Viva
o Palco Viva!
Novas edições comprovam a falta que
musicais fazem à TV
O Globo
de Ouro Palco Viva, estreia da última segunda-feira (17), é mais uma
empreitada do Canal Viva na consolidação de suas produções próprias. Assim como as
reedições do Sai de Baixo, veiculadas
ano passado, a atração padece com as inevitáveis comparações. No entanto, diferentemente do
programa humorístico, sempre atual, o Globo
de Ouro Palco Viva aposta em um formato hoje praticamente extinto na
televisão brasileira. Exatamente por este motivo, a atração exigiu muito
cuidado em sua concepção e execução. E o Viva se saiu muito bem nessa
recriação.
Os tempos são outros. A TV mudou. A
forma de se ouvir música não é mais a mesma. Estamos longe de ficar, como nos
anos 80, a espera de uma atração que nos apresente a parada de sucesso da
semana, fosse ela veiculada no rádio ou na TV. Portanto, o Globo de Ouro Palco Viva surge como uma tentativa de se
estabelecer, novamente, o hábito de se consumir música no meio televisivo e reatar o
vínculo do público com grandes nomes do cenário musical brasileiro; hoje, em
franca decadência. Sendo assim, talvez não fossem necessárias as apresentações
de cantores atuais, com seus hits exaustivamente disseminados em playlists
Brasil afora e a imagem desgastada pela exposição constante. O Globo de Ouro Palco Viva ressuscitaria
apenas os elementos que fizeram seu sucesso no passado, e que, ao que parece,
garantiram a repercussão destas novas edições: durante a apresentação de
músicos tarimbados, as redes sociais registraram grande soma de comentários
elogiosos. O mesmo não se viu quando cantoras como Anitta e Valesca Popozuda
subiram ao palco, completamente deslocadas das outras atrações exibidas. Poderíamos
ter tido a chance de apreciar apenas os profissionais “das antigas”; hoje,
infelizmente, quase que em sua maioria, ignorados pela grande mídia.
A presença de novos nomes nas
reedições de determinadas músicas, no entanto, foi uma escolha acertada. Certos talentos que já nos
deixaram não poderiam ficar de fora desta nova versão da parada musical. Caso de
Agepê, muito bem defendido por Diogo Nogueira, com ‘Deixa Eu Te Amar’. E também
de Renato Russo e seu Legião Urbana, cuja voz de Thiaguinho enalteceu ‘Será’ e
prejudicou ‘Pais e Filhos’, tamanha foram as firulas do cantor na tentativa de
recriar a canção. A ótima Panamericana também reverenciou o Legião Urbana,
assim como Cazuza, e ainda prestou uma homenagem aos Titãs. É pena que a banda
não tenha participado, por falta de convite ou incompatibilidade de agendas, conforme
acontecera com Rosanah. O mesmo para Rita Lee, cuja ‘Mania de Você’ foi muito
bem defendida por Tulipa Ruiz. Cabe também elogios a Nina Becker, que veio com ‘Frisson’, de Tunai. Não se pode incluir neste meio, no entanto, a versão de
Marcelo Janeci para ‘Menina Veneno’, do Ritchie.
O repertório selecionado para a
atração tem se mostrado interessante. Alguns deslizes não chegaram a
comprometer, mas merecem ser anotados: ‘Ouro de Tolo’, nem de longe, é uma das
melhores composições de Raul Seixas, e tampouco fora bem executada pela banda
Tono. E Alcione, ao entoar ‘Meu Ébano’, flertou com as novas gerações, mas
desprezou as antigas, acostumada a ver a Marrom no palco do Globo de Ouro cantando sucessos como ‘Estranha
Loucura’. O episódio “novelas”, exibido na última sexta, trouxe Guilherme
Arantes em sua melhor forma, como há muito tempo não víamos. E mostrou que Baby
do Brasil ainda ostenta os deliciosos timbres de quando ainda era Baby Consuelo
e embalava Água Viva com o seu ‘Menino
do Rio’. O mesmo para Ney Matogrosso e Milton Nascimento, com uma das melhores
apresentações até o momento (‘Coração de Estudante’, com Wagner Tiso). Infelizmente,
outros cantores foram prejudicados pela ação do tempo. É delicioso rever Kátia, Peninha e Dalto, nomes hoje pouco lembrados, e triste constatar que
Sidney Magal não possui o mesmo tom de outrora.
O canal acertou ao abrir as novas
edições do programa com um retrospecto da trajetória do Globo de Ouro. É importante contextualizar as novas gerações, que
desconhecem a importância da parada musical para a TV, para os músicos e o
grande público. Nas edições da atração e nas cenas dos próximos capítulos das
novelas da época é que tínhamos acesso a novos hits. Um tempo longínquo deste
de agora, em que qualquer um publica sua canção na internet e em instantes pode
ser alçado ao mais novo ídolo do Brasil (o próprio site da atração dá essa
possibilidade aos visitantes no “Momento É Com Vocês”). O Globo de Ouro era a consagração de muita gente que batalhou para
viver de música até chegar aos dez mais.
E apresentar o Globo de Ouro também era sinônimo de sucesso. Que o diga César
Filho, até hoje reverenciado pelo seu desempenho em frente à atração, fosse
acompanhado por Cláudia Abreu, Cláudia Raia ou Isabela Garcia (a mais famosa
das apresentadoras). Juliana Paes e Márcio Garcia estão muito bem nas passagens
entre os números musicais. Embora não haja a aparente espontaneidade existente
nas edições da TV Globo, podemos constatar que o texto elaborado conseguiu
passar a impressão de entrosamento necessária à dupla.
Até o final da semana, temos ainda
quatro edições do Globo de Ouro Palco
Viva. O resultado final parece excelente, apesar dos pequenos deslizes aqui
citados. Uma ode ao passado, uma grande homenagem a talentos da música, e um
alerta para as novas gerações: músicas e músicos surgem e permanecem através de uma carreira
calcada em trabalho, parcerias e boas composições; não em sucessos efêmeros e
capas de revistas. Que possamos ver mais edições deste especial e também do Globo de Ouro original (cujos episódios
dos últimos anos de existência já foram exaustivamente reprisados).
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