As
“novas” novelas
Uma análise de O Dono do Mundo e
Tropicaliente, últimas estreias do Viva.
Entre o final de outubro e o começo de
novembro estrearam as novas novelas do Canal Viva: O Dono do Mundo, à 00h00, e Tropicaliente,
15h30. Ambas com a árdua missão de manter os números e a repercussão de suas
antecessoras; respectivamente, Dancin’
Days e História de Amor. Passada a
ressaca das novelas anteriores, e com ambas as tramas atingindo um mês
de exibição, já é tempo de fazer uma análise mais detalhada do que O Dono do Mundo e Tropicaliente nos oferece, em termos de trama, elenco e produção.
A reprise de O Dono do Mundo nos permite elucidar os motivos que levaram à
rejeição da trama. Márcia (Malu Mader) se entregar a Felipe (Antonio Fagundes),
apenas três ou quatro dias após conhecê-lo, soou pouco convincente. É claro que
Felipe usou de toda a sua dissimulação para conduzir o jogo de forma que ele
saísse vitorioso, e que Walter (Tadeu Aguiar) menosprezou as vontades da
mulher, privilegiando o trabalho. O que incomodou, e bastante, foi ver Márcia,
mesmo desamparada por Felipe após a morte de Walter, continuar se iludindo, a
ponto de tornar a se encontrar com ele e insistir em acreditar em suas
mentiras, mesmo com dezenas de evidências apontando para o caráter sórdido do
cirurgião. É difícil ver uma pessoa se rastejando por alguém que não a quer,
quando na verdade deveria estar sofrendo pela culpa de ter causado a morte de um noivo tão bonzinho, seguindo um pensamento simplista, comumente adotado pelo
telespectador médio. Mais: Gilberto Braga pretendia, com a novela, criticar as
elites. Mas a trama foi construída de tal forma que a tal “elite” soa muito
mais inteligente do que os pobretões que engana. E não são poucos os enganadores e enganados! Além de
Márcia seduzida por Felipe, tivemos Xará (Jorge Pontual) caindo na lábia de
Constância (Nathália Timberg) e Taís (Letícia Sabatella) sendo conduzida por
Olga (Fernanda Montenegro), quase sem notar, ao caminho da prostituição de
luxo.
O perfil realista dos personagens, se
agride por um lado, por outro traz desempenhos brilhantes do elenco
competentíssimo de O Dono do Mundo.
Fernanda Montenegro está soberba como Olga, sempre distribuindo tiradas politicamente
incorretas; Nathália Timberg deita e rola com Constância, muito bem amparada
pelo apagado Altair, de Paulo Goulart; e Maria Padilha já nos faz detestar sua
Karen. Cabe destacar também Stenio Garcia (Herculano) e Cláudio Corrêa e
Castro (Vicente). O trio de protagonistas (Antonio Fagundes, Glória Pires e Malu Mader)
também defende com primazia os seus personagens. E quanto talento vemos em
Daniela Perez, a Yara. A cada cena dela, sentimos um aperto no peito. Triste...
Outra estreante de O Dono do Mundo, Letícia Sabatella,
também se sai muito bem como Taís. Seu parceiro de cena, Ângelo Antônio, o
Beija-Flor, está correto, mas o personagem não vai além das discussões sobre
honestidade, o que o torna chato. No geral, os casais da novela não agradam.
Impossível torcer por Felipe e Márcia, como a sinopse original previva, difícil querer a obstinada Taís com o
apagado Beija-Flor, e desestimulante ver Stella (Glória Pires) se sacrificando
para salvar o depressivo Rodolfo (Kadu Moliterno). Cenários e figurinos são
arrasadores! Enquanto a classe alta exibe apartamentos belíssimos, o pessoal do
subúrbio se abriga em casas concebidas com muita veracidade, diferente dos
tempos atuais, em que casa de pobre em novela é entulhada de elementos vendidos
à exaustão pela Globo Marcas.
Para concluir os comentários sobre a
novela de Gilberto Braga, tem valido a pena ver O Dono do Mundo. Buscar entender os erros, a reação do público de
1991, e acompanhar as mudanças realizadas no roteiro para que a audiência
voltasse aos trilhos pré-estabelecidos. A tal comentada cena da virada, em que
Márcia fere Felipe com um bisturi, trouxe novos ares para a novela. Já estou
roendo as unhas à espera do Felipe pobretão!
Já Tropicaliente
não sopra forte como os ventos de Fortaleza. A novela de Walther Negrão é
impregnada com o estilo do Ceará. Não só pelas paradisíacas locações, mas
também pelos cenários e figurinos. Todos abusam dos tons claros, de vidros,
madeiras, flores naturais. A concepção de Helena Brício (figurinos), Mário
Monteiro (cenografia) e Tisa de Oliveira (produção de arte), dentre outros
nomes, foi impecável. O colorido encantador, no entanto, se dissipa diante do
desenvolvimento lento do roteiro. As cenas de dança na aldeia já irritam (e nós
já sabemos que ainda serão vistas à exaustão). Mas se as coisas demoram a
acontecer, ao menos acontecem com um texto muito bem elaborado por Walther
Negrão. É como o ritmo de História de
Amor, cujas tramas demoravam a se finalizar, mas permaneciam interessantes
em virtude do texto de Manoel Carlos.
História
de Amor, no entanto,
além da trama romântica central bem elaborada, trazia diversas tramas paralelas
que garantiram o gás necessário aos mais de duzentos capítulos da novela. O
mesmo não se pode dizer de Tropicaliente.
O fio condutor é bastante frágil e não evolui a contento. A paixão de Letícia
(Sílvia Pfeifer) e Ramiro (Herson Capri), que deveria ser a principal trama da
novela, é ofuscada pelo entrelaçamento dos personagens paralelos, com destaque
para Açucena (Carolina Dieckmann, com uma imagem bastante diferente da que vemos
hoje) e Vitor (Selton Mello). O psicológico fragilizado do rapaz é o grande
destaque do texto de Negrão e da interpretação de Selton; de longe, o melhor
desempenho do elenco. Ainda vamos ver muitas loucuras de Vitor, obcecado pelo
poder e pela conquista.
O elenco, no geral, é interessante.
Como é gostoso ver Carla Marins como Dalila, tão distante da Joyce de História de Amor; o mesmo para Ana Rosa,
aqui como Ester, e Stenio Garcia, cujo Samuel nada lembra o Herculano da novela
da meia-noite. Lúcia Alves (Isabel), Cinira Camargo (Manoela), Nelson Dantas
(Bujarrona) e os protagonistas Sílvia Pfeifer e Herson Capri se destacam. Ao
lado de Selton Mello, a ótima Paloma Duarte dá o tom perfeito à sua ainda
menina e já obstinada mulher Amanda. Quem também merece menção honrosa é Cássio
Gabus Mendes, que consegue se safar bem do perfil excessivamente chato de
Franchico. E Regina Dourado está fantástica como Serena. Já de cara a torcida
para que ela consiga manter-se ao lado de Ramiro é muito maior do que a que
quer o pescador com Letícia.
Tropicaliente não precisa ser acompanhada com afinco.
Muitos capítulos irão passar sem que nada de realmente importante para o
desenvolvimento da trama aconteça. Os imbróglios entre Letícia, Ramiro e seus
familiares norteiam a novela até o fim, e chegam a ficar cansativos, tamanho é
vai-e-vem envolvendo os personagens. Uma boa novela, que, entretanto, não
figura entre as melhores do autor, nem entre as mais interessantes das que já
foram exibidas pelo Viva.
No início do texto está escrito Tropicaliente, ao invés de História de Amor a antecessora de Tropicaliente.
ResponderExcluirOlá! Já corrigi o erro. Obrigado pelo alerta! =D
ResponderExcluirAcredito que Tropicaliente teria se beneficiado de uma exibição compacta como foi no vale a pena ver de novo com mais ou menos 80 capítulos.
ResponderExcluir