sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015


Mais uma novela da nossa enquete! A sugestão de hoje é para uma faixa que adoraríamos ver no Viva: dedicada apenas a novelas que não funcionaram como esperado (poderiam exibir Pecado Capital (1998) sem problemas nessa tal faixa!). Salomé, belíssima produção de 1991, pouca lembrada pelo público, está em cartaz! Vamos relembrar a trama?


Sedutora, mas nem tanto...
Salomé, bela produção das 18h, não empolgou, mas merece ser revista.

São Paulo, 1932. O fazendeiro Venâncio (Herval Rossano) padece com a decadência do café. Sem saída, tira a própria vida, durante uma festa na qual seu filho, Duda (Petrônio Gontijo) canta para os convidados, após noivar com Mônica (Mayara Magri). Três anos se passam. Em Paris, Salomé (Patrícia Pillar) escandaliza a sociedade ao realizar a dança dos sete véus. Seu padrasto, Antunes (Carlos Alberto), decide trazê-la de volta ao seio familiar. Ao seu lado, os amigos Berta (Suzy Rêgo) e Ruggero (Matheus Carrieri). À sua espera, a mãe, Santa (Imara Reis). Em seu caminho, Duda, hoje radialista e pretenso cantor, envolvido também com Santa.

Projeto antigo do diretor Herval Rossano, a adaptação de Salomé, original de Menotti del Picchia, caiu nas mãos de Sérgio Marques quando este colaborava com o texto de Pacto de Sangue, outra produção obscura das 18h, também dirigida por Herval. Concebida como uma novela de 150 capítulos, acabou sendo escolhida para inaugurar um novo projeto de dramaturgia da TV Globo, sendo reduzida para 60 capítulos. A produção, no entanto, ficaria excessivamente cara, o que levou Salomé, por fim, a ter 107 capítulos. Talvez por ter sido exibida entre dois grandes sucessos, Barriga de Aluguel e Felicidade, a novela acabou caindo no esquecimento. Lembro-me, no entanto, que a trama repercutiu bem em 1991. Em casa ninguém perdia um capítulo!

Apaixonada por Duda, e notando o interesse do rapaz em Salomé (após flagrá-la em um saliente banho de cachoeira), Santa, que também já notou o excesso de zelo de Antunes para com a enteada, induz o marido a afastar os dois. Mas Antunes é um homem de medidas práticas e, ao invés de procurar soluções mais brandas, decide matar Duda. Para isso, conta com o auxílio do pistoleiro Capivara (Anselmo Vasconcellos), que executa o serviço no momento em que Duda se dirigia a São Paulo para romper com Mônica, podendo então firmar compromisso com Salomé. Tonho (Ênio Santos) e sua esposa, Mariana (Míriam Pires), acodem o radialista, que preferem manter no obscurantismo, evitando assim que sua vida seja posta em risco novamente. A proteção, no entanto, gera um terrível mal entendido: Salomé acredita que Duda preferiu ficar com Mônica em São Paulo; já está última tem certeza de que fora abandonada pelo noivo.

Fragilizada, a pobre Mônica cai na lábia da própria mãe, Graça (Priscila Camargo), senhora ambiciosa que almeja a ascensão social, em contraponto ao marido, Albino (Abrahão Farc), sujeito fraco. Sabendo da péssima situação financeira em que o cônjuge se encontra, Graça induz a filha a aceitar o assédio do banqueiro americano McGregor (Rubens de Falco), que detém as dívidas da família. A mãe, tão nociva para a filha quanto Santa é para Salomé, logo trama uma situação constrangedora entre Mônica e McGregor, flagrados por Duda, justamente quando este se recupera e vai a São Paulo prestar esclarecimentos a até então noiva. O radialista sai a toda, seguido pela apaixonada Mônica, que se surpreende ao encontra-lo no portão de sua casa, partindo ao lado de Salomé. Mônica então tira suas próprias conclusões: Duda só havia ido até lá para humilhá-la, exibindo a nova namorada. Não resta mais dúvidas: é com McGregor que ela deve ficar.

O que Mônica sequer imagina é que Salomé, neste instante, nada mais é do que uma amiga de Duda. Os dois, apesar da forte atração existente entre eles, não conseguem se entender. Desiludido com as mulheres, Duda mergulha de cabeça em seu sonho de ser cantor. Para tal, deixa de entoar suas canções românticas e passa a integrar um coro de marchinhas, orquestrado por Cotti (André Valli), professor de música e sonoplasta da rádio. O tal coro faz sua estreia para a sociedade local em um sarau, arquitetado por Salomé. Decidida a incentivar o grupo e promover Carmem (Andréa Veiga), a estrela do coral e sua grande amiga, a loira induz McGregor a acreditar que está diante de um adido cultural americano (na verdade, Cristiano (Marcelo Galdino), um amigo de Salomé), conseguindo assim que o banqueiro custeie o sarau. Só que se por um lado Salomé está pregando uma peça no banqueiro, por outro o destino resolve brincar com ela. Carmem faz o maior sucesso no sarau, principalmente após assumir perante os convidados o seu namoro com o colega de palco, Duda.

Carmem e Duda logo alcançam o estrelato. Convidados para uma excursão nos Estados Unidos, se consagram cantando marchinhas de carnaval. O mocinho, no entanto, continua na mira do pistoleiro Capivara. Salomé bem que tenta auxiliá-lo, lhe enviando bilhetes anônimos nos quais pede ao radialista que tome cuidado.

Nesta fase da novela, a política ganha destaque, com a abordagem dos comícios da Aliança Nacional Libertadora e a Intentona Comunista. O escultor Nelo (Ricardo Petráglia), grande expoente das artes, se torna vítima dos repressores, especialmente do mau-caráter Rosendo (Edwin Luisi), tido pela própria esposa, Laura (Tessy Callado), como um homem capaz de qualquer baixeza. Com a ajuda de Boiardo (Cândido Damm), falso aliado dos membros da cena artística de Salomé, Rosendo enche uma das esculturas de Nelo com nitroglicerina, enquanto simula um atentado com o mesmo material em uma fábrica. Salomé, no entanto, se apaixona pela peça, comprando-a e a levando para a casa. Ao descobrir o plano, Nelo furta a escultura da casa da amiga, com a ajuda de Capivara, que, por ser também membro da polícia, se vê obrigado, pouco depois da explosão na fábrica, a ir até o ateliê de Nelo, para encontrar a escultura-bomba, segundo denúncia de Rosendo.

Na história toda, Capivara, que tentou auxiliar, acaba se prejudicando. De Paula (Fábio Junqueira), jornalista e grande amigo de Duda, reconhece o policial-bandido como o responsável pelo atentado contra Duda. Salomé torna o fato público, ao ir até a rádio denunciar Capivara, complicando justamente aquele que lhe salvou a vida, surrupiando a escultura-bomba. Rosendo acaba tumultuando ainda mais a já tumultuada vida de Capivara, quando envia uma carta, em seu nome, para De Paula, “confessando” a este que o pistoleiro atirou em Duda a mando de Antunes. Rosendo, assim, desvincula a ação de Capivara no caso da bomba de conotações políticas, atrapalhando as investigações do jornalista.

No lado romântico da estória, Mônica enfim aceita a corte de McGregor e lhe rouba um beijo. Os dois sobem ao altar pouco depois. A cerimônia, comandada por Padre Nazareno (Elias Gleiser), tipo ingênuo e inconveniente, é marcada pela felicidade do banqueiro e a tristeza de Mônica, que pouco antes de seguir para a cerimônia descobre que seus pais a venderam a McGregor. O até então devotado e paciente noivo se transforma no mais implacável dos vilões, ao surrar Mônica e exigir que ela entre na igreja radiante, poupando assim a sua família da mais completa miséria. Vivendo sob o mesmo teto, Mônica passa a ser submetida a toda a sorte de humilhações por parte do marido, que chega a estupra-la na noite de núpcias, após a esposa se recusar a recebê-lo e até mesmo tentar agredi-lo com uma estatueta. Em decorrência dessa violência, Mônica engravida, para desespero de McGregor, que odeia crianças. Por sorte do banqueiro, e dela mesma, a moça sofre um aborto espontâneo, pouco depois de enfrentar um tumultuado comício de comunistas.

A Intentona Comunista é marcada também pela inauguração do bistrô As Desvairadas da Paulicéia, de propriedade de Salomé. O espaço passa a abrigar os expoentes da cena artística dos anos 30, o que causa manifestações contrárias à suas atividades, por parte de conservadores e rivais políticos. Pelo bistrô transita a espevitada Carolina (Flávia Monteiro), que cai de amores por Ruggero, mas se desilude ao roubar uma carta do amado, na qual pode ler informações sigilosas sobre a situação da família do rapaz: nobre, mas falida. Assim, Carolina não pode conseguir o empréstimo que pretendia com o amigo de Salomé, para abrir seu ateliê de moda, em parceria com Isolda (Dedina Bernardelli), que, assim como Carolina, é grande amiga de Mônica.

Na inauguração de seu espaço, Salomé dança sensualmente ao lado de um belo bailarino, causando ciúme de Duda, com que havia trocado beijos apaixonados pouco antes. No bistrô, começam as primeiras perseguições do Governo aos comunistas. E o alvo inicial é Nelo, que acaba preso, motivando Salomé, Duda e Padre Nazareno a se unirem em prol dos artistas ameaçados. A loira promove uma festa para arrecadar fundos para os presos políticos. Mas como apenas esta investida é pouco para a libertária Salomé, a moça decide partir em parceria com Duda, De Paulo e Ruggero para o resgate de Nelo do cativeiro em que o pobre coitado se encontra. Após o resgate, Salomé recebe um tiro de raspão no ombro, de um dos carcereiros de Nelo. O ferimento sem gravidade não a impossibilita de seguir com a fuga, permitindo que McGregor se aproxime do cativeiro e mate o carcereiro que baleou Salomé. Após certificar-se de que o homem está morto, o banqueiro se aproxima do corpo, depositando ao seu lado um revólver furtado da fazenda de Antunes, assim incriminando Salomé. O que pode, entretanto, mudar o rumo desse ardiloso plano é o fato de McGregor receber um tiro na mão do carcereiro morto, pouco antes de sua execução.

Em seu estabelecimento, Salomé se gaba de seu feito, exibindo o ferimento no ombro. A ingenuidade do gesto e a carabina da família encontrada junto ao carcereiro levam ao decreto da prisão preventiva da moça. Duda, temendo o futuro da amada, a esconde na casa de Carmem, a essa altura, uma renomada cantora, distante do agora ex-namorado Duda, cada vez mais apaixonado pelos ideais libertários de Salomé e enfeitiçado pelo charme da moça. Só que a loira reluta em ceder ao rapaz. Testemunha de uma violência sexual de Antunes contra Santa, quando ainda era uma criança, Salomé se sente incapaz de se entregar verdadeiramente a um homem.

Enquanto o romance do casal protagonista não engrena de vez, os personagens periféricos vivenciam experiências amorosas. Como o beijo entre os amigos Berta e Ruggero, que o separa em definitivo de Carolina, agora interessada em Guto (Jandir Ferrari), irmão de Carmem. Viciado em futebol, Guto vive na boa vida, para desespero da irmã cantora e da mãe, Leocádia (Aracy Cardoso), que criou os filhos em uma situação de extrema pobreza. Já Albino dá o seu grito de liberdade, abandonando a autoritária Graça. Com isso, a defensora da moral e dos bons costumes padece com o julgamento da sociedade, que condena mulheres descasadas. Envergonhada, Graça viaja com Santa para o Rio de Janeiro.

No retorno de ambas, um novo crime agita a Fazenda Pindorama. Ernestina (Lília Cabral), louca que vive de favor naquelas terras, esperando o retorno do marido que fora assassinado, tem o seu destino traçado por um misterioso criminoso. Suspeitos não faltam: Capivara e Rosendo a haviam procurado pouco antes, para descobrirem podres de Santa; Albino estava hospedado na fazenda no momento do crime e Santa, de quem Ernestina servia como consciência, mentira que ainda não havia regressado do Rio na ocasião do crime. Lília Cabral arrasou como Ernestina, minha lembrança mais forte de Salomé. Me recordo de cenas em que ela andava por um descampado; em outras, montada à cavalo e também em seu fogo de lenha, sempre mexendo um caldeirão, numa alusão às bruxas de contos infantis.

A suspeita Santa, movida pelo ciúme e pelo ódio de ver a filha unida a seu grande amor, decide delatar Duda, avisando a polícia de sua presença na cena da fuga de Nelo e a conivência com a morte do carcereiro, supostamente cometida por Salomé. Berta ouve o telefonema em que Santa delata o radialista e o incentiva a se esconder justamente na mansão dos Antunes. É quando, neste exato momento, o coronel apaixonado pela enteada retorna de Paris, onde esteve por um bom tempo, disposto a livrar sua amada Salomé da prisão. Amedrontado diante do amor doentio de Santa, Duda decide procurar sua amada e confessar que tivera um romance com sua mãe. Berta, que leu o diário de Santa e descobriu tudo o que houve entre ela e Duda, é quem incentiva o radialista a se abrir com Salomé. O problema é que esta se recusa a aceitar tal fato. Estarrecida com o acontecido, Salomé reage violentamente e exige que Duda se afaste dela de uma vez por todas.

Se Duda resiste, Mônica insiste em tentar fugir das garras de McGregor. Cansada de ser mantida dopada em um quarto escuro trancado a mando do marido, Mônica compra a governanta da casa com um colar, levando-a a misturar calmante com a bebida do banqueiro. Assim, a moça pode fugir para a casa dos pais, de onde McGregor bem que tenta leva-la. Só que Albino, fazendo jus à sua função de pai, proíbe o vilão de colocar Mônica em seu carro e ameaça contar tudo o que sabe a seu respeito para a sociedade local. De fato, McGregor parece ter muito a esconder. Após chorar abraçado a foto de uma mulher, uma grinalda e uma aliança de compromisso, o banqueiro vai até o cemitério e diante do túmulo de Leonor Salles, jura se vingar de Antunes, uma vez que já destruiu Venâncio e Albino, bem como dos herdeiros dos três: Salomé, Duda e Mônica.

Salomé se aproxima do final com um grande baile de máscaras que agita As Desvairadas da Paulicéia. Mônica, protegida por seu disfarce, se encontra com De Paula, por quem se apaixonou. O jornalista reconhece a moça e os dois vivem momentos românticos, ocultos pelas máscaras. McGregor, por sua vez, planeja acabar com a farra, ordenando que Rosendo pague a Capivara para que este jogue uma bomba no salão, em plena festa. Chica Treme-Treme (Tânia Loureiro), prostituta que deu a luz a um filho de Capivara logo no início da novela, sendo obrigada a encarar a sociedade e trabalhar na legalidade, decide usar seu herdeiro para humanizar o pai da criança. Procura Capivara e diz que se ele levar seu plano adiante será responsável pela morte do próprio filho. Temeroso, o policial-bandido devolve o pagamento antecipado a Rosendo e McGregor, que, furioso, promete vingança.

O baile de máscaras seria responsável pela comemoração da libertação de Salomé, conquistada por Antunes. Em gratidão ao padrasto, a moça não vai a própria festa, para cuidar de um falso mal-estar relatado por ele. Só que Antunes nada tem a fazer. Salomé está apaixonada por Duda, e nem mesmo a descoberta de que ele se envolvera com sua mãe, é capaz de afastá-la do radialista. Livre de seu trauma, Salomé se entrega a Duda em meio ao mato da Fazenda Pindorama. A cena que ocorre no último capítulo da novela deixa Santa desnorteada.

Antes, porém, Santa é presa pelo assassinato de Ernestina. Decidido a se livrar da esposa e repreendê-la pelo caso extraconjugal que tivera com Duda, Antunes forja provas que a incriminam. Entretanto, atormentada por uma crise de consciência, Graça confessa ao delegado que fora ela a responsável pela morte de Ernestina. Santa é posta em liberdade, no mesmo momento em que Antunes confessa a enteada sua paixão por ela. Temerosa com o desejo do padrasto, ela decide procurar Duda, a esta altura embarcando para Paris, e se entender com ele. Sozinho em sua fazenda, Antunes é confrontado por McGregor, a quem confessa: fora ele quem violentou Leonor Salles, a noiva do banqueiro, na juventude, causando sua morte e consequentemente, a vingança de McGregor. Este tenta atirar em Antunes, mas o coronel é mais rápido e o mata. Santa presencia a cena e, ao se ajoelhar diante do marido clamando por sua vida, aproveita-se para pegar a mão de McGregor e aperta com os dedos do morto o gatilho, levando todos a acreditarem que um vilão matou o outro.

Com a morte do banqueiro, Mônica fica livre para se unir a De Paula. E com o falecimento de Antunes, Duda consegue reaver a fazenda que fora de seu pai, de onde expulsa Santa. Sem os vilões, Salomé se debruça sobre os finais românticos de seus personagens: Berta fica noiva de Ruggero, enquanto Carolina dispensa Guto para se unir a um diretor de cinema italiano. Já Carmem se casa com o maestro Cotti, enquanto Nelo descobre que sua esposa, Tereza (Cláudia Borioni), está grávida. Capivara se redime e se une a Chica para cuidar do filho, mesmo estando na prisão; Rosendo, por sua vez, não tem salvação: termina pobre, mas mantém sua arrogância.

Duda e Salomé, enfim, vivem felizes. A novela Salomé, no entanto, não teve uma passagem repleta de felicidade pelo horário das 18h. Pouco lembrada, a trama dificilmente terá uma chance no Viva. Nem mesmo sua belíssima abertura a credenciaria para as atuais faixas de novela do canal. Mas não custa sonhar com sua reprise e com uma nova faixa, só para tramas esquecidinhas...





Confira a cena em que Salomé (Patrícia Pillar) realiza a dança dos sete véus, logo nos primeiros capítulos da trama.

Neste domingo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário