quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015


Que intensa magia...
Reprise do seriado Mulher mostra a força da série, mais de quinze anos após sua estreia.

Na última semana, tirei o sábado para acompanhar toda a programação vespertina do Canal Viva. Um programa em especial, que há muito não via, me chamou bastante atenção: o seriado Mulher (exibido às quartas, 23h10, e reapresentado aos sábados, logo após Tropicaliente). A princípio, me atrai pelo tema abordado na atração, o Mal de Alzheimer, realidade que vivencio através do meu trabalho. Acompanhando, porém, muitas lembranças boas a respeito de Mulher vieram à tona em minha memória.

Na reapresentação do último sábado, pude conferir o episódio ‘Concerto para Piano’, exibido em maio de 1999. Confesso que não guardava lembranças do mesmo. O dilema de Domitila (Beatriz Segall, excelente), musicista acometida pelo Mal de Alzheimer, não esteve presente em minhas lembranças como as histórias de Regina (Mayara Magri), que sofrera abusos sexuais na infância em ‘Hora da Verdade’; de Mariana (Letícia Spiller), que padece com a depressão pós-parto em ‘Repulsa’; e principalmente, o drama de Marta (Eva Wilma), protagonista da trama, que no episódio ‘Casa de Ferreiro’ descobre estar com câncer de mama.

Mas o fato de rememorar um ou outro episódio, em detrimento a outros, não significa que apenas estes me atrelaram à Mulher, durante os dois anos de exibição da série. A ideia original de Boni, concebida por Daniel Filho com o auxílio de Antonio Calmon e Elizabeth Jhin, me prendeu, a princípio, por conta de sua estética apurada. Posteriormente, pela presença de duas de minhas atrizes preferidas, Eva Wilma (a correta Dra. Marta) e Patrícia Pillar (a obstinada Dra. Cris). E, em seguida, pelos temas médicos, que sempre me agradaram e consistem num dos grandes clichês de nossa dramaturgia: a luta do mocinho versus o vilão; no caso aqui, não um inimigo de carne e osso. A batalha contra uma doença, física ou psicológica, pode ser mais arrebatadora do que o embate físico, vide o combate à leucemia de Camila (Carolina Dieckmann), em Laços de Família, ou a mudança de conduta causada por um aneurisma de Renato Villar (Tarcísio Meira), em Roda de Fogo.

Em Mulher, os enredos seguiam essa lógica: participações especiais, de atrizes renomadas, vivenciado situações de conflito causadas por patologias comumente relacionadas ao sexo feminino. Já as médicas, Marta e Cris, batalhavam pela saúde de suas pacientes, por melhores condições de trabalho e harmonia no ambiente hospitalar e por suas vidas pessoais, o que beneficiou e muito o seriado. Os conflitos do casamento duradouro de Marta e Otávio (Carlos Zara) e as confusões amorosas de Cris, com João Pedro (Alexandre Borges) neste segundo ano da série, agregavam às tramas da Clínica Machado de Alencar, conduzida pelo histriônico Afrânio (Cássio Gabus Mendes, outra grande presença).

‘Concerto para Piano’, no entanto, pouco trouxe da vida particular das protagonistas. Talvez pela complexidade do tema. O Mal de Alzheimer ainda é objeto de estudos. Sabemos que há déficit de memória, orientação, atenção e linguagem e, infelizmente, não há cura. Devido à necessidade de apresentar a degradação de uma família diante do acometimento da matriarca, Domitila, a progressão da doença foi apresentada de maneira rápida, carregada nas tintas. No entanto, o desespero familiar, em especial da filha Dulce (Ana Beatriz Nogueira), trouxe veracidade. Quem convive com portadores de Mal de Alzheimer e com familiares sabe bem que as situações de desespero em que Dulce se viu envolvida por conta da mãe são extremamente reais. Lamenta-se também que o episódio em questão não tenha proporcionado um maior envolvimento de Marta com o caso, já que era médica, e conselheira, da filha e não da mãe, que só submetera a tratamento após sofrer um AVE, inconsciente.

O grande envolvimento de médico e paciente, no episódio em questão, se deu através de Cris, que intercede junto ao Dr. João Pedro para que o mesmo privilegie uma gestante, Helena (Isabel Fillardis), em virtude da amizade desta com Amadeu (Paulo Barbosa), enfermeiro do ambulatório. Era o fator humano em detrimento à ética médica: entende-se o interesse de Cris em querer auxiliar uma paciente ligada a um profissional da equipe de enfermagem; mas é compreensível o comportamento do Dr. João Pedro, em negar tal auxílio, diante da necessidade de se atender a todos de maneira igualitária.


Entre conflitos pessoais e profissionais, Marta e Cris seguiram sua trajetória e fizeram de Mulher o grande sucesso que foi. Dentre as séries produzidas pela Globo nos anos 90, é sem dúvida, a mais emblemática e a de maior repercussão. O Viva nos faz perceber que todo esse sucesso foi mais do que merecido!

Um comentário:

  1. Mulher era realmente uma ótima série! Sinto falta de um drama nestes moldes na atual grade da Globo.
    André San - www.tele-visao.zip.net

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