Não
sai de mim não, encosto!
Série do Viva traz sacadas
inteligentes e competência do elenco principal
Uma família endividada passa a dividir
o mesmo teto. A partir desta story-line, podemos presumir muitas das situações
que os membros do clã irão vivenciar. O mesmo acontece com Meu Amigo Encosto. Um rapaz desajustado descobre que os males de
sua vida são causados por um espírito zombeteiro. Dá pra esperar muitas situações
inconvenientes, em que o jovem, tentando se esquivar da influência do encosto
em questão, acaba passando por louco ou coisa parecida. No entanto, mesmo sabendo que o tema é "batido", a série
que estreou no último dia 24 não deve passar batida pelo público do canal.
Essas comédias de costumes, como a
produção inédita e o Sai de Baixo (da
story-line citada acima) atraem não pelo ineditismo de seus temas, mas pela
forma como eles serão contados. E Meu
Amigo Encosto conta suas histórias muito bem! O roteiro de Fausto Noro, Thiago
Luciano e Tony Góes traz boas sacadas, principalmente em diálogos mais curtos,
como o de Ivan (George Sauma) e Rosimary (Amanda Ritcher), em um bar, no final
do segundo episódio. Influenciado por Janjão (Danilo de Moura), o dono da Rita
Fantasias diz, em alto e bom som, que não vai “comer” sua funcionária; ela,
decepcionada, exclama “não” com veemência! Contando não tem a mesma graça; mas
no ar, me fez chamar a atenção para o que Meu
Amigo Encosto oferece de melhor: o trio presente na cena que descrevi
(Amanda Ritcher, Danilo de Moura e George Sauma).
O grande destaque, sem sombra de
dúvida, é a dupla protagonista Janjão e Ivan. Tanto George Sauma, quanto Danilo
de Moura, estão muito à vontade em seus personagens. O Ivan de George, entre o
trágico rapaz falido e o abilolado jovem perseguido por um fantasma, diverte
apenas com suas expressões. Já o folgado Janjão entrete mais por conta das
formas como despeja suas falas. O tom malandro que impõe aos diálogos confere
ainda mais graça à sua caracterização, com camisas estilizadas e a porção final
da barriga sempre saltando pra fora da calça. Rosimary vem agregar ao encosto e
ao encostado. Seu ar de sofredora aumenta conforme a fantasia que usa para
promover a loja em que trabalha. Quando se despe de qualquer alegoria, no
entanto, Rosimary irradia felicidade (principalmente ao lado de Ivan). A
mudança é visível nas expressões e no gestual da atriz, que realça, com primor,
as intenções do texto.
O mesmo não se pode dizer de Cadu
Fávero (Dr. Clint) e Fani Pacheco (Neiva). O primeiro soa exagerado no
destempero do “encostologista” que usa métodos modernos (e eis aqui uma grande,
e honrosa, novidade em roteiros do gênero, como o bode virtual em um tablet). Já
Fani Pacheco ainda carrega consigo o estigma de ex-BBB, presente também na
personagem, e, talvez por isto, não parece segura em suas cenas. Ainda lhe falta familiaridade com a dramaturgia.
No mais, Meu Amigo Encosto é uma ótima opção. Talvez o público do Viva,
afeito ao humor político de Viva o Gordo
ou ao “inteligente” de Os Normais, não
tenha ainda se atentado para o puro e simples entretenimento proposto pela série.
Vale a pena conferir!
Para encerrar, uma dúvida: por que
sobrepor sinais sonoros às falas que contém palavrões? A TV fechada dispõe de
uma liberdade que a aberta não desfruta há tempos (primeiro, com a ditadura;
hoje, com a classificação indicativa atrelada a horários). As falas de Janjão
não são tão ou mais ofensivas do que muitos filmes vistos no Telecine ou vídeos
na internet, por exemplo.
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