Seguindo com nossas sugestões para o
primeiro horário de novelas da tarde (14h30) do Viva, trazemos hoje a primeira
das novelas eleitas em nossa última enquete. O Salvador da Pátria tem a pegada rural de Pedra Sobre Pedra, uma engendrada trama de suspense com a de A Próxima Vítima, e um forte conotação
política, que a aproxima dos títulos exibidos às 00h00, como Roque Santeiro e sua contemporânea, Que Rei Sou Eu?.
Mais
atual do que nunca
O Salvador da Pátria, por sua temática
política, seria excelente opção para os dias de hoje.
1989. O Brasil vivia a expectativa de
eleger um presidente por meio de eleições diretas, após anos de ditadura. Na
disputa, Fernando Collor de Melo e Luís Inácio Lula da Silva. A TV Globo fora
acusada de promover a campanha de Collor, com a novela das 19h, Que Rei Sou Eu?. E também fora acusada
de fazer apologia à figura de Lula, através do cartaz das 20h, O Salvador da Pátria. Para o grande
público, no entanto, ambas as tramas não passavam de mero entretenimento. As
autoridades em Brasília, porém, não viam da mesma forma. Pressionaram o autor
Lauro César Muniz e a TV Globo para que os rumos da novela fossem alterados,
diminuindo a força política de O Salvador
da Pátria. O que, entretanto, não reduziu o brilho da novela.
O
Salvador da Pátria
sucedeu Vale Tudo, que debatia a
ascensão honesta de poucos em contraponto a total falta de escrúpulos de
muitos. E, a princípio, conseguiu o que parecia improvável para qualquer novela
que ocupasse a vaga deste grande sucesso, que emplacou em 2010, outra vez, na
apresentação do Viva. Com médias próximas aos 80 pontos, O Salvador da Pátria emplacou logo de cara! As alterações as quais
fora submetida, no entanto, reduziram os índices da novela. Os bastidores
ficaram tumultuados. Cortes em cenas fortes, como a que Camila (Mayara Magri)
induzia a um aborto, insatisfação de atores tarimbados como Cláudio Cavalcanti
(Eduardo) e Marcos Paulo (Paulo), e pressões políticas embaralharam a narrativa
no terço final.
A novela se iniciava com um crime: quem matou Juca Pirama (Luís Gustavo), o radialista da pequena Tangará que incomodava as autoridades locais ao expor seus podres? Juca estava envolvido em uma ardilosa trama orquestrada pelo deputado Severo Blanco (Francisco Cuoco). Ao ter seu caso com a ninfeta Marlene (Tássia Camargo) descoberto por Juca Pirama, o político se desespera. Se hoje a Lei da Ficha Limpa é arma eleitoreira, diante de uma infinidade de políticos criminosos, naquele final dos anos 80, bom político tinha que manter uma família feliz e uma moral rígida. Logo, Severo não poderia estar envolvido com aquela menina, o que o leva a apressar o casamento dela com outro. O primeiro pretendente (Tarcísio Filho) o desagrada, ao deixar claros seus intentos ambiciosos, compartilhados por Marlene. É quando Gilda (Susana Vieira), esposa de Severo e conivente com as traições do marido, encontra Sassá Mutema (Lima Duarte), boia-fria que trabalha, nas horas vagas, como jardineiro da mansão dos Blanco. Figura honesta, simplória, praticamente um ignorante, Sassá logo se vê engendrado no plano ardil do casal que domina a sociedade de Tangará. Mesmo apaixonado pela professora Clotilde (Maitê Proença), que surge na cidade para alfabetizar os trabalhadores rurais, Sassá aceita se casar com Marlene. O que mudaria sua vida, em definitivo: logo, ela e Juca são assassinados e o matuto apontado como autor de um crime passional, motivado pela descoberta do caso de Marlene com o radialista.
Sassá é preso, se recusa a falar do
crime que não cometeu, e acaba defendido pelo advogado Cássio (Thales Pan
Chacon), contratado por Severo. A população essencialmente machista de Tangará
o apóia, liderados por Nilo (Flávio Migliaccio), na suposta “lavagem de sua
honra”: eliminou a adúltera e o radialista cuja língua ferina só trazia
desagravos aos moradores do local.

Falando em política, Severo já se
refestela na cama de outra amante. Desta vez, nada de mocinhas ignorantes e
ardilosas como Marlene. Numa partida de tênis, Severo conhece Bárbara (Lúcia
Veríssimo), herdeira do banqueiro Hermínio (Benjamim Cattan). O romance logo é
descoberto por Gilda, que, agindo friamente, induz as ações de Severo, dependente
financeiramente da esposa. A moça, ao perceber este jogo, resolve terminar o
relacionamento. Gilda comemora, espezinhando Severo, que demonstra estar
verdadeiramente apaixonado por Bárbara. Num jantar com Hermínio e a neta, o
político não se controla e diz, na frente de Gilda e do filho, Sérgio (Maurício
Mattar), que está amando Bárbara. Em casa, discute com a esposa, chegando à
agressão: é quando Gilda diz que irá denunciá-lo pelo assassinato de Juca e
Marlene. Gilda chega a procurar o delegado Plínio (Antonio Grassi), diz ter
declarações importantes a fazer, e acaba indo parar na rádio local. A ardilosa
consegue o que quer: Severo volta para casa, como um cordeirinho. A armação, no
entanto, complica ainda mais a situação de Sassá: diz que sua importante
revelação era o fato de saber que Marlene estava grávida do marido
.
Sassá se afunda cada vez mais na trama
de assassinato: em entrevista ao rádio, diz que matou Juca e Marlene com uma
garrucha, que atirou no rio. João tenta passar veracidade à história, jogando
uma arma no ribeirão para que a polícia a encontre durante a reconstituição do
crime. Mas a trama não vai longe: Marina Sintra (Betty Faria), rival política
de Severo e principal aliada de Sassá, e sua filha, Alice (Suzy Rêgo), procuram
João para desmentir tudo o que o boia-fria declarou. Ambas acabam se
interessando pelo tal radialista, que por conta dessa paixão de Alice, se verá
frente a frente com a ex-mulher. Namorando Paulo (Marcos Paulo), funcionário
das empresas de Marina, Ângela se vê convidada por ele e Alice para um jantar
com Miro Ferraz. Qual não é surpresa de Ângela ao ver que está diante de João
Mattos, que já fora descoberto pela filha. Regina, surpreendentemente adulta,
decide ajudar o pai a manter sua identidade em segredo, enquanto ele se
compromete a afastar Ângela de Paulo.
Marina Sintra é figura importante na
cena política de Tangará. Seu candidato, Lauro Brancatto (Cecil Thiré) deve
disputar a prefeitura com Sérgio, o filho de Severo e esposa da estúpida Sílvia
(Alexandra Marzo). Gilda, aproveitando-se da posição que Sassá passa a
desfrutar na cidade, mesmo sendo suspeito de um crime, trata logo de promover
uma festa de aniversário para o boia-fria, que mal sabe sua data de nascimento.
No momento de apagar as velhinhas, Sérgio se posiciona ao lado de Sassá, que,
esperto, chama Lauro para ficar ao seu lado. O médico conta com o apoio de
Clotilde, a quem Sassá segue fielmente. Para desiludir o matuto, Gilda
orquestra outro plano, na mesma festa: induz o pedido de casamento dele para
Clotilde, que, sem saber o que fazer, sai correndo.
Diferentemente do que Gilda planejara,
no entanto, Sassá ganha força política a ponto de se tornar rival de Sérgio na
disputa pela prefeitura. Cartazes anônimos começam a ser espalhados pela
cidade, indicando Sassá para prefeito. Marina e Severo ficam desesperados com a
campanha, que ganha contornos mais fortes quando o boia-fria descobre que
Clotilde está estudando sua categoria, a quem classifica como seres primitivos.
Revoltado, Sassá se lança oficialmente como candidato. Gilda reage
imediatamente, exigindo a retirada de seus cartazes da praça, ação que leva o
matuto a se embriagar e partir para a agressão. Preso novamente, Sassá se
fortalece ainda mais perante a opinião pública. Severo, temendo a candidatura
do filho, que está em processo de divórcio após se apaixonar por Camila (Mayara
Magri), filha de Marina, decide intervir. Pendura um boneco em uma árvore da
praça central, que se assemelha à Sassá e ostenta uma faixa no peito,
classificando-o como “assassino”. Sassá se apossa do boneco e tenta destruí-lo,
mas Clotilde o surrupia e chega a dormir abraçada com ele. É Quinzote (grande
Mário Lago!) quem tem uma nova ideia à respeito do boneco: retira o “assassino”
e estampa “o salvador”. Os boias-frias que apóiam Sassá se mobilizam,
invadem a fazenda de Severo e quebram tudo, levando Gilda a chamar a polícia. O
deputado, entretanto, é mais rápido: oferece bebida a todos e diz que os amigos
de Sassá são seus amigos também. Pouco depois, Sassá faz seu primeiro comício,
sabotado com um misterioso black-out.
A situação se inverte quando Sassá
recebe do verdadeiro assassino a arma do crime que eliminou Juca e Marlene, bem
como um lenço sujo de sangue. Tentando ficar longe de Clotilde, Sassá entrega
tais provas à polícia. Sem ter como defendê-lo, Cássio vê seu cliente ser
condenado a oito anos de prisão, o que derruba a aceitação de sua candidatura e
fortalece Sérgio. Só que Sérgio sucumbe à suas agruras pessoais e renuncia à
candidatura. Nas bodas de prata de Gilda e Severo, Bárbara surge acompanhada de
um francês, causando ciúme no amante; enquanto isso, Gilda, para quebrar o
clima de constrangimento e vender a imagem de família feliz, cobra um neto de
Sílvia. O que ela nem imagina é que Sérgio já engravidou sua amante, Camila,
que sofre um aborto espontâneo, para sua alegria, uma vez que já havia deixado
claro à Sérgio e a Marina, sua mãe, que não iria usar sua gravidez a favor da
disputa política de Tangará. Sérgio fica desolado, ainda mais quando descobre que
a mulher de quem queria se separar, Sílvia, está grávida. O filho de Severo
parte para a Rádio Clube, onde declara para Miro / João, que não irá disputar
as eleições.
Enquanto planeja se mudar com Camila para o Rio de Janeiro, Sérgio
vê a mãe se lançar candidata. Mais um golpe de mestre de Gilda, que consegue
assim combalir o romance clandestino de Bárbara e Severo, que se vê obrigado a
apoiar a mulher para não perder a disputa eleitoral em Tangará. Disputa esta que esquenta, quando
Sassá, posto em liberdade, renova o visual e procura os partidos rivais para
negociar o melhor cenário político para Tangará. Enquanto o partido de Marina o
induz a apoiar Lauro, Gilda o destrata, pedindo a ele que cuide de seu jardim,
como fazia anteriormente. Só que Gilda é surpreendida pela altivez de Sassá,
que propõe um debate na rádio local, entre ela, Lauro, e ele.
Em paralelo à disputa política, João
se vê envolvido com Marina, mas desperta a atenção de Ângela, que o considera
ainda mais bandido do que antes, mas mesmo assim, parece querê-lo de volta,
chegando a desprezar Paulo. João se vê cada dia mais dividido: chega a deixar
Marina, que também desperta as paixões de Lauro e Eduardo (Cláudio Cavalcanti),
à sua espera, no sótão de sua casa, enquanto leva Ângela para a rádio. O
radialista, que, na verdade, é piloto de avião, conta a ex-mulher que é
inocente e só está envolvido com a organização para convencer a Justiça de que
não pode ser acusado pro crimes que não cometera. Estaria João falando a
verdade? Marina, desconfiada do comportamento de Ângela com relação a Miro, irá tratar de
descobrir.
Os imbróglios amorosos invadem também
as tramas paralelas. O delegado Plínio se apaixona por Dinah (Aldine Muller),
secretária de Marina. A moça, no entanto, fora noviça, o que a impede, mesmo
indo até um motel com Plínio, de se entregar a ele. Já o núcleo jovem também
ganha força através de Régis (Eduardo Galvão, que veremos em breve em Despedida de Solteiro), funcionário da
rádio que milita a favor de Sassá nas eleições.
Eleições que fazem de Sassá o novo
prefeito de Tangará! Após o debate, Lauro retira sua candidatura para apoiar o
boia-fria. É quando este é alvo de uma surra, dada por capangas de alguém em
uma estrada deserta. No meio do espancamento, Sassá arranca a medalha do pescoço
de um dos agressores e, logo após se restabelecer com os cuidados de Clotilde e
Quinzote, diz à população local que irá punir quem o agrediu. As eleições
acontecem e com apenas 1% de diferença, Sassá é eleito, para a tristeza dos
Toledo Blanco e a alegria de João Mattos, que sabia da necessidade da
organização de ter Sassá como prefeito, por julgá-lo como o candidato certo
para beneficiar o tráfico de drogas da região, diante de sua ignorância.
A tal organização criminosa domina a
segunda parte da narrativa de O Salvador
da Pátria, iniciada com a posse de Sassá. João, ao lado de seu colega de
rádio, Tomás (Antônio Calloni), recebe os membros da organização para uma
comemoração em sua casa. Por ter colocado um fantoche no poder, João recebe 500
mil dólares. Só que os tais membros da organização são metralhados tão logo
deixam a casa de João, que, com medo, divide seu pagamento com Tomás e entrega
sua metade à prefeitura, por intermédio de Marina. A essa altura, a fazendeira
já tomou conhecimento do passado de Miro (na verdade, João), através de
Eduardo, que lhe passa informações sigilosas em troca de dinheiro e da
confirmação de que é o verdadeiro pai de Camila, fato que não procede.
Os desenlaces também se intensificam
nesta fase. Gilda, derrotada nas urnas, exige de Severo uma união mais sólida,
se comprometendo até mesmo a alterar o domínio do dinheiro na família. Mas ele
está determinado a ficar com Bárbara, o que leva Gilda a denunciar o
esconderijo dos amantes a Hermínio. O tiro sai pela culatra e Severo acaba
desmascarando a mulher perante os filhos, revelando que o casamento dos dois
nunca foi nada além de uma negociação financeira. Rafaela (Narjara Turetta), a
filha devotada ao pai, que resistia ao seu romance com Bárbara, também passa a
apoiá-lo, deixando Gilda sozinha, em definitivo. Marina também fica sozinha,
após Regina lhe confirmar que João e Miro são a mesma pessoa e fazer com que a
namorada do pai o flagrasse com Ângela em um momento de intimidade. Sassá
também se vê abandonado: certo de que iria assumir a prefeitura ao lado de
Clotilde, Sassá a vê partir. A professora descobre que está grávida do
ex-marido, Ricardo (Gracindo Jr.), e tem dificuldades em aceitar a gestação, uma
vez que seu primeiro filho faleceu após ser erroneamente medicado pela mãe, em
um momento de embriaguez desta.
Pouco depois, a organização volta a
dar sinais de vida, mostrando a João que não será fácil deixar o crime. Um
dossiê chega até o delegado Plínio, no qual Miro Ferraz é acusado de ter matado
Juca e Marlene. Preso, o radialista é surpreendido por Regina, que vai ao
delegado e revela que o pai, na verdade, é João Mattos. Com a ajuda de Cássio,
João prova ao delegado que não passou de um “laranja” na organização criminosa.
Livre, retorna à sua vida, sem saber se ficará ao lado de Marina ou Ângela. A
decisão não tarda: na festa de aniversário de Regina, João a presenteia com um
pônei, do qual a menina despenca. Após passar dias desacordada, Regina recobra
a consciência e pede ao pai que forme uma família com ela e Ângela. As coisas não parecem fáceis para
Marina: a fazendeira decide promover uma ação popular contra Sassá, por ele,
como prefeito, arquivar o processo contra Severo, por conta de um desfalque na
prefeitura. A situação incomoda Sérgio, que discute com a mãe de Camila,
fazendo esta que revelar que Marina, no passado, foi prostituta. O clima se
torna insustentável e Sérgio se vê obrigado a voltar para a casa dos pais, se
reaproximando de Sílvia e do filho recém-nascido.
Para o prefeito, uma nova chance. Seu novo
julgamento é marcado e Sassá, desta vez, está decidido a falar toda a verdade.
Gilda, porém, o convence a manter a mentira, apostando em sua absolvição, que
realmente ocorre. Só que a partir daí, a figura de Juca Pirama retorna para
assombrar a população de Tangará. Através de uma rádio pirata, a voz de Juca
comenta a decisão do tribunal, eximindo Sassá da culpa. A partir daí: o
fantasma de Juca assombra a cidade. O caixão do radialista é encontrado vazio;
Severo recebe as roupas usadas por Juca no dia do crime, lavadas e passadas; e
a aliança do noivado com Camila, que tanto amedrontou Marina, é encontrada na
escola de Clotilde. Gilda, a esta altura posando de futura esposa de Sassá,
aconselha a reunir seu secretariado e posar para uma foto, indicando união. Mas
quando a foto é publicada no jornal, um misterioso vulto pode ser visto em uma
das janelas da prefeitura, causando ainda mais assombro na população. Assustada
com o que vem acontecendo, Clotilde decide voltar à Tangará, para auxiliar
Sassá, protegendo-o até mesmo da influência maléfica de Gilda, que planeja
fazer com que Severo manipule o novo prefeito.
A voz de Juca continua aprontando das
suas e acusa João de ser o assassinado de Marlene, oferecendo um milhão de
dólares para quem executá-lo. A oferta vem após a recusa de João em pilotar um Boeing
carregado com pasta de cocaína, pela mesma quantia oferecida a quem o matá-lo.
Neste momento, Gilda e Sassá já se casaram, para surpresa de Clotilde, que
acabara de regressar à cidade. O que a professora não imagina é que a união não
passa de conveniência e que Gilda está mais interessada em tirar Severo da
rotina de seu casamento com Bárbara. Ao procurar o amado para dizer que Sassá
pretende contar a todos que Marlene estava grávida de Severo, Gilda consegue
persuadia-lo, levando-o para a cama.
Traído em casa; amado na prefeitura. Clotilde
vai ao gabinete de Sassá acusá-lo de ter traído o povo, arranca do dedo o anel
de noivado que ele lhe entregou no dia de suposto aniversário e parte para sair
da sala. Mas Sassá, ditador, exige que ela se mantenha parada como está, bate
boca com a professora e por fim, a beija. A princípio, violento e forte;
depois, suave e apaixonado. Assim é o momento que encerrou o capítulo 131 de O Salvador da Pátria, talvez a novela
que mais tenha demorado a colocar em uma situação de beijo o seu principal
casal romântico. Lauro César Muniz contrariou a lição de Janete Clair, que
dizia que os protagonistas precisavam se beijar até o capítulo 16 (o que
motivou a criação da ‘cena do cachorro’ entre Júlia (Sônia Braga) e Cacá
(Antonio Fagundes) em Dancin’ Days). O Salvador da Pátria seguira até seu
terço final com apenas declarações de amor por parte de Sassá e a constante
fuga de Clotilde da paixão que sentia pelo aluno.
O romance só não domina a cena de O Salvador da Pátria, porque Juca Pirama
surge ao vivo e a cores na TV de Ouro Verde, cidade vizinha de Tangará. A polícia
decide agir e descobre uma Kombi no meio do mato, abrigando a rádio-pirata operada
por Neco Carranca (Waldir Santana), que serviria como testemunha de defesa no
processo contra Sassá. Neco ameaça contar toda a verdade, deixando Sassá e
Gilda desesperados, afirma que esteve com Juca Pirama e pouco depois, é
assassinado na cadeia, aumentando o mistério em torno do suposto fantasma. O
beijo que dera em Clotilde na prefeitura servirá como álibi para Sassá, que
acusado de ter matado Neco, confessa ao delegado que estava com a professora,
que confirma tudo. Apaixonado, Sassá parte para a agressão contra Ricardo, ao vê-lo
na fazenda de Quinzote, que, assim como Clotilde, teme pelo que o poder pode
ter feito ao até então honrado Sassá.
O tempo passa e Clotilde, aos seis
meses de gestação, entra em trabalho de parto. Entre a vida e a morte, a
professora consegue trazer Sassá de volta à sua essência, uma vez que ele se põe a
rezar, pede perdão pelos seus atos despóticos, e chega a oferecer sua vida a Deus,
caso a amada seja poupada. Clotilde foi para o hospital brigada com Sassá, após
ser envolvida em um plano de Gilda, que pagou uma prostituta para inventar que
estava grávida do ex-boia-fria, fazendo cair por terra sua alardeada virgindade.
Farto das intromissões de Gilda, Sassá a segue, descobre o local em que ela se
encontra com Severo, exige a fazenda dos Toledo Blanco para lhe dar o divórcio,
e conta a Bárbara sobre a traição de seu marido com a ex-mulher, fazendo com
que a moça fique ao seu lado na fazenda. Ao tentar comprar Sassá para ter Bárbara
de volta, Severo ouve o prefeito lhe dizer que irá revelar todo o seu passado.
A moça, por sua vez, aproveita a estadia para organizar uma festa junina na fazenda,
com a presença de Chitãozinho & Xororó. Curioso ver com as novelas de
antigamente permitiam a participação de músicos que não figuravam em suas
trilhas sonoras. Em Pedra Sobre Pedra,
por exemplo, pode-se ouvir nas cenas do Grêmio Recreativo, canções como ‘Entre
Tapas e Beijos’, de Leandro & Leonardo, que não fez parte de nenhumas das
trilhas da novela, em exibição às 14h30, no Viva.
Pouco depois, no entanto, Bárbara se
entendia e decide deixar a fazenda. Mas Sassá decide que, a partir daquele
momento, ela está realmente sequestrada. Neste período, os dois chegaram a se
beijar, mas não vão além, preservando a virgindade de Sassá, que concorda em
liberar Bárbara, caso Clotilde ocupe o seu lugar. Temendo que o amado perca a
prefeitura, diante de um de impeachment proposto pela Câmara, Clotilde parte
para a fazenda, onde Sassá diz que irá assumir seu filho. Severo, por sua vez,
também pode perder o mandato, já que não comparece às sessões dos deputados, em
Brasília. Acuado, parte para lá com Gilda, deixando Bárbara furiosa.
Já João conta com o apoio de Marina,
com quem está decidido a se casar, para proteger Regina, diante da ameaça de
morte que sofreu com os cartazes que o acusavam de ter matado Marlene. Mesmo
sob os cuidados da fazendeira, Regina é sequestrada. João decide então aceitar
a proposta de pilotar o Boeing, mas diante das tratativas de Marina com a
organização para acompanhá-lo, acaba resolvendo fugir para a Bolívia, onde se
encontra com o verdadeiro Miro Ferraz, enviado pela lá após Sidney (Cláudio
Curi), outro membro da organização, grampear o telefone de Marina e descobrir
onde João havia se escondido. As filhas de Marina, Alice e Camila, também
preocupam a mãe, devido ao comportamento liberal que mantém. Alice já se
envolvera com João, Paulo, e, nesta altura da novela, tentara conquistar Cássio,
com quem Camila estava se relacionando, após o noivado com Juca e o caso extraconjugal
com Sérgio.
O jantar é a chance de Sassá desmoralizar
o homem que o induziu a entrar nesta trama repleta de intrigas. Após a
prostituta contratada por Gilda revelar à Clotilde, mediante suborno, que não
transou com Sassá, este procura pela moça, a suborna com o dinheiro de Gilda, e
decide revelar toda a verdade sobre a morte de Marlene, em frente à imprensa. Faz
isso no tal jantar, solidificando sua imagem perante o eleitorado de Tangará,
tornando-se conhecido em todo o país e sendo enaltecido pelo trabalho junto aos
boias-frias. A organização criminosa reage e ordena que Severo recrie sua
imagem, doando eletrodomésticos aos pobres e conseguindo com João a doação da
fazenda de Juca, para uma provável reforma agrária que irá beneficiar os boias-frias
de Tangará.
João, por sua vez, continua com a
filha sequestrada, afastado de Ângela, e prestes a fazer com Marina a tal
viagem de Boeing. A chefe dos Sintra descobre que Dinah, sua secretária, faz
parte da organização e que irá manter suas filhas sob vigilância enquanto ela
estiver fora. A decolagem do avião, no entanto, tarda a acontecer, já que Verônica
(Ana Maria Nascimento e Silva), misteriosa loira que servia de elo entre João e
a organização, inconformada com o fato de seus chefes terem proibido o Dr. Lauro
de operar seu pai, denuncia à polícia o plano criminoso. Pouco depois, Verônica
é assassinada pela organização, morrendo nos braços de Lauro. Sidney também é
morto pela polícia, enquanto Dinah e Tomás são presos. A organização criminosa,
no entanto, não é totalmente desbaratada. Seus líderes surgem no último
capítulo: Hermínio e a neta, Bárbara que, embora não consiga levar o avião
carregado de droga à Paris, embarca sorridente para a capital francesa.
Assim, O Salvador da Pátria chega a seu desfecho. Sem conseguir chegar à
presidência, Severo retoma o casamento com Gilda e garante que irá se manter no
poder com o resultado das próximas eleições. Passa também a flertar com a nova
empregada de sua casa, o que agrada Gilda. A força política de Marina Sintra não
esmorece, mesmo diante do envolvido da fazendeira com o criminoso João, agora
livre da organização e da polícia, e longe de Ângela e Regina, que decidem
morar em São Paulo. Marina também inaugura a nova fábrica de sucos da família
Sintra, numa festa que possibilita o reencontro de Alice e Paulo e o noivado de
Camila e Cássio, enquanto Sérgio decide continuar com Sílvia, e sua irmã,
Rafaela, consegue consumar sua união com Régis.
Em virtude da projeção que ganha com o
trabalho junto aos boias-frias e ao combate contra o tráfico de drogas, Sassá
ganha projeção nacional. Ao mesmo tempo, Clotilde é procurada por Ricardo, que
diz não querer a posse do filho, por acreditar que Sassá pode ser capaz de amar
o menino até mais do que ele. Clotilde e Sassá então se unem, na fazenda de
Quinzote, onde o matuto, enfim, perde a virgindade. Aclamado como salvador da pátria,
Sassá chega ao final feliz. Algo que os brasileiros ainda não conseguiram.
Aquele 1989 se concluiu pouco depois, com a renúncia de Collor. E continua
presente nos dias de hoje, dominados por uma política arraigada à corrupção. Com
O Salvador da Pátria, Lauro César
Muniz pretendia realizar uma “parábola sobre a liderança”. E nós, até hoje,
ainda não encontramos um grande líder, capaz de fazer o Brasil erradicar suas
organizações criminosas e levar o país a outro status na esfera mundial.
Por tudo isso, O Salvador da Pátria parece mais atual do que nunca. Alia-se a temática,
a excelente produção, as ótimas trilhas sonoras (embora os temas internacionais
destoassem do ambiente interiorano de Tangará) e os desempenhos irretocáveis do
elenco, em especial Luís Gustavo, numa curta e inesquecível participação como
Juca Pirama; Suzana Vieira, soberba como Gilda; e Lima Duarte, que colocou Sassá
Mutema entre os grandes personagens da teledramaturgia brasileira. Vale a pena
hein, Viva!
Vale a pena conferir uma das melhores cenas de O Salvador da Pátria: o momento em que Sassá Mutema (Lima Duarte) se declara a Clotilde (Maitê Proença).
E amanhã...
E amanhã...
Conteúdo riquíssimo, e texto primoroso!
ResponderExcluirSeguindo sua sugestão, considero que 'Amor Com Amor Se Paga' também se adequaria perfeitamente às 14h30.
Abraços.