Viva, nos conceda esta dança!
Estreia de Manoel Carlos no horário
nobre, nunca reprisada, é boa opção para meia-noite.
Quando Baila Comigo estreou, muitos duvidaram de seu sucesso. Parecia um
impiedoso folhetim, que nada ia acrescentar à já batida trama de gêmeos que
cresceram desconhecendo a existência um do outro. Ledo engano. Assim que foi ao ar o
último capítulo da novela de Manoel Carlos, estreando como titular às 20h, o
público já queria sua reprise. Reprise esta que quase aconteceu em 86, em dois
tempos: no Vale a Pena Ver de Novo,
quando foi preterida por Feijão Maravilha,
e às 18h, por ocasião da suspensão das atividades do horário após a exibição de
Sinhá Moça (que acabou substituída
por Locomotivas). Quem nutria muita
curiosidade pela novela, acabou adquirindo os DVDs de uma versão exibida em
Portugal (com os quais meu amigo Zé Filho me presentou). Mas nada é igual a
acompanhar na íntegra, com vinheta de numeração no início e cenas do próximo
capítulo no final. Por isso é que imploramos... #BailaComigoNoVIVA!
Lisboa, 1981. Guiada pelo
ressentimento, Marta passou a ignorar a existência de João Victor, um dos nomes
em ascensão nas empresas de Quim, que sofrera um enfarte recentemente. Decidido
a corrigir os erros do passado, e recompensar seu outro herdeiro pela ausência
de todos esses anos, o empresário decide voltar ao Brasil, a contragosto da
esposa e da filha. O filho irá permanecer em Lisboa, à frente das negociações
que serão realizadas por lá. Visando aproveitar-se desse afastamento
temporário, e torná-lo definitivo, Marta diz a João Victor, no dia em que este
completa 27 anos, que ele não é filho de sangue do casal; portanto, tem menos
direitos do que Débora na divisão de bens. A revelação atordoa João Victor, que
passa mal.
Voltamos ao Rio. Plínio, o médico, lê
no jornal que Quim está voltando. Ele transmite a notícia à esposa, que teme a
proximidade do ex-amante. Receosa, Helena decide pedir perdão a Quinzinho, o
filho que ela criou, assim batizado em homenagem ao pai biológico. Caixa de
banco, moderno e descolado, Quinzinho sequer entende o que Helena quer lhe
dizer ao pedir perdão a ele. Não vê nenhum deslize no comportamento da mãe e
duvida que isso, um dia, irá acontecer. Sai para um passeio de moto pela orla,
e subitamente, sente-se mal, colidindo com o carro de Lúcia. O mal estar
coincide com os momentos em que João Victor descobre que não é filho de Marta
e, como ele e ela supõem até o momento, Quim.
O acidente envolvendo Lúcia e
Quinzinho dá início à história de amor do casal, ameaçada pela presença de
Marcelo (Fábio Pillar), ex-namorado da moça. É Marcelo quem une Quinzinho ao
seu verdadeiro pai. Uma vez no Brasil, Quim pede a seu amigo e fiel escudeiro
Guilherme (Cláudio Cavalcanti) que localize a família de Helena. Não demora
muito e logo ele obtém o endereço de seu grande amor do passado: o bairro de
Santa Teresa. Julgando ser perigoso aproximar-se repentinamente do filho e de
Helena, Quim decide ir até o banco em que Quinzinho trabalho. Lá, testemunha
uma briga armada por Marcelo, que ataca o bancário sem dó. Quinzinho revida,
fazendo com que o pai biológico passe mal diante da confusão. Com os ânimos
mais calmos, no entanto, Quim defende o herdeiro perante o gerente do banco,
iniciando assim uma grande amizade. Ao saber pelo filho que ele e Quim se
conheceram, Helena surta. Ela já havia ido ao aeroporto se certificar da
ausência de João Victor entre os Gama que voltaram ao Brasil, o que a
tranquilizara na ocasião. Agora, temendo as intenções de Quim, ela quebra o
pacto de silêncio existente entre os dois e liga para ele, implorando que se
afaste do gêmeo que ele enjeitou.
O que nem Helena, nem Quim, e muito
menos Quinzinho, podem imaginar é que João Victor decidira voltar ao Brasil sem
comunicar nada a ninguém. Com duas pessoas idênticas vivendo em uma mesma
cidade (ainda que seja uma cidade do tamanho do Rio de Janeiro), os conflitos
passam a ser inevitáveis. E se iniciam ainda no aeroporto, onde Lúcia foi
buscar sua mãe, Sílvia Toledo (Fernanda Montenegro). E não fosse a chegada da
esfuziante atriz, Lúcia certamente teria abordado João Victor. O gêmeo rico
escapa do flagra da médica, mas sofre com a violência de Marcelo, que o
confunde com Quinzinho. Assim como Lúcia, que desconhecendo a existência de
outro ser igual ao seu namorado, questiona este sobre sua presença no
aeroporto, instalando entre eles a desconfiança que irá minar o relacionamento,
mais adiante.
As confianças cessam quando João
Victor vai para o Sul, onde descobre o médico responsável pelos partos da
região naquela época: Plínio Miranda. Munido desta nova informação, Victor
retorna ao Rio, sendo surpreendido por uma surra aplicada pelos capangas de
Caio Fernandes (Carlos Zara), pai de Lúcia e dono de uma academia de ginástica
e dança. O sogro antipatiza com Quinzinho tão logo o conhece e, no intuito de
afastá-lo de Lúcia, contrata alguns homens para que lhe deem uma surra. Qual
não é a sua surpresa ao encontrar Quinzinho sem nenhum ferimento? Somada à
antipatia de Caio, o namoro de Lúcia e Quinzinho padece com a intromissão de
Mira Maia (Lídia Brondi), que sempre arruma um jeito de atazanar a vida da
atual de seu ex-namorado, e também com Helena, que implora a Lúcia que termine
o namoro, evitando maiores aborrecimentos. Incomodada com a presença constante
de Mira na vida de Quinzinho, Lúcia decide dar um tempo na relação. Doente de
saudade, no entanto, ela resolve procura-lo e se surpreende ao ver o bancário
beijando Mira. Pouco depois, testemunha um encontro de João Victor e Débora, e
acreditando tratar-se de Quinzinho, decide procura-lo, despejando desaforos que
o rapaz, nem de longe, merecia ouvir.
É... O Rio de Janeiro é pequeno demais
para os dois. Tanto Quim, quanto Helena, já perceberam isso. Ele encontrara
Quinzinho em um bar e para impedir que Marta visse o gêmeo de seu filho adotivo
tratou de manchar a blusa dela com vinho. Helena, por sua vez, se encontra com
João Victor em um restaurante; sua emoção é tanta, que chega a desfalecer. E os
gêmeos passam a circular pelos mesmos ambientes, o que aumenta a tensão
existente em torno do primeiro encontro. É Plínio quem decide pôr fim à
situação. Procura Quim e exige que ele se afaste de sua família, sem sucesso.
Leva o empresário, então, até a casa em que ele vive com Helena, disposto a
colocar o casal frente-a-frente. Helena vai direto ao ponto: Quinzinho acredita
que Plínio é seu pai; ama esse pai com todas as suas forças. Ela não seria
capaz de destruir as ilusões do filho e, por isso, decide preservar a mentira.
O que ninguém imagina é que Marta colocaria João Victor ainda mais próximo de
Plínio. Ela contrata um detetive particular, que lhe dá o endereço do médio. E
após um tenso encontro com ele, no qual expõe sua mágoa por ter sido enganada
com relação à sua fertilidade, exige que Plínio lhe dê explicações sobre a
origem de João Victor. Diante das negativas do doutor, Marta decide colocar o
filho adotivo à par de tudo: entrega a ela o telefone de Plínio.
E os gêmeos que ainda não se
conhecem, escutam a voz um do outro. Tony Ramos, grande ator, diferenciou
João Victor e Quinzinho apenas com mudanças de penteado, postura e entonação de
voz. Um trabalho sensível que seduziu público e crítica naquele ano de 1981. Ao
ligar para Plínio, João Victor é atendido por Quinzinho, que combina com o
rapaz uma visita à noite. Ao avisar os pais do encontro, o bancário quase
provoca um surto em Helena e Plínio, que, com a ajuda de Guilherme, consegue
tirar o rapaz de casa, evitando o encontro dos dois. Guilherme passou a ser
chefe de Quinzinho, cujo curso de piloto de helicóptero lhe rendeu uma vaga nas
empresas de Quim, forma que o empresário encontrou para ficar próximo do filho.
Helena suspira aliviada, sem imaginar que João Victor voltaria a procurar por
Plínio. Compadecida, a mãe leva o filho para uma igreja, e diante do altar,
inventa mais uma mentira, continuando a manter João Victor e Quinzinho
separados. Diz que seus pais morreram tão logo os gêmeos nasceram; ela assumiu
a criação de um e Quim, de outro. Não bastasse enganar o filho, Helena ainda
lhe pede para que não procure Quinzinho, uma vez que não quer que ele descubra
sua verdadeira origem. A cena é uma das mais belas de toda a trama.
Sem ter como se aproximar do irmão,
João Victor passa a verificar seu trabalho na empresa, de longe. Até que,
tomado por uma repentina coragem, vai ao encontro do gêmeo, na companhia de
Débora. Pela primeira vez diante do irmão, João Victor se emociona. Ao chegar
em casa, arrependido por não ter se aproximado do rapaz, ele se volta para o
espelho, imaginando como seria o diálogo entre os irmãos. Decidido a manter-se
próximo de Quinzinho, o gêmeo de Quim passa a frequentar os mesmos lugares que
ele. Sabendo disso, Helena decide desabafar com alguém a respeito das mentiras
que inventou. E quem mais poderia ajuda-la senão Lúcia, que já a amparou em
outro momento? A história comove Lúcia, que vai a uma recepção na casa de Quim,
apenas para ver o irmão de seu amado e prometer que vai ajuda-lo. Sabendo do
sofrimento de João Victor, Helena decide que irá consola-lo. Mas tão logo chega
ao seu apart-hotel, é surpreendida pela presença de Quim. João Victor sequer
imagina que está diante dos pais biológicos e, sem medo de se expor, revela que
tem visto Quinzinho com frequência. O mesmo Quinzinho que, de repente, se vê
diante de uma briga ferrenha entre Quim e Marta. Já afeiçoado ao filho, o
empresário decide doar a ele uma porcentagem dos bens de sua família; em
especial, da parte que cabe a João Victor.
Quinzinho sequer pode imaginar que a
boa ação de Quim tem a ver com seu passado. Em uma conversa com Helena, na qual
descobre que o atual patrão fora o primeiro amor da vida dela, brada aos quatro
ventos que não aceitaria outro pai que não fosse Plínio. E, decidido a se aproximar
cada vez mais da família dos patrões, vai até o apart-hotel de João Victor, que
ao ver o irmão pelo olho mágico, não o atende. Os dias seguem e Quinzinho se vê
obrigado a partir para uma viagem em Portugal. Querendo marcar presença na vida
do irmão, João Victor faz com que chegue até ele, antes de embarque, um livro
com uma dedicatória sua. Quinzinho retribui a gentileza, ligando para João
Victor e dizendo que tão logo ele volte ao Brasil, os dois vão se encontrar. A
esta altura, Débora namora, a contragosto de Marta, com Caê (Lauro Corona), um
tremendo pobretão. Ao ir à casa da namorada, o jovem vê João Victor, que não
tem outra alternativa, a não ser contar tudo sobre os gêmeos. Desesperado com a
gravidade da situação, Caê decide desabafar com o padrasto Otto (Milton
Gonçalves, que causou uma polêmica racial por ser esposo, na novela, de Beatriz
Lyra (Letícia)). O problema é que Mira ouve tudo e movida pelo seu faro
jornalístico decide ir atrás de João Victor. Um homem a imagem e semelhança de
Quinzinho... Tudo o que Mira queria!
O que não poderia acontecer, nesta
altura do campeonato, acaba acontecendo. Caio, inimigo de Quim e de Quinzinho,
descobre o segredo em torno dos gêmeos e passa a chantagear o empresário. Numa
tentativa de neutralizar as investidas criminosas de Caio, seu sócio em uma
empresa de táxi aéreo, Quim havia colocado a bela Paula (Susana Vieira) em seu
encalço. Instruída por Guilherme, Paula seduz Caio, mesmo sendo casada com
Mauro (Otávio Augusto), um ciumento piloto de avião que tão logo descobre o
romance da esposa com o dono da academia, decide mata-lo. Para isso, joga sua
aeronave em cima de Caio, causando a morte deste e a sua. Os gêmeos estão
livres do vilão, mas não de Mira, que procura Helena, com um bolo nas mãos. No
topo do doce, dois bonecos: o gêmeo feliz, Quinzinho, e o gêmeo triste, João
Victor. Helena se desespera com as palavras de Mira e, pouco depois, com a
certeza de que sua filha Lia (Christiane Torloni) está próxima de descobrir seu
segredo. Com medo, ela confessa à menina tudo o que fez e é aconselhada a abrir
a história de uma vez.
Até porque a presença de João Victor
começa a instigar Quinzinho. Ele reata o namoro com Lúcia, mas morre de ciúmes
ao vê-la com outro homem, que sequer imagina ser João Victor; a esta altura, já
envolvido com Mira. É chegada, mesmo, a hora de Helena abrir o jogo. Ela
procura Quinzinho, diz que ele é filho de Quim, e mais: João Victor é seu irmão
gêmeo. Pouco depois, é João Victor, também por intermédio de Helena, quem
descobre tudo sobre sua origem. Os dois correm ao encontro um do outro, mas um
blecaute atrapalha os planos dos gêmeos. Quando enfim encontram uma lanterna, a
luz retorna e aí podem ficar frente-a-frente, sem mais mentiras, nem escuridão.
Assim se encerrava aquele capítulo de sábado, 05 de setembro, três semanas
antes do término da novela. Pouco depois, Quinzinho declara seu amor ao irmão e
também ao pai, Plínio. Quanto a Quim, os dois prometem ser amigos, até que o
destino fortaleça a relação entre eles. Os momentos finais guardam os diversos
pedidos de perdão de Helena: a João Victor, Quinzinho e Plínio. E também os
casamentos de Caê e Débora, Quinzinho e Lúcia, e João Victor e Mira, que dá a
luz a gêmeos.
A trama principal, embora ótima, não
condizia com o título. Baila Comigo
se justificava pela presença da academia de ginástica e dança, sintetizada pela
figura de Joana Lobato (Betty Faria). Ao longo da narrativa, a professora se
envolvia com Caio, João Victor e Quim. Mesmo estando em meio aos principais
personagens, sua trama não se desenvolveu a contento. O doutor Saulo também
ficou a mercê da principal estória da novela. Reginaldo Faria, intérprete do
médico, chegava a abrir os créditos de novela (o que incomodara o ator, uma vez
que o protagonista era Tony Ramos). Ainda assim, seu personagem não cresceu,
como parecia que ia crescer, a princípio. Entretanto, era interessante
acompanhar sua relação de amor e ódio com a ex-namorada Dolores (Arlete
Salles), que já havia vivido um casamento desestruturado, e seu namoro com Lia,
irmã de Quinzinho.
Manoel Carlos já havia figurado no horário nobre como colaborador de Gilberto Braga, em Água Viva. Baila Comigo, aliás, tem muito de Água Viva e também de Dancin’ Days, ambas já exibidas no Viva. As cenas são longas, a psicologia dos personagens muito bem definida, e os diálogos extensos. Nada da dramaturgia rasa e veloz que temos hoje, onde os personagens se moldam ao sabor das conveniências do roteiro. Em Baila Comigo, não há quem não haja com coerência, possibilitando ao público entender e perdoar certas atitudes (em especial, as de Helena). Uma novela deliciosa, com Manoel Carlos em sua melhor forma e com todos os seus corriqueiros personagens (até mesmo a empregada intrometida; aqui, Conceição (Maria Alves)). Sabemos que o público do Viva é apaixonado pelas novelas do autor. Fica a dica...
Confira a nova edição da Viva Revista, tudo sobre os próximos capítulos das novelas do Viva! Clique aqui!
Nenhum comentário:
Postar um comentário