sábado, 10 de janeiro de 2015

Volta a fita aí...
Novo programa do Viva rememora bons tempos da cultura pop


Na próxima quarta estreia o Rebobina, nova produção do Canal Viva. Em 05 episódios, o programa, apresentado pelo DJ Zé Pedro, disseca diferentes fases da nossa cultura pop, resgatando a memória afetiva de convidados e telespectadores. A atração abrange os anos de “Mulher 80”, “Geração Dourada”, “Freedom 90”, “O Sertão Vira Mar” e “Não Se Reprima”. Como andavam as nossas novelas e o que cada uma dessas fases agregou a elas, em termos de tramas, figurinos e trilhas sonoras? É o que você vai descobrir neste texto especial do Vivo no Viva.

No episódio “Mulher 80”, o programa discute a emancipação feminina diante da TV, do cinema e demais meios de comunicação. A Globo passava a dedicar suas manhãs às mulheres, com a estreia do TV Mulher, atração comandada por Marília Gabriela, que contava com a participação do estilista Clodovil e da sexóloga Marta Suplicy. Malu Mulher, premiadíssima série brasileira, debatia o espaço do sexo feminino na sociedade, no trabalho e no lar, e trazia um novo contexto para a carreira de Regina Duarte, até então a ‘namoradinha do Brasil’.

O perfil ‘namoradinha do Brasil’, aliás, era dominante nas novelas da época. As tramas da primeira metade dos anos 70 traziam mocinhas pueris, com ideais de vida restritos a um grande amor, sem grandes arroubos com relação à carreira, por exemplo. As novelas de Cassiano Gabus Mendes trouxeram inovações neste sentido. Em Anjo Mau, a mocinha pobre (Nice, de Susana Vieira) se permitiu agir com métodos pouco ortodoxos para conquistar seu grande amor e ascender socialmente; já em Locomotivas e Te Contei?, as mulheres eram a força motriz das estórias. Vaidosas e intempestivas, faziam de gato e sapato os homens que as cercavam. Ainda assim, as conquistas femininas continuavam atreladas a grandes amores e à ascensão social através do casamento com milionários. Foi o que vimos com a Lili (Elizabeth Savala), de O Astro, que trabalhava arduamente como taxista e barbeira, mas esmoreceu diante da paixão por Márcio Hayala (Tony Ramos); também a presidiária (algo antes impensável para uma mocinha) Júlia Mattos (Sônia Braga), de Dancin’ Days, que se casa com Ubirajara (Ary Fontoura) para afrontar sua paixão, Cacá (Antonio Fagundes). Já a Paloma (Dina Sfat), de Os Gigantes, por sua vez, era tão emancipada que acabou rejeitada pelos telespectadores. Pudera: rejeitava o amor de dois galãs (Francisco Cuoco e Tarcísio Meira), vislumbrava um relacionamento lésbico (com Lídia Brondi) e cometera eutanásia para pôr fim ao sofrimento do irmão convalescente.

As mulheres ganhariam força nas novelas logo no início dos anos 80, período abordado pelo Rebobina. Passaram a ser independentes, trabalhavam, construíam carreiras, e só depois se permitiam sonhar com o casamento. A favor dessas mulheres modernas, três autores: Gilberto Braga, Manoel Carlos e Silvio de Abreu. O primeiro com Água Viva, onde Janete (Lucélia Santos) buscava se sustentar sem o auxílio da tia solteirona, explorada por seus pais; já em Brilhante, Luiza (Vera Fischer) era uma renomada designer de joias que rechaçava o casamento por interesse proposto por sua chefe, Chica Newman (Fernanda Montenegro). Maneco, colaborador de Gilberto em Água Viva, trouxe a médica Lúcia Fernandes (Natália do Vale), em Baila Comigo, e também Raquel (Irene Ravache), de Sol de Verão, que abria mão de um casamento sólido para “viver a vida”. Já Silvio de Abreu apostou em Jordana (Glória Menezes), mulher que, trocada por uma moça mais nova, precisa cuidar de sua casa, da filha e de seu sustento, em Jogo da Vida. E levantou a bandeira do feminismo com Guerra dos Sexos, cuja disputa sempre pendeu para o lado das mulheres.

Pouco depois do fenômeno da emancipação da mulher, veio a libertação da juventude! A “Geração Dourada”, tema do programa de estreia, passou pela década de 80 embalada pelo som dos novos expoentes do pop rock nacional e reverenciada em filmes como Bete Balanço, Garota Dourada e Menino do Rio. Na TV, Armação Ilimitada inovava com sua linguagem de videoclipe e o enredo calcado em cenas de ação, com a prática de esportes radicais dominando praticamente todos os episódios da saga de Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André di Biasi).

No Rebobina, haverá um quadro, “Abafa ou Bafo”, em que os convidados decidem se artigos de outras épocas devem voltar à moda ou merecem sumir de vez. Certamente, em “Geração Dourada”, aparecerão itens que compunham o vestuário da dupla dinâmica de Armação Ilimitada. E também a moda praia difundida em A Gata Comeu, com os biquínis e sungas minúsculas, usados por Jô Penteado (Christiane Torloni) e Fábio (Nuno Leal Maia) enquanto estavam perdidos em uma ilha deserta. A Gata Comeu também lançou cortes de cabelos, como o da já citada Jô e o do rabicho de Babi (Mayara Magri). No mesmo ano, 1985, Tititi, às 19h, popularizava o mullet de Valquíria (Malu Mader) e a nuca batida de Jaqueline (Sandra Bréa). Tititi discutia a moda através dos protagonistas Victor Valentim (Luís Gustavo) e Jacques Leclair (Reginaldo Faria) e popularizou as estampas de vestimentas e brincos em formas geométricas, no estilo New Wave. Cassiano Gabus Mendes gostava de levar o mundo das passarelas para suas novelas, tanto que Brega & Chique trazia em sua abertura um desfile de cores e estampas utilizadas por socialites e pobretonas. A novela popularizou as lentes de contato, através de Rafaela Alvaray (Marília Pêra). Aliás, nunca houve tanto consumismo como no final dos anos 80: o batom Boca Loka, de Tititi; as bandanas de Rei (Guilherme Fontes) em Bebê a Bordo, e até mesmo o conjunto de couro usado por Tieta (Betty Faria), da novela homônima, em seu retorno à Santana do Agreste.

As academias sofreram um boom com Baila Comigo e se popularizaram com a Physical, de Cambalacho. Prato cheio para a exploração de corpos desnudos, em um momento no qual a TV usufruía da liberdade conquistada com o fim da ditadura militar para expor muitos de seus galãs. Que o diga Vinícius Manne, desfilando nu na abertura de Brega & Chique e Roberto Bataglin gravando anúncios de cueca na agência de publicidade de Sassaricando. A liberdade sexual já havia sido discutida em Um Sonho a Mais, com a presença da sexóloga Olga Del Volga (Patrício Bisso) e voltava a repercutir em Bebê a Bordo, com Fânia (Deborah Evelyn), que investigava o estranho hábito dos irmãos Rei e Rico (Guilherme Leme) de “levarem uns coelhos”, enquanto o Bruno (Cássio Gabus Mendes) preferia “beber água”, em Brega & Chique. A ‘saliência’ esteve em alta nas novelas e na moda! Moda que fez de Malu Mader um dos grandes expoentes da década, quando a atriz emprestou sua beleza à Duda, de Top Model.

A “Geração Dourada” deu lugar então a “Freedom 90”. George Michael aproveitou-se dessa nova onda e fez sucesso com seu hit homônimo. As modelos se proliferavam! Dominavam as revistas, as capas de cadernos universitários e a TV. No cinema, ‘o sonho de Cinderela’, visto em filmes como Uma Linda Mulher e Manequim, explodia nas bilheterias. Cortes de cabelos como o de Julia Roberts no primeiro filme citado e Demi Moore, em Ghost, do Outro Lado da Vida, faziam a cabeça das meninas que sonhavam com um lugar ao sol nas passarelas.

A já citada Top Model fazia a cabeça das adolescentes, não só pelo perfil arrojado de Duda, como também pela abordagem dos conflitos típicos da idade, como a virgindade, debatida através de Elvis (Marcelo Faria) e Tininha (Adriana Esteves). Antonio Calmon, que fez a cabeça da moçada como seus filmes em “Geração Dourada”, invadia a TV e popularizava a figura do mito, difundida com Duda, primeiramente, e depois com Natasha (Cláudia Ohana), de Vamp, que deu vazão à exploração do figurino gótico. Calmon ainda levaria ao ar, em 1993, a minissérie Sex Appeal, totalmente voltada às passarelas. Na trama, cinco jovens (dentre elas, as estreantes Camila Pitanga e Carolina Dieckmann) disputavam um concurso de beleza enquanto vivenciavam conflitos éticos nas relações com os pais e com as drogas, conflito dos personagens de Nico Puig (Toni, o irmão esportista) e Felipe Folgosi (Júlio, toxicômano). Os dilemas dos adolescentes associados à exploração da beleza juvenil podia ser visto também em Barrados no Baile, cultuada série exibida pela Globo durante praticamente toda a década de 90. E seria a tônica de Malhação, que a emissora estreou em 1995, apostando em uma nova febre das academias de ginástica. No canal ao lado, Cultura (e depois Band), Confissões de Adolescente poupava suas protagonistas da exploração da beleza, mas trazia entre seus temas a discussão em torno da síndrome de patinho feio e do culto ao corpo que a era das super modelos promoveu.

Contemporânea a Sex Appeal, O Mapa da Mina trazia Luiza Brunet como Nadir, uma suburbana que, com o auxílio de Madalena (Fernanda Montenegro), conseguia entrar para uma agência de modelos, progredindo artística e financeiramente. Outras modelos da vida real se aventuravam como atrizes, tal e qual Luiza Brunet. Adriane Galisteu, popular após namorar Ayrton Senna e estampar revistas e cadernos, surgia desnuda em Xica da Silva, na Manchete. Sílvia Pfeifer, que deu vida à protagonista de Boca do Lixo, vivia Isadora Venturini, a vilã que popularizou as faixas largas para o cabelo em Meu Bem Meu Mal. Na mesma novela, Luma de Oliveira deu o ar da graça como a prostituta Ana Maria. Meu Bem Meu Mal se valia da Venturini Designers, empresa disputada por diversos personagens, para influenciar a decoração das casas brasileiras, naquele início dos anos 90. Hans Donner estava no auge de sua criatividade. E se aproveitaria das super modelos para associar corpos nus à elementos da natureza em suas aberturas, principalmente em novelas rurais, como já havíamos vistos em Tieta, por exemplo.

Era o início da fase “O Sertão Vira Mar”, outro tema do Rebobina. As rádios começavam a ser invadidas por duplas sertanejas, como Leandro & Leonardo e Zezé di Camargo & Luciano. As canções românticas, quase sempre voltadas para decepções amorosas, faziam tanto sucesso que Leandro & Leonardo ganharam um programa solo na Terça Nobre e, pouco depois, ao lado de Zezé & Luciano e Chitãozinho & Xororó passaram a apresentar os especiais Amigos, exibidos todo fim de ano.

Nas novelas, houve um boom de tramas rurais. O fenômeno Pantanal, na Manchete, e sua sucessora, A História de Ana Raio e Zé Trovão, despertaram no telespectador o desejo de aliviar as tensões do dia-a-dia admirando belas paisagens, como as vistas em ambas as tramas, que traziam cenários desconhecidos ao grande público. As novelas de Benedito Ruy Barbosa, em especial Renascer, propiciavam a quem as assistia esse poder de se tranquilizar diante de uma tomada aérea, fosse do voo de um tuiuiú ou de uma roça de cacau. Até mesmo a praiana Mulheres de Areia e a urbana A Viagem, ambas de Ivani Ribeiro com a colaboração de Solange Castro Neves, calcaram um pezinho em terras de chão batido, com as respectivas fazendas de Alaor (Humberto Martins) e Guiomar (Laura Cardoso). Com O Rei do Gado, também de Benedito Ruy Barbosa, além das paisagens, começou a exploração de temas voltados a quem vive da terra, como a reforma agrária, debatida através do Senador Caxias (Carlos Vereza) e do Movimento dos Sem Terra, liderado, na ficção, por Regino (Jackson Antunes). Na mesma novela, canções das duplas já citadas anteriormente, bem como de Roberta Miranda e Jair Rodrigues, deram um recorde à Som Livre. A primeira trilha da novela, quase que totalmente composta por músicas sertanejas, chegou a vender mais de 1,5 milhões de cópias. Um feito e tanto para um fenômeno que domina, hoje até mais do que nos anos 90, as paradas musicais.

Temas sertanejos já haviam sido vistos em novelas. Em Deus nos Acuda, Ully (Mylla Christie) era fã do estilo musical, que embalava seu romance com Hugo (Flávio Silvino), através de Não Olhe Assim, de Leandro & Leonardo. Brincar de Ser Feliz (de Chitãozinho & Xororó) e Eu Só Penso em Você (de Zezé di Camargo & Luciano) figuraram nas trilhas de Pedra Sobre Pedra e Fera Ferida, respectivamente. Aliás, as tramas regionalistas de Aguinaldo Silva, que também escrevera, ainda nos anos 90, A Indomada, contribuíram para que o visual de nossas novelas ficasse, por quase toda a década, exclusivamente voltado aos cenários rurais. Ainda que envoltas no realismo fantástico, as obras de Aguinaldo Silva usavam e abusavam de paisagens bucólicas, com muitas matas e cachoeiras (quem não se lembra dos banhos de rio de Jorge Tadeu (Fábio Jr.) e Úrsula (Andréa Beltrão) na novela que Viva exibe a partir do próximo dia 26?). Ainda tivemos folhetins que não eram rurais, mas remetiam a paisagens interioranas, como Despedida de Solteiro e o núcleo brejeiro de Corpo Dourado.

O Rebobina traz também a fase áurea do estilo “Não Se Reprima”. É impossível ouvir essa expressão sem cantarolar a música que consagrou o Menudo, responsável pela forte influência sofrida pela música brasileira durante os anos 80; não só dos latinos, como também dos americanos do New Kids on the Block. Surgiram boy bands com Dominó e Polegar, que tocavam à exaustão em programas como o Viva a Noite, viviam nos clipes do Fantástico e participavam de quase todos os filmes dos Trapalhões.

Diferentemente das outras quatro fases abordadas pelo programa, o período “Não Se Reprima” não influenciou o perfil e a conduta de personagens (como “Mulher 80”), não se atrelou à moda das novelas (como “Geração Dourada”), não trouxe rostos desconhecidos para brilhar nas telinhas (como “Freedom 90”) ou mesmo ateve o público a um novo estilo de dramaturgia (como “O Sertão Vira Mar”). Mas as canções melosas, como Ela Não Gosta de Mim, do Dominó, ou dúbias, vide Dá Pra Mim, do Polegar, invadiram as trilhas nacionais e internacionais de nossos folhetins. Os açucarados dramas juvenis passaram a ser embalados por canções que seguiam o estilo “Não Se Reprima”. Foi assim com Mariana (Cláudia Ohana) e Tomás (Edson Celulari), em Amor com Amor se Paga, acompanhados por Fim de Semana Sem Grana, do grupo Chantilly. Outra novela das seis, Pão-Pão Beijo-Beijo, teve uma boy band (Rádio Táxi) em sua abertura (Sanduíche de Coração, que chegou a ser título provisório da novela). Tipo One Way, da banda Ciclone, fez muito sucesso em A Gata Comeu e embalou as chamadas da surpreendente reprise da novela, em 2001.

Não foram só temas nacionais, no entanto, que trouxeram as boy bands para as novelas. Nas trilhas internacionais do período figuraram nomes de relevância no exterior. O New Edition esteve presente em duas trilhas das 20h, no mesmo ano: Candy Girl, em Louco Amor, e Is This The End?, em Champagne, como tema de Mariah (Cláudia Magno) e Greg (Cássio Gabus Mendes), que lançou a moda do colar de fio de telefone (outro item para figurar em “Geração Dourada”). Ainda em 1983, em Eu Prometo, um dos hits da época do “Não Se Reprima”: Vamos a La Playa, abrasileirada pelo grupo Bombom, surgia em sua versão original, com Righiera, nesta que foi a última trama de Janete Clair. No ano seguinte, o Menudo cantava em inglês (If You’re Not Here), abrindo o lado B da trilha de Partido Alto. No fim da década de 80, o New Kids on the Block embalava um dos principais casais românticos de O Sexo dos Anjos. I’ll Be Loving You (Forever), um dos maiores sucessos do grupo, era tema do ambientalista Renato (Mário Gomes) e de Diana (Bia Seidl), o Anjo da Morte.

Você vai saber muito mais sobre as canções, a moda e as novelas na estreia do Rebobina, na próxima quarta, 22h45. E o blog vai continuar repercutindo a atração, enquanto ela estiver no ar. Não dá pra perder hein!


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