- Pedra Sobre Pedra estreou em 06 de janeiro, substituindo O Dono do Mundo. Devido à fraca repercussão desta, o folhetim regionalista quase fora antecipado para 25 de novembro de 1991. A complexidade da produção, no entanto, impediu que a novela estreasse antes da data estipulada inicialmente.
- Dentre os problemas a serem
resolvidos para que Pedra Sobre Pedra
pudesse estrear estava a escolha do título. Aguinaldo Silva a concebeu como ‘Resplendor’.
No início da pré-produção, a novela fora chamada, provisoriamente, de
‘Garimpo’. Logo depois, veio a definição da direção da emissora: ‘Fruto
Proibido’ chegou a ter a logomarca desenvolvida pelo departamento de criação
capitaneado por Hans Donner. Outros nomes surgiram até que chegassem ao
definitivo; dentre eles, ‘Ferro e Fogo’ e ‘Paixão Proibida’, que contava com a
torcida de Aguinaldo Silva.
- Escalar o elenco também não foi
tarefa fácil. Tarcísio Meira e Betty Faria encabeçariam a produção, como Murilo
Pontes e Pilar Batista. Boni, então todo-poderoso da emissora, vetou a
escalação da atriz, para evitar comparações com Tieta, trabalho anterior do trio de autores. Tarcísio também acabou
deixando o projeto. Para seu posto, foram cogitados Cláudio Marzo (com contrato
vigente na Manchete), José Wilker (trabalhando no desenvolvimento de
longas-metragens nos Estados Unidos) e Rubens de Falco (que acabara de concluir
sua participação em Salomé, às
18h). Lima Duarte fora então escalado,
surgindo a partir daí sua parceira de cena, Renata Sorrah, convocada por Paulo
Ubiratan.
- Aguinaldo Silva pediu para que a
Globo possibilitasse a escalação de atores com os quais já havia trabalhado:
Armando Bógus, Eloísa Mafalda, Luiza Tomé, Paulo Betti e Pedro Paulo Rangel. Também
nomes que nunca haviam participado de uma trama sua, como Andréa Beltrão, Eva
Wilma e Nívea Maria. E, enquanto ainda idealizava a sinopse, já pensava em
contar com Maurício Mattar e Adriana Esteves, como Leonardo Pontes e Marina
Batista.
- Outro nome pretendido pelo autor, desde as primeiras linhas da sinopse, era o de Fábio Jr., de volta à TV após um afastamento de seis anos. Cogitado para diversas produções, desde que explodiu em todo o país com o sedutor Roberto Mathias, de Roque Santeiro, Fábio havia decidido dar um tempo na carreira de ator para se dedicar à música. E só aceitou retornar porque pode conciliar sua agenda de cantor às gravações da novela. Entre as exigências de Fábio para dar vida ao retratista Jorge Tadeu estavam a divulgação dos shows de sua turnê, Intuição, na programação da emissora, e um roteiro de gravações que lhe ocupasse por apenas dois dias a cada quinzena.
- A equipe de produção mobilizou 70
pessoas entre atores, técnicos e produtores para as tomadas no Parque Nacional
da Chapada Diamantina, região central da Bahia. Dois caminhões com 80 toneladas
de equipamento deram suporte às gravações, em locais inóspitos como a gruta da
Pratinha, no distrito de Santa Rita, e na cachoeira Poço do Diabo, a 20km de
Lençóis.
- Tanto a produção como o elenco
levantavam pontualmente às 5h e às 7h as cenas, sob direção de Paulo Ubiratan e
Gonzaga Blota, já estavam sendo rodadas. À noite, “causos” contados por Lima
Duarte serviam como passatempo à equipe. Entre as normas da Globo para os
profissionais envolvidos nas gravações, constavam orientações para os cuidados
extremos com o meio ambiente e a ordem de não estabeleceram muito contato com a
população local, a fim de não prejudicar os hábitos dos moradores. Os anfitriões, no entanto, não deram
trégua ao elenco. Além de Fábio Jr., Maurício Mattar também era constantemente
requisitado. Ambos tratados como Roberto Mathias e João Ligeiro, respectivamente,
seus personagens em Roque Santeiro,
então em reprise nas tardes da Globo.
- O sucesso de Roque Santeiro, aliás, favoreceu a coprodução estabelecida com a
RTP, Rádio e Televisão Portuguesa. Jorge Adib, então diretor-geral do Apoio de
Comunicação e Divisão Internacional de Vendas da Rede Globo, classificou a RTP
como a maior cliente da emissora, na aquisição de suas novelas. José Eduardo
Muniz, diretor do Canal 1 da RTP, justificou a parceria com o fortalecimento
das ligações entre Brasil e Portugal, em uma novela ligada ao regionalismo,
temática de sucesso no exterior, por conta de Tieta e Roque Santeiro. A
RTP custeou 20% do orçamento da novela e apoio técnico para as gravações em
Portugal, com atores locais.
- Carlos Daniel e Suzana Borges foram os
atores portugueses escalados para Pedra
Sobre Pedra, após assistirem uma gravação de O Dono do Mundo, para conhecerem o ritmo de gravações da telenovela
brasileira, e se submeterem a testes. Ambos surgiram na história no capítulo
30, como os irmãos Ernesto e Inês, que investigavam o assassinato do tio-avô,
motivado pela ambição do vilão Cândido Alegria (Armando Bógus). Carlos Daniel,
formado em Teatro, já havia participado de séries e novelas. Suzana, por sua
vez, ainda não havia trabalhado em televisão.
- A figura de Jorge Tadeu (Fábio Jr.)
surgiu a partir da notícia de um jornal paulista, lida por Aguinaldo: um homem
enciumado matou a noiva, após descobrir que ela listava todos os homens com
quem já havia se relacionado, atribuindo notas ao desempenho sexual de cada um
deles. Hábito que o retratista mantinha, e que tanto causou furar na busca por
sua inseparável caderneta, desaparecida desde sua morte.
- A princípio, Aguinaldo Silva e Ana
Maria Moretzsohn apresentaram Pedra Sobre
Pedra a Paulo Ubiratan como minissérie. Avaliada como “vasta demais para
uma minissérie” pelo diretor, a ideia foi engavetada e a dupla optou por
adaptar Riacho Doce para a faixa de
dramaturgia das 22h30.

- O figurino desenvolvido por Helena
Gastal destoava da grandiosidade dos cenários. Os personagens se vestiam de
forma simples, com poucas roupas, como convinha ao ambiente rural. Apenas a
farda, sugerida pelos autores, de Francisquinha (Arlete Salles) e a
extravagância de Rosemary (Elizangela) destoavam.
- A abertura desenvolvida por Hans
Donner, auxiliado por 25 profissionais do departamento de criação da Globo,
apostava em um jogo de encaixe de elementos da natureza (mais precisamente da
paisagem da Chapada Diamantina) com o corpo da então modelo Mônica Fraga. As
imagens feitas com a moça, em estúdio, se fundiram à takes de rios, cachoeiras,
troncos de árvores, grutas e cânions.
- A ideia inicial de Hans Donner, no entanto, remetia ao ciclo de vida das famílias Pontes e Batista. A fisionomia dos pais seria transformada na dos herdeiros, através da computação gráfica, em efeitos como os utilizados no clipe ‘Black or White’, de Michael Jackson.
- A fantasia que permeava o roteiro de
Pedra Sobre Pedra deu trabalho, e
muito trabalho, à equipe de produção da novela. A morte de Jorge Tadeu (Fábio
Jr.), uma cena de três minutos de duração, demorou seis horas para ser
executada. Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, com colaboração de Antônio
Jayro Fagundes, psicólogo especialista em animais, a tomada contou com 146
borboletas monarcas, que pousavam sobre o corpo do dublê de Fábio Jr.,
besuntado com mel. O diretor traduziu a essência da cena, em entrevista sobre
os bastidores da gravação: “As borboletas são atraídas pelo cheiro desprendido
pelo corpo de Jorge Tadeu. Bebem o sangue de seu peito e levantam voo, como se
levassem a alma do fotógrafo”.
- O arbusto no qual Jorge Tadeu (Fábio
Jr.) urinava constantemente também deu dor de cabeça aos responsáveis pela
produção. A pequena planta, que se contorcia e dava risada, quase não saiu do
papel. Foi Carlos Manga, supervisor de qualidade da Globo na época, quem
lembrou de Domingos Utimura, que trabalhava há 28 anos com efeitos especiais
(como o da “morte” do orelhão em um comercial da Telesp). Utimura concebeu um
molde de silicone de um arbusto de Fícus e, posteriormente, o reproduziu em
resina. Substituiu o miolo do tronco por cabos de aço flexíveis que, acionados
por controle remoto, movimentavam as folhas, sendo estas verdadeiras.
- Os serviços de Domingos Utimura seriam novamente requisitados pela produção de Pedra Sobre Pedra. Foi ele quem elevou o pequeno arbusto à condição de árvore frondosa, utilizando a inversão do processo natural de crescimento da planta. Quatro homens, munidos de balões de oxigênio, entraram em um buraco, para dentro do qual puxaram a árvore de Fícus. A cena foi exibida ao contrário, passando a impressão de que a planta estava brotando. Câmeras de ar infladas permitiram o efeito da calçada sendo destruída pela raiz da árvore e um plástico no entorno, coberto com terra, passava a impressão de que havia um tremor no momento em que surgira a planta.
- João Neto, responsável pelos efeitos
especiais da novela, utilizou 120 mil litros de água, de nove carros-pipas,
para simular a forte chuva que marcara a primeira noite de amor de Carlão
(Paulo Betti) e Vida (Luiza Tomé). Andréa Beltrão, que participara da
sequência, passou mais de três horas com o corpo todo molhado, fazendo uso de
vitamina C e café quente para evitar indisposições futuras. Três caminhões de
terra vermelha foram utilizados para criar a lama que tomara as ruas de
Resplendor após o temporal. O resultado ficou tão crível que os editores não
precisaram recorrer à cenas de arquivo para conferir mais veracidade ao dilúvio
da ficção.
- O Silicom Graphics, computador de
última geração da Globograph, departamento visual da Globo, possibilitou outras
sequências memoráveis de Pedra Sobre
Pedra. José Dias, responsável pelo setor, agregou imagens de arquivo,
realizadas na Chapada Diamantina, a cenas de Yago (Humberto Martins), à cavalo,
saltando um obstáculo na Hípica. Assim, conseguiu traduzir em imagens a cena
concebida pelos autores, para encerrar a trajetória do personagem: após perder
um duelo com Carlão (Paulo Betti), Yago se atira de um penhasco. Uma corda foi
removida, e estrelas foram adicionadas, por computação gráfica na cena em que
Sérgio Cabeleira (Osmar Prado) era dominado, em definitivo, pela lua. E o
efeito morf, bastante utilizado na
publicidade, propiciou a metamorfose de Cândido Alegria (Armando Bógus),
transformado em estátua de pedra.
- No dia 19 de junho de 1992, restando
mais de um mês para o final, Regina Rito, em matéria para o Jornal do Brasil,
revelou o final da novela. Pouco depois, a mesma publicação trouxe recados que
os autores anexaram às cenas do último capítulo da trama. Enviaram um beijo
para Lília Cabral, a gaúcha Alva, e classificaram como um momento de muita
emoção o trabalho com Andréa Beltrão e Eva Wilma. Na cena em que Cândido
Alegria (Armando Bógus) é humilhado por Murilo (Lima Duarte), que o manda para
o inferno, pediram que a câmera fechasse “naquela cara de Cândido que só o
Divino Bógus poderia fazer” e atribuíram ao ator o final do vilão, transformado
em uma figura diabólica, como ele queria. Após o fim, um recado ‘insolente’: “E
quem for suficientemente atrevido, que escreva outra... E é o final”.
- Na cena em que turistas visitam
Resplendor para a ver a estátua de pedra de Cândido (Armando Bógus), Aguinaldo
Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares apareceram como figurantes.
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