizer que
gosto porque eu não vi nenhum capítulo da novela. Agora, pelos comentários que
estou lendo nos jornais, o pessoal está fazendo algumas restrições. Mas me
parece que esses comentários funcionam como marketing da Globo. A Globo usa
todos os recursos - e até válidos, na minha opinião - para poder chamar a
atenção do público. Mas, qualquer que fosse a novela, a Globo teria problemas
com Carrossel.
Folha - O fato das novelas mexicanas
se saírem melhor do que Brasileiras e Brasileiros; é ponto contra o núcleo de
dramaturgia do SBT?
Silvio Santos - Não. A novela Brasileiras e Brasileiros foi urna
tentativa do Avancini. Ele acreditava que esse chamado neo-realismo poderia
funcionar no Brasil, embora todos nós, aqui no SBT, tivéssemos dúvida. Foi um
acidente que pode acontecer comigo, como pode acontecer com o próprio Gilberto
Braga. Até as notícias de jornais estão dizendo que vão pedir para ele mudar
alguns ingredientes na história. Se a Globo não estiver satisfeita com o
Gilberto Braga eu estou de portas abertas para recebê-lo. Ele é um bom autor
como o Avancini é um excelente diretor.
Folha - Qual a vantagem em se produzir
novelas se as compradas do exterior saem mais barato e dão mais certo para o
SBT?
Silvio Santos - Vantagem realmente,
vantagem, não existe. Se uma novela do exterior for boa e mais barata, é claro
que tem que se comprar novela do exterior. Agora, sempre que eu puder ter uma
novela, de acordo com as possibilidades da minha empresa, feita com autores,
artistas brasileiros, vou fazer com que isso aconteça.
Folha - Quais seus planos com relação
ao núcleo de dramaturgia da emissora?
Silvio Santos - Meu plano é conservar
o Avancini. Agora mesmo conversei com ele para fazer um teatro semanal, com
peças de grandes autores brasileiros. Vamos lançar uma comédia, Hit Parade. Talvez a partir de janeiro a
gente comece a fazer novelas em São Paulo.
Folha - A critica avalia a exibição de
novelas mexicanas como um retrocesso da programação de televisão. O que o
senhor acha disso?
Silvio Santos - Geralmente eu me preocupo
quando a crítica acha bom um produto meu. Quando os críticos dizem que o
produto é bom, realmente, vai dar dois pontos de audiência. O filme A Escolha de Sofia ganhou Oscar.
Coloquei na programação e deu oito pontos de audiência. A crítica elogiou Brasileiras e Brasileiros. Falou que ia
ser sensacional. Deu cinco pontos. Então, a crítica raramente funciona na
televisão. Eu não me preocupo com ela, me preocupo com o gosto popular. Não
acho a novela mexicana seja retrocesso. Pelo contrário. É uma evolução.
Televisão é uma indústria como outra qualquer. Eu faço uma outra pergunta. O produto
americano é um retrocesso? O produto argentino ou porto-riquenho é retrocesso'?
Se nós compramos um calçado italiano e ele é mais barato que o brasileiro, isso
é retrocesso?
Folha - A vocação do SBT é ser uma
emissora de programação popular, o vulgo brega?
Silvio Santos - Esse negócio de brega
é mania que o pessoal tem com relação ao Silvio Santos, porque o Silvio Santos
é brega, já nasceu brega. Então, tudo o que o Silvio Santos faz é brega. Vou
continuar sendo brega. Esse estigma até me envaidece, não empobrece. Sendo
brega, lançando aquilo que o público gosta, eu consigo dar emprego para mais de
três mil funcionários aqui em São Paulo e a 60 afiliadas em todo o Brasil.
Então, é preferível ser brega, ter uma programação popular e ter dinheiro para
poder, no final do mês, pagar salário aos funcionários.
Folha - Que projetos você tem para o
SBT a curto prazo?
Silvio Santos - Carrossel deve durar mais de um ano no ar. Tem 375 capítulos. Temos
outras novelas mexicanas, venezuelanas, porto-riquenhas, até italianas. Temos
uma norte-americana que vai estrear no Brasil. O produtor me deu a novela, de
graça, para que eu pagasse a dublagem. A novela é tão boa quanto as séries americanas
e tão boa quanto as minisséries que a Globo exibe. A curto prazo, tem o Matéria Prima que deve estrear conosco
em agosto. Teremos o programa infantil chamado Eliana Está em Festa, feito a bordo de um navio. Tem as coisas do
núcleo de dramaturgia.
Sônia
Apolinário; Folha de São Paulo, 09 de junho de 1991.
***
Cartas e Cartazes nº 51
SBT
usa novelas “do Globo” para derrubar as novelas “da Globo” (09/06/1991)
por
José Eustáquio Lopes de Faria Júnior
[...] Trata-se de um anúncio conjunto
tanto de Carrossel quanto de Rosa Selvagem, dobradinha que rendeu bons frutos
ao SBT em audiência.
Neste anúncio específico, muito mais
que divulgar ambas as novelas, que estavam em seu auge, o SBT fez um ótimo jogo
de palavras relacionando-as à Rede Globo e à novela O Dono do Mundo, concorrente direta no horário. E a chamada não
poderia ser melhor: “Para combater a novela de maior audiência da Globo, o SBT
traz as novelas de maior audiência do Globo”. Claro que existia um exagero em
dizer que Carrossel e Rosa Selvagem eram as maiores audiências
do globo (no sentido de planeta, mundo), mas o fator da Televisa ser uma das
principais exportadoras de conteúdo para todo o mundo na área de
entretenimento, colaborava para esse “sentimento”. Por exemplo, Carrossel era exibida na Coreia do Sul e
Japão, em períodos próximos à exibição no Brasil. Por aqui, muito embora ambas
as novelas não se aproximassem perigosamente da Globo (no sentido emissora),
fizeram tanto o Jornal Nacional
quanto a novela O Dono do Mundo atingir
níveis de sucessivos recordes negativos de audiência.
No topo do anúncio, como era comum
naquele período, aqueles mini-textos para embasar a mensagem principal do
anúncio. E nele, um recado direto à novela O
Dono do Mundo: “Sempre que você assistir à novela O Dono do Mundo, lembre-se que você poderia estar assistindo às
novelas que são as donas do mundo”.
O grande responsável pela
“mexicanização” do SBT foi o brasileiro Augusto Marzagão, que fez a carreira
dentro da Televisa, do México, durante 20 anos, após criar o Festival
Internacional da Canção, pra TV Rio e Rede Globo. Sua relação com o SBT começou
em 1982, quando ofereceu a Silvio Santos a novela Os Ricos Também Choram e posteriormente o seriado Chaves. Em setembro de 1990, Marzagão
foi convidado por Silvio Santos para um café, onde ao apresentador expôs as
dificuldades que o SBT atravessava naquele momento de crise. Foi então que
Augusto Marzagão ofereceu Carrossel e
Rosa Selvagem. Tiro certeiro.
Em entrevista ao Jornal do Brasil,
Marzagão narra como foi a negociação: “Foi [Marzagão confirmando que foi ele
quem negociou Carrossel e Rosa Selvagem com o SBT]. Em setembro de
1990, o Silvio me convidou para tomar um café, me contou das dificuldades que
estava tendo com a programação e pediu sugestões. Estudei as possibilidades
durante algum tempo, dentro dos meus sentimentos brasileiros e mexicanos. Tudo
o que pudesse adequar à televisão brasileira”.
Nessa mesma entrevista, ele conta que
todos os produtos da Televisa chegaram ao SBT através de suas mãos: “A minha
função na Televisa era promover e comercializar estes programas. A primeira
novela mexicana exibida no Brasil, Os
Ricos Também Choram, chegou aqui por meu intermédio. Assim como Chispita, o Chaves, o Chapolin. Todas
as novelas mexicanas chegaram aqui por minhas mãos”. Ainda na entrevista, que é
de 1991, ele fala com entusiasmo sobre Chespirito
e Mundo de Juguete, sendo que ambas
chegaram ao SBT em 2001, o primeiro sem tanto sucesso com o nome de Clube do Chaves e o segundo com enorme
sucesso através do remake mexicano Carinha
de Anjo (e que deve ganhar versão brasileira entre 2014 e 2015).
Seu filho, Omar Marzagão, começou a
carreira também na Televisa, como produtor da novela Maria do Bairro, outra que viria a ser um fenômeno aqui no Brasil
através do SBT.
Então, se você é fã de novela
mexicana, dos remakes mexicanos e gosta da parceria do SBT com a Televisa,
agradeça ao pioneiro Augusto Marzagão. O homem responsável por trazer o México
ao SBT. Uma relação cheia de idas e vindas, mas que parece ser interminável.
Leia o texto completo. Clique aqui!
Cartas e Cartazes nº 03
SBT
provoca Malu Mader e Antônio Fagundes com Carrossel (21/06/1991)
por
José Eustáquio Lopes de Faria Júnior
A ironia sempre fez parte das
campanhas publicitárias do SBT, especialmente quando se anunciava algo com boa
audiência ou que “ousava” tirar pontos da Rede Globo. Esse foi o caso de Carrossel. Com a subida impressionante
nos índices de audiência no primeiro mês de exibição, o SBT tratou logo de
cutucar - de forma “picante”, aliás - a novela O Dono do Mundo, da Rede Globo.
“A única coisa que a nossa
professorinha dá é audiência, viu Felipe?”. Essa frase do SBT é voltada para o
personagem Felipe Barreto da novela da Rede Globo, interpretado por Antônio
Fagundes. Na novela, existe também uma professora (como a Helena de Carrossel), chamada Márcia, papel que
cabia à atriz Malu Mader. Márcia era noiva de um funcionário de Felipe, mas nem
isso impediu que Felipe apostasse (e ganhasse) que levaria para a cama a
“professorinha”, que era virgem até então.
A estratégia em apostar em cenas de
sexo envolvendo a professora foi fatal, tendo em vista que Carrossel apostava justamente no oposto, no mesmo horário e com
enorme sucesso: a professora carismática, doce, quase santa, inimaginável em
cenas como as apresentadas na Globo. Não por menos, a Globo teve que promover
várias reviravoltas na história (inclusive passar o personagem de Antônio
Fagundes de vilão para mocinho e vice-versa na reta final), se não quisesse
perder ainda mais audiência para o SBT.
Com 25% de share, como apresenta o
anúncio, Carrossel chegou a picar 27
pontos de audiência, chegando a ficar poucos pontos atrás de O Dono do Mundo no mês de julho, o que
era considerado impossível à época, primeiro pela força do principal produto da
Globo e segundo por se tratar de uma novela enlatada do SBT. Rubens Carvalho,
sim aquele que citei no nosso primeiro Cartas
e Cartazes, diretor do SBT na época, dizia que infelizmente, pelo
preconceito comercial com uma novela mexicana, tinha que vender anúncios de uma
novela de 20 pontos pelo preço de 10.
Vale ressaltar que Carrossel foi uma das responsáveis por
tirar o SBT de uma enorme crise agravada entre 1989 e 1990, com o Plano Collor,
tendo efetuado centenas de demissões e cancelamento de produções. O SBT vinha
de uma tentativa fracassada de emplacar a dramaturgia nacional com Brasileiras e Brasileiros, que teve
altíssimo investimento, e apostou em tramas mexicanas para tentar se recuperar
no horário nobre, ainda mais depois do sucesso de Pantanal, na TV Manchete. Carrossel
não só conseguiu levantar a audiência do SBT nessa faixa, como emplacou novelas
que ela entregava audiência, também mexicanas, como Rosa Selvagem, Ambição e Simplesmente Maria.
Nessa época, a Globo teria recusado comprar
Carrossel e preferido adquirir Cristal (sim, a novela venezuelana que
anos mais tarde o SBT faria adaptação, só que da versão mexicana). A estratégia
da Globo em comprar tramas enlatadas, na verdade, era apenas para evitar que a
concorrência as usasse. Sim, a estratégia era engavetar para que outros canais
não produzissem. O seriado Chaves
mesmo já quase foi vítima dessa artimanha global. Para felicidade geral das
crianças do Brasil, Carrossel e Chaves, escaparam ilesos. [...]
Leia o texto completo. Clique aqui!
Cartas
e Cartazes nº 52
SBT se sente aliviado
por não deixar a vice para assumir a liderança (02/07/1991)
por
José Eustáquio Lopes de Faria Júnior
[...] Hoje destacamos uma campanha que
vai além da novelinha de Professora Helena e sua turma. Além de Carrossel, a novela Rosa Selvagem e o jornalístico Aqui
Agora são os outros protagonistas do anúncio, o qual passamos a explanar a
seguir.
O ano de 1991 marcava uma grande
virada do SBT, após dois anos difíceis, tanto em audiência com em crise financeira.
Mesmo com problemas, o SBT programou inúmeras estreias para aquele ano e a data
de 20 de maio de 1991 era visto com o “dia D”, pois no mesmo dia estreavam o Aqui Agora, as novelas mexicanas Carrossel e Rosa Selvagem e o Jornal do
SBT, com o comando da Lilian Witte Fibe (vinda da Globo). SBT renovava
naquele dia quase 3 horas de sua grade no horário nobre.
E a tacada foi certeira e de efeito
quase que imediato. Em junho, o SBT já percebia um crescimento absurdo de sua
audiência no prime time, num efeito cascata muito importante para toda a grade.
O sucesso do Aqui Agora puxava o TJ Brasil. O sucesso de Carrossel puxava Rosa Selvagem. E assim o SBT se livrava de vez do “fantasma Pantanal”, da Manchete, que assustou
bastante em 1990.
O SBT, claro, não poderia deixar essa
situação de sucesso passar em branco e tratou logo de fazer uma campanha
publicitária para divulgar os números de audiência. À primeira vista, pelas
letras garrafais do anúncio, parece ser uma campanha publicitária pessimista: “Ufa,
por pouco a gente não perde a vice-liderança”. Pelo contrário. Na verdade, o
SBT quis passar a imagem de que uma emissora que sempre esteve contente e
acomodada em ser líder absoluta do segundo lugar e, repentinamente, estava
assustando a Globo, pela primeira vez, em horários tidos como insuperáveis,
como contra a novela das seis (Aqui Agora),
o Jornal Nacional (Carrossel) e a novelas das oito (Carrossel e Rosa Selvagem). Como diz o próprio anúncio, não passou (ufa!), mas
assustou bastante o crescimento do SBT. É bom salientar que aonde se lê
“pontos” no anúncio do SBT, na verdade representa share (participação em
porcentagem na audiência total).
Como tudo que incomoda (em especial
incomoda a Globo), Aqui Agora e as
novelas mexicanas apanharam de todos os lados. Aqui Agora virou sinônimo de programa de tragédias, com uma
produção porca, matérias sensacionalistas e gente pouco preparada
jornalisticamente para tecer comentários. Já as novelas mexicanas, aquela
acusação de sempre de novela com cenários artificiais, dublagem terrível e com
conteúdo piegas e trash.
Todas essas acusações não assustavam
Silvio Santos. Em entrevista à Folha de São Paulo na época, teve de se defender
e defender o SBT das acusações (?) de ser brega: “Esse negócio de brega é mania
que o povo tem com relação ao Silvio Santos, porque o Silvio Santos é brega, já
nasceu brega. Então, tudo que o Silvio Santos faz é brega. Vou continuar sendo
brega. Esse estigma até me envaidece, não empobrece. Sendo brega, lançando
aquilo que o povo gosta, eu consigo dar emprego para mais de três mil
funcionários aqui em São Paulo e 60 afiliadas em todo o Brasil. Então, é
preferível ser brega, ter uma programação popular e ter dinheiro para poder, no
final do mês, ter dinheiro para pagar salário aos funcionários”.
Além do fator audiência, a exibição
dessas novelas mexicanas eram uma mão na roda em tempos de crise no País. Em
1991, um capítulo dublado de Carrossel
custava cerca de 10 mil dólares aos cofres do SBT. Uma produção nacional,
custaria não menos que o triplo desse valor. Rubens Carvalho, então
superintendente comercial do SBT, comemorava essa vitória, mas lamentava o
preconceito que também existia dos anunciantes: Carrossel dava 20 pontos, mas o resultado comercial era como se
desse apenas 10. Ele dizia: “Os anunciantes são elitistas e preconceituosos.
Não entendem que o público da novela está saindo da Globo e não do México e
continua comprando xampu”.
Quem não gostou nada dessa história
foi Walter Avancini, então diretor de dramaturgia do SBT. Como sua Brasileiras e Brasileiros não vingou (em
virtude de seu conteúdo neo-realista, segundo Silvio Santos), a explosão das
novelas mexicanas era tida como ameaça real ao setor na emissora. Ainda mais
porque naquela época sequer cogitavam uma parceria para remakes com a Televisa,
como existe atualmente. Avancini chegou a falar que foi a Globo quem contribuiu
para o sucesso das mexicanas no SBT: “A Globo se assustou com os altos índices
de Pantanal e a ordem interna foi
procurar dramalhões. A concorrência levou a Globo a baixar o nível. As novelas
mexicanas são dramalhões sem maquiagem e representam melhor a estética da
realidade brasileira. A Globo sempre foi Dinamarca fazendo novela no Brasil”.
O Aqui
Agora, por sua vez, tinha em sua maioria um público de classes A e B. Um
tapa na cara dos colunistas de TV na época que acusavam o programa de profundo
mau-gosto e programa feito para agradar apenas as camadas mais populares da
sociedade. Na verdade, a intenção, muitas vezes, era dar voz a quem não tinha
até então. Dois dias depois da publicação desse anúncio, em 04/07/1991, o Aqui Agora batia o seu recorde de IBOPE
e alcançava 20 pontos. No dia 15/07/1991, contra a estreia de Vamp, na Globo, o programa chegou aos 24
pontos de pico com uma matéria sobre as crianças de Carrossel. E ainda chegaria a 30 em outra oportunidade, numa edição
verdadeiramente histórica, com direito a comemoração em todo o SBT.
O ano de 1991 realmente é incrível do
ponto de vista histórico para o SBT. Muitas coisas aconteceram e muitos estigmas
foram mudados na TV brasileira. [...]
Leia o texto completo. Clique aqui!
Cartas
e Cartazes nº 53
SBT chama Professora
Helena de co-autora de novelas da Globo (01/09/1992)
por
José Eustáquio Lopes de Faria Júnior
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1e3hghBLWVXZGk4xnZSRn1I6ldqjsYXtSgkvdhsBlnX5KQix6fWyT_JdOqoWOGXZrkwOKnkzOw-HojEofEXAYh-GDapNvnhA9cvknAwpz0xizHxcpk9rlV9hztQ7Jdnp-QnDLE8LqoiE5/s1600/An%C3%BAncio+Carrossel+cutuca+Rede+Globo+e+real%C3%A7a+visita+Professora+Helena+a+Collor+-+18+de+agosto+1991.png)
A história de Carrossel dentro do SBT é repleta de detalhes incríveis, não só
devido a sua audiência, mas ao fato de ter gerado uma repercussão muito
positiva, em tempos que novela mexicana ou de qualquer outro país
(especialmente latino) era tratado como enlatado de péssimo valor.
A repercussão de Carrossel foi tamanha que Gabriela Rivero, a Professora Helena
mexicana, recebeu uma proposta para ser contratada fixa do SBT. A ideia partiu
do próprio Silvio Santos, quando da visita dela ao Brasil, que teve até direito
a encontro presidencial com Fernando Collor de Mello. Porém, ela não aceitou o
convite de Silvio. E nem aceitou uma proposta – na época, para os padrões,
milionária – da Playboy brasileira. Aliás, por falar em encontro com o
presidente Collor, veja abaixo o anúncio do SBT que aparece Gabriela Rivero e
Fernando Collor descendo a rampa do Palácio do Planalto, em meio a aproximadamente
duas mil crianças. E, claro, o SBT provoca durante todo o anúncio o personagem
Felipe (Antônio Fagundes), da novela O
Dono do Mundo, da Globo, que teve sua queda atribuída ao sucesso de Carrossel em 1991.
Aliás, em meio ao encontro
presidencial em Brasília, Gabriela Rivero teve uma reunião com a então
primeira-dama Rosane Collor, que dizia assistir a novela todos os dias, mas que
ficou um tanto “chocada” quando Gabriela ao desembarcar em São Paulo dizia que
Fernando Collor era “muy guapo” e que desceria a rampa de minissaia com ele.
Rosane, com jogo de cintura, deixou a polêmica passar. Até porque a ideia era
colar o carisma do presidente e da Legião Brasileira de Assistência (LBA) ao da
atriz mexicana. Aliás, vale o registro: ela se encontrou com Rosane no Brasil e
teria justamente a sua versão brasileira feita por uma atriz chamada Rosanne
(com dois “enes”). Essa seria só a primeira das coincidências envolvendo as
duas versões da novela.
Ainda em Brasília, a repercussão foi
tão grande, que até contratados de outras emissoras tiveram que se render ao
fenômeno Carrossel devido a seus
filhos. Foi o caso do jornalista Alexandre Garcia, da Rede Globo, que não teve
como conter e teve que levar seus filhos para conhecer (ou pelo menos vê-la)
andando na rampa presidencial na capital federal. Curiosamente, na versão
nacional, aconteceu o mesmo, só que com a Record. O filho de Gugu Liberato,
então contratado da Record, assistiria ao show que marcaria o encerramento das
gravações da versão brasileira de Carrossel,
no SBT.
Outra curiosidade envolvendo as duas
versões de Carrossel vêm da política.
Em 1991, para reforçar a grande repercussão gerada pela novela infantil, o SBT
gravou depoimentos de personalidades influentes para falar bem da produção.
Nela, estavam presentes, dentre muitos, Paulo Maluf e Luiz Inácio Lula da
Silva, inimigos e adversários políticos ferrenhos, mas que naquela oportunidade
estavam juntos em prol da novela. E não é que em 2012, menos de um mês depois
da estreia da versão brasileira, Lula e Maluf não davam as mãos dessa vez como
aliados políticos?
Mas você deve se perguntar: por que,
afinal o SBT falou que a Professora Helena virou co-autora das novelas da
Globo? O anúncio que destacamos hoje explica que a Globo teria aumentado o
número de crianças da novela para atrair justamente o público que “surgiu” no
SBT, carente de uma opção com apelo infanto-juvenil. E realmente a Globo
aumentou seu apelo infantil depois do susto com Carrossel e uma novela que virou “símbolo” desse novo viés infanto-juvenil
global foi Vamp, de Antônio Calmon. O
autor, porém, negava qualquer tipo de relação da sua novela com o “fator Carrossel”. E não é que a versão
brasileira também já teve repercussão em uma outra emissora? Quem não se lembra
da tentativa – fracassada – de salvar a nova temporada de Rebelde, na Record, fazendo até mesmo uma versão feminina do Cirilo
e uma masculina da Maria Joaquina por lá? É como dizia o eterno poeta e
filósofo Cazuza: eu vejo o futuro repetindo o passado. E na TV isso é mais comum
do que se imagina. [...]
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