Novela de comadre. A expressão,
comumente usada para definir História de
Amor, se encaixa bem nas outras tramas já exibidas pelo canal à tarde.
Destinado, a princípio, a novelas de tom mais cômico (Quatro por Quatro, Vamp e
Top Model), o horário passou por uma
modificação com Felicidade, que
arrebatou o público, e abriu caminho para Anjo
Mau e o atual cartaz das 15h30. Tropicaliente,
que vai substituir a novela do Maneco em novembro, também envereda pelo caminho
“comadre”: uma trama romântica, com personagens de fácil assimilação, comumente exibida às 18h ou 19h.
Outras novelas se aproximam desta
definição. E é sobre elas que esta coluna do blog pretende falar. Assim como
fizemos com o horário das 14h30, vamos sugerir aqui obras que poderiam muito
bem substituir Tropicaliente em 2015,
pois, certamente, iriam de encontro às “comadres noveleiras” do horário.
Sonhar
não custa nada!
Novela das 18h pode trazer gosto de
infância ao telespectador do Viva
O gosto pessoal que cultivamos na
infância não pode servir como parâmetro para nossas opiniões quando adultos. A
memória afetiva, por vezes, nos trai. Um bom exemplo disto é a aversão que
tomei por Vamp, quando esta fora reprisada
pelo Viva. Aos olhos de hoje, a novela não continha nenhum atrativo e passou
longe de me entusiasmar como fez em sua primeira reapresentação, nas tardes da
Globo. Talvez sentimento semelhante me invada caso, um dia, Sonho Meu, de Marcílio Moraes, volte ao
ar. Ou não! Adorei a novela quando pequeno e lembro que,
muitos adultos com quem convivia na época, e convivo até hoje, também curtiam.
Sonho
Meu unia duas
sinopses de Teixeira Filho, A Pequena
Órfã e Ídolo de Pano, buscando
manter o sucesso dos remakes na faixa das 18h, que vinha do excelente
desempenho de Mulheres de Areia.
Acusada de ser extremamente melodramática, Sonho
Meu reunia todos os clichês do gênero, mas o fez de modo tão sofisticado
(com o requinte do texto e o aparo da direção) que acabou por impingir ao
público a veracidade necessária para que o telespectador embarcasse na estória.
A ambientação em Curitiba contribuiu para conferir ainda mais charme à novela.
A trama era encabeçada por Cláudia
(Patrícia França), mocinha que, para fugir da violência do marido, Geraldo
(José de Abreu), acabava abandonando a filha, Carolina (Carolina Pavanelli).
Vivendo no Rio de Janeiro, Cláudia é descoberta pelo marido e decide fugir para
Curitiba, onde se emprega na fábrica de brinquedos Ludens, de propriedade da
família Candeias de Sá, conduzida por Paula (Beatriz Segall), avó do playboy
Lucas (Leonardo Vieira) e do médico Jorge (Fábio Assunção).
Cláudia passou por toda a sorte de
sacrifícios, em nome da saúde de sua filha, portadora de leucemia. A princípio,
seduziu Jorge, diante da possibilidade de utilizar o dinheiro do rapaz para
bancar o tratamento de Carolina. Mas o coração da operária bate forte mesmo é por Lucas, que está noivo da publicitária Lúcia (Isabela Garcia). Para ficar ao
lado da amada, o jovem se opõe à avó e desiste de sua herança, o que se torna
um empecilho para as necessidades emergenciais de Cláudia. Ela chega a aceitar
suborno de Paula para se afastar de Lucas (200 mil dólares necessários para
submeter Carolina a uma cirurgia no exterior); a matriarca, no entanto, recua
ao ver que o neto está se deteriorando. Cláudia e Lucas, então, se casam; ao
mesmo tempo, ela entra em acordo com Geraldo, para não perder em definitivo a
guarda de sua pequena. Os dois passam a morar juntos na humilde rua das Flores,
que estabelece um imenso contraste com a suntuosa mansão Candeias de Sá.
Cláudia se torna gata borralheira de dia e Cinderela à noite. O único que
compartilha de sua vida dupla é Tio Zé (Elias Gleiser), polonês que fabrica
brinquedos artesanais e se afeiçoa a Carolina, a quem passa a tratar por
Lalesca.
Desde que fora abandonada pela mãe,
Carolina passou a viver com sua tia Elisa (Nívea Maria, em ótima atuação), irmã
de seu pai. Impaciente, a megera abandona sua sobrinha em um orfanato, dirigido
pelo não menos asqueroso Fiapo (Carlos Alberto), que se torna amante de Elisa.
Ao fugir da instituição, Carolina vai parar na casa de tio Zé, que a aproxima
das outras crianças da rua e lhe mostra um mundo de imaginação e alegrias.
Ainda assim, a menina passa por diversos infortúnios: chega a ser explorada por
dois bandidos e sequestrada por Jorge. Quando está prestes a voltar
para os braços da mãe, é pressionada por Elisa a dizer, no Juizado de Menores,
que deseja continuar no orfanato (caso contrário, a tia má irá levar o seu
amigo Trigo (Fabiano Miranda) para um reformatório). Dramas infantis costumam
pontuar bem na faixa da tarde do Canal Viva. Quem não se lembra de Bia (Tatiane
Goulart), a filha da Helena de Maitê Proença em Felicidade, uma das recordistas no horário?
Os vilões Elisa e Fiapo também
atazanavam a vida de Cláudia. Foram os primeiros a descobrir sua bigamia e só
não foram além na chantagem que faziam contra a moça porque tiveram seus
intentos barrados por Giácomo (Eri Johnson), mordomo da mansão que escondia ser
filho bastardo de Bartolomeu, esposo de Paula. Aquele que mais teria motivos
para se opor a Cláudia, quando sua vida dupla veio à tona, era Lucas. E foi
justamente o herói quem a apoiou, bancando o tratamento de Lalesca, embora
evitasse manter relações com Cláudia, afora o seu casamento de fachada,
importante para que ele conseguisse a presidência da empresa da família.
Cláudia fora extremamente hostilizada
(chegou a ser apedrejada pelos vizinhos da rua das Flores), até que se
descobriu grávida de Lucas. Paula então a acolheu, bem como à Carolina, que com
seu jeito doce e sua amizade com o cachorro Tofe, acabaram por humanizar a
“dama de ferro”. Paula também se sensibilizara com Cláudia, que contraiu
infecção renal, e por pouco, não deu adeus à vida. A irmã de Paula, Fabíola,
também sofreu deste mal quando engravidou do polonês Roman Marzursky, de quem
se separou para não desagradar à família. O polonês em questão vinha a ser o
tio Zé, que, por ter sido rechaçado por Paula e seus pais, a desprezava
profundamente.
Um dos grandes responsáveis pelas
dificuldades pela qual Cláudia passou durante a gravidez foi Jorge. Obcecado
pela moça, e pelo posto do irmão na empresa, o médico aprontou poucas e boas.
Logo de cara, descobriu que era filho de Mariana (Débora Duarte, outro
destaque), e fora dado para Paula, para que esta substituísse o verdadeiro
Jorge, morto em um acidente aéreo na França, ao lado dos pais. Estranhando a
proximidade de Mariana, a quem empregou como enfermeira em sua clínica, Jorge
ordenou que o advogado Varela (Carlos Kroeber) a investigasse. Ao descobrir
toda a verdade, o velho passou a chantagear Jorge, que ordenou que a mãe o
matasse, simulando um ataque cardíaco. Guerra (Walmor Chagas), diretor da clínica em que Jorge atuava,
acabou responsabilizado pela morte, acusado de erro médico, e, ao tomar
conhecimento da situação, fez com que Jorge mandasse a própria mãe para a
cadeia.
Cada vez mais fora de si, Jorge dopa a
avó para que ela acredite que está com a saúde frágil; entra em negociatas
escusas com Willian (Jayme Periard), diretor da fábrica, para desviar dinheiro
para o exterior; torna-se namorado de Lúcia e joga charme para Aída (Cláudia
Scher), empregada da mansão que conhece todos os seus segredos. Nos últimos
capítulos, Jorge é misteriosamente assassinado. Me lembro da cena com clareza e
do making-of, exibido no Vídeo Show,
que mostrava Fábio Assunção colocando as bolsas de sangue por baixo de sua
camisa, para simular os três tiros que levara. Lucas chegou a ser acusado pela
morte do irmão, mas logo foi solto, já que as suspeitas recaíam sobre Willian.
Ao final, a surpresa: Guerra assume a autoria do crime, para impedir que Lúcia,
sua filha e verdadeira assassina, vá presa.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijJPVq7yAAgl3pmIggVAktaRQQIHsCm7VWFE6hARIX8ZfaVCz1TePIO6ASegtozY0F3TIHp3gCNNT9VPgpghKZTgBg_JZBkxDZNoVOtcsgIYeRrunvyIRo-l3Ew-vJS5s4sOawlAFE4ub6/s1600/sonhomeu2+(1).jpg)
Outro destaque de Sonho Meu é sua trilha sonora. A nacional não me agrada. Mas a
internacional veio recheada de hits dançantes daquela primeira metade dos anos
90. “What is love” (Haddaway), “Mr. Vain” (Culture Beat), “Show me love” (Robin
S.) e “More and more” (Captain Hollywood Project) eram alguns dos temas que se
misturavam à canções românticas como “Wild world” (Mr. Big) e a belíssima “For
whom the bell tolls” (Bee Gees), que embalava o casal Cláudia e Lucas. Ganhei uma fita K7 com essa trilha de minha mãe, como lembrança de uma viagem à Aparecida do Norte. Com o tempo, acabei me desfazendo da relíquia.
Dentre tantos temas, tramas e
personagens, Sonho Meu transcorreu
seu caminho de sucesso pelo horário das seis. Infelizmente, nunca mais tivemos
uma oportunidade de rever a novela que, certamente, seria muito bem-vinda no
Viva. Nós a aguardamos ansiosamente!
Relembre, neste vídeo da usuária RannahRennatha, o primeiro capítulo de Sonho Meu, na versão exibida pela SIC, parceira da Globo em Portugal.
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