- A primeira reação à estreia de Pedra Sobre Pedra veio da cidade de
Resplendor. Não a fictícia localidade baiana, claro. Resplendor, na “vida
real”, está localizada no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, e também era
conhecida por ser uma próspera produtora de pedras preciosas. Os moradores do
município telefonaram à Rede Globo exigindo que a localidade fosse mencionada
na trama.
- Outras curiosidades uniam a
verdadeira Resplendor à fictícia: uma gruta misteriosa, batizada de Sete Salões
e um disputa política entre dois grupos antagônicos, os ‘Corta-Goelas’ e os
‘Pica-Paus’. Devido ao sucesso de Pedra
Sobre Pedra, um fotógrafo da cidade, que costumava atrasar suas sessões de
fotos, passou a ser chamado de Jorge Tadeu.
- Roque
Santeiro, que havia popularizado os astros de Pedra Sobre Pedra entre os
moradores da Chapada Diamantina, não trouxe só alegrias a novela das oito. Tão
logo começaram as chamadas, os telespectadores passaram a comentar as
semelhanças entre as tramas. A Globo então precipitou o término da reprise da
novela de Dias Gomes, roteirizada por Aguinaldo Silva. Já o autor de Pedra Sobre Pedra, na época, declarou: “Resplendor
é uma cidade pequena que tem delegado, padre, beatas. É o meu universo
ficcional, o que não significa que esteja me repetindo”.
- Em 06 de janeiro, data da estreia de
Pedra Sobre Pedra, o Jornal do Brasil
elencou outras semelhanças entre a nova trama e antigos trabalhos dos autores.
Sérgio Cabeleira (Osmar Prado) era atraído pela lua cheia, tal e qual o
lobisomem Astromar (Ruy Rezende), de Roque
Santeiro; o desvario sexual, que norteava a trama de Jorge Tadeu (Fábio
Jr.), também fora visto na energia libidinosa de Porcina (Regina Duarte), em Roque, e Tieta (Betty Faria), da novela
homônima; o próprio retratista sedutor já havia sido personificado na figura de
outros conquistadores, como o Osnar (José Mayer), de Tieta. E o microcosmo já citado por Aguinaldo como resposta às
comparações com Roque Santeiro, era
também lembrado, não só como nos lugarejos da novela de 1985 e da nova trama,
como no ambiente urbano, caso do condomínio Sobre as Ondas, de O Outro, onde todos os personagens se
cruzavam.
- A polêmica se estendeu após o início
da novela. Segundo Aguinaldo Silva, Dias Gomes enviou a um dos diretores da
Globo um exemplar de sua peça, ‘O Berço do Herói’, que serviu de base para Roque Santeiro, acompanhado de um recado
irônico: se era pra copiar, que copiassem do original. Por conta do episódio,
Aguinaldo declarou: “Se eu tivesse que copiar algum dramaturgo da família
Gomes, escolheria, claro, o melhor, a Janete Clair”. O Jornal do Brasil, que
publicara as declarações de Aguinaldo, deu voz a Dias Gomes, pouco depois. O autor de Roque Santeiro o classificou como megalômano, e disse considerar a
declaração sobre Janete Clair um desrespeito à memória da novelista. “Tendo
sido ela uma pessoa de muito bom gosto, não iria reencarnar em pessoa tão feia
por dentro e por fora”.
- Em meio ao imbróglio, Aguinaldo
Silva e seus parceiros criaram uma cena recheada de ironia, unindo Roque Santeiro e Pedra Sobre Pedra. Naninha (Ilva Niño) exclamava ao ouvirem chamar
Pilar Batista (Renata Sorrah), sua patroa, de “viúva”: “Não chama ela de viúva
que ela detesta. Viúva era a outra”, numa alusão à Porcina (Regina Duarte),
protagonista de Roque Santeiro e
patroa de Mina, também vivida por Ilva Niño.
- A desavença ainda impediu que
personagens de Roque Santeiro, e
também Tieta, figurassem em Pedra Sobre Pedra, numa grande festa que
encerraria o último capítulo da novela. O departamento jurídico da Globo vetou
a ideia, temendo não ter o aval dos autores envolvidos nas duas obras (ou mais
precisamente, o de Dias Gomes).
- Rosane Collor, então primeira-dama
do Brasil, também não escapou da ironia. Rosemary Pontes (Elizangela), mulher
do deputado Ivonaldo (Marco Nanini), chegava a Resplendor, vinda de Brasília, e
se irritava ao ver o marido sem a aliança matrimonial. Uma alusão aos boatos de
separação envolvendo Rosane e seu marido, Fernando Collor de Melo.
- O celular, entretanto, não se
popularizou entre os telespectadores, devido a seu alto custo. Já o antúrio,
que quando ingerido trazia Jorge Tadeu (Fábio Jr.) de volta à vida, virou moda.
Usada apenas para decorar igrejas, a flor passou a figurar entre as mais
vendidas nas floriculturas, e servia como brincadeira, já que quem a recebia
era associada ao simbolismo erótico denotado na novela.
- Exibido no capítulo 152 de Pedra Sobre Pedra, o Auto de Nossa
Senhora da Luz fez tanto sucesso que fora transformado em especial de Natal,
exibido em 23 de dezembro de 1992, logo após De Corpo e Alma. Flávio de Campos, colaborador de Aguinaldo Silva e
seus parceiros e responsável pelo texto do Auto, introduziu dois novos
personagens no especial; dentre eles, um menino de rua que deu o gancho para a
exibição das cenas da novela, editadas para um programa de 50 minutos.
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