Que intensa magia...
Reprise do seriado Mulher mostra a força da série, mais de quinze anos após sua estreia.
Na última semana, tirei o sábado para
acompanhar toda a programação vespertina do Canal Viva. Um programa em
especial, que há muito não via, me chamou bastante atenção: o seriado Mulher (exibido às quartas, 23h10, e
reapresentado aos sábados, logo após Tropicaliente).
A princípio, me atrai pelo tema abordado na atração, o Mal de Alzheimer,
realidade que vivencio através do meu trabalho. Acompanhando, porém, muitas
lembranças boas a respeito de Mulher
vieram à tona em minha memória.
Na reapresentação do último sábado,
pude conferir o episódio ‘Concerto para Piano’, exibido em maio de 1999.
Confesso que não guardava lembranças do mesmo. O dilema de Domitila (Beatriz
Segall, excelente), musicista acometida pelo Mal de Alzheimer, não esteve
presente em minhas lembranças como as histórias de Regina (Mayara Magri), que
sofrera abusos sexuais na infância em ‘Hora da Verdade’; de Mariana (Letícia
Spiller), que padece com a depressão pós-parto em ‘Repulsa’; e principalmente,
o drama de Marta (Eva Wilma), protagonista da trama, que no episódio ‘Casa de
Ferreiro’ descobre estar com câncer de mama.
Mas o fato de rememorar um ou outro
episódio, em detrimento a outros, não significa que apenas estes me atrelaram à
Mulher, durante os dois anos de
exibição da série. A ideia original de Boni, concebida por Daniel Filho com o
auxílio de Antonio Calmon e Elizabeth Jhin, me prendeu, a princípio, por conta
de sua estética apurada. Posteriormente, pela presença de duas de minhas
atrizes preferidas, Eva Wilma (a correta Dra. Marta) e Patrícia Pillar (a
obstinada Dra. Cris). E, em seguida, pelos temas médicos, que sempre me
agradaram e consistem num dos grandes clichês de nossa dramaturgia: a luta do
mocinho versus o vilão; no caso aqui, não um inimigo de carne e osso. A batalha
contra uma doença, física ou psicológica, pode ser mais arrebatadora do que o
embate físico, vide o combate à leucemia de Camila (Carolina Dieckmann), em Laços de Família, ou a mudança de
conduta causada por um aneurisma de Renato Villar (Tarcísio Meira), em Roda de Fogo.
Em Mulher,
os enredos seguiam essa lógica: participações especiais, de atrizes renomadas, vivenciado
situações de conflito causadas por patologias comumente relacionadas ao sexo
feminino. Já as médicas, Marta e Cris, batalhavam pela saúde de suas pacientes,
por melhores condições de trabalho e harmonia no ambiente hospitalar e por suas
vidas pessoais, o que beneficiou e muito o seriado. Os conflitos do casamento
duradouro de Marta e Otávio (Carlos Zara) e as confusões amorosas de Cris, com
João Pedro (Alexandre Borges) neste segundo ano da série, agregavam às tramas
da Clínica Machado de Alencar, conduzida pelo histriônico Afrânio (Cássio Gabus
Mendes, outra grande presença).
‘Concerto para Piano’, no entanto,
pouco trouxe da vida particular das protagonistas. Talvez pela complexidade do
tema. O Mal de Alzheimer ainda é objeto de estudos. Sabemos que há déficit de
memória, orientação, atenção e linguagem e, infelizmente, não há cura. Devido à
necessidade de apresentar a degradação de uma família diante do acometimento da
matriarca, Domitila, a progressão da doença foi apresentada de maneira rápida,
carregada nas tintas. No entanto, o desespero familiar, em especial da filha
Dulce (Ana Beatriz Nogueira), trouxe veracidade. Quem convive com portadores de
Mal de Alzheimer e com familiares sabe bem que as situações de desespero em que
Dulce se viu envolvida por conta da mãe são extremamente reais. Lamenta-se
também que o episódio em questão não tenha proporcionado um maior envolvimento
de Marta com o caso, já que era médica, e conselheira, da filha e não da mãe,
que só submetera a tratamento após sofrer um AVE, inconsciente.
O grande envolvimento de médico e
paciente, no episódio em questão, se deu através de Cris, que intercede junto
ao Dr. João Pedro para que o mesmo privilegie uma gestante, Helena (Isabel
Fillardis), em virtude da amizade desta com Amadeu (Paulo Barbosa), enfermeiro
do ambulatório. Era o fator humano em detrimento à ética médica: entende-se o
interesse de Cris em querer auxiliar uma paciente ligada a um profissional da
equipe de enfermagem; mas é compreensível o comportamento do Dr. João Pedro, em
negar tal auxílio, diante da necessidade de se atender a todos de maneira
igualitária.
Entre conflitos pessoais e
profissionais, Marta e Cris seguiram sua trajetória e fizeram de Mulher o grande sucesso que foi. Dentre
as séries produzidas pela Globo nos anos 90, é sem dúvida, a mais emblemática e
a de maior repercussão. O Viva nos faz perceber que todo esse sucesso foi mais
do que merecido!
Mulher era realmente uma ótima série! Sinto falta de um drama nestes moldes na atual grade da Globo.
ResponderExcluirAndré San - www.tele-visao.zip.net