O Viva
Retrô, horário de novelas que o blog sugeriu para o Canal Viva, se revelou
um grande sucesso! O texto sobre Amor com
Amor se Paga, do meu amigo Zé Filho, bateu recorde de visualizações, tão
logo fora postado. Hoje, resgatamos outra trama das 18h, mas desta vez dos anos
70. Tenho certeza que vocês também adorariam rever este sucesso...
Epa,
mais vale uma xepa na tela da gente...
Apenas o talento de Yara Côrtes já
vale reprise da trama no Canal Viva
Cresci ouvindo elogios à Dona Xepa, por parte de familiares e
amigos. Tão logo tive a oportunidade, busquei todo o material possível sobre a
trama de Gilberto Braga, adaptada a partir da peça teatral de Pedro Bloch.
Nunca me entusiasmei, no entanto, com a atualização da trama, Lua Cheia de Amor, nem com a nova
adaptação do texto original, Dona Xepa,
exibida na Record. O filme homônimo, porém, se revelou uma grata surpresa. Alda
Garrido, que já havia imortalizado a personagem no teatro, vive Dona Xepa com
maestria. Ainda assim, sonho em ver, um dia, o trabalho de Yara Côrtes, dando
vida a esta que, sem sombra de dúvida, é mãe abnegada mais famosa da
teledramaturgia brasileira. No Viva, já tivemos a oportunidade de conferir o
talento de Yara em Top Model, História de Amor e A Viagem, ainda no ar. Mas nenhuma dessas atuações foi capaz de
superar o papel que a consagrou.
Dona
Xepa não foi um marco
apenas na vida de Yara Côrtes. A novela simbolizou um novo tempo no horário das
18h. Era a primeira novela contemporânea na faixa, desde que o horário fora
fixado, em 1975. Também a primeira a abandonar as adaptações literárias,
apostando em um texto concebido originalmente para o teatro. E, até aquele
momento, foi a mais ousada das novelas do horário. Cenas na piscina, com
mocinhas de biquíni e mocinhos com um copo de uísque na mão, tomaram o espaço
até então ocupado por fazendas coloniais e vestidos pesados. Os ideais de
libertação dos escravos eram substituídos pelos intentos de ascender
profissional e socialmente.
A novela, no entanto, tinha um pezinho
no passado. Dona Xepa começa em
fevereiro de 1975. Feirante, Xepa, ou Carlota Soares da Costa (Yara Côrtes),
fora abandonada pelo marido há tempos, e se viu obrigada a trabalhar dia e
noite, para que nada faltasse aos filhos. Conseguiu dar aos dois, Edson
(Reynaldo Gonzaga) e Rosália (Nívea Maria), educação e regalias acima das que
tivera quando na idade deles. Imbuída das melhores intenções, Xepa almeja
alcança-los intelectualmente, mas não obtém sucesso em suas investidas. Às
voltas com seus problemas financeiros, tem dúvidas se deve pagar sua licença de
feirante ou a mensalidade do curso pré-vestibular do primogênito. Ou seja: ou
ela trabalha ou o filho estuda. Enquanto a mãe queima os neurônios em busca de
uma solução, Edson pensa em sair de casa, passando a dividir o aluguel com os
amigos Ronaldo (Nardel Ramos) e Daniel (Edwin Luisi), moço boa-praça, eterno
apaixonado por Rosália. Arrivista, a moça pretende se afastar o quanto for
possível de suas origens humildes. E para atingir seus intentos, mira no editor
de revistas Ivan (João Paulo Adour).
Ivan é tão ambicioso quanto Rosália.
Funcionário da editora Becker, pertencente à família que ostenta tal sobrenome,
ele pouco se importa com a suburbana. Só tem olhos para Heloísa (Fátima
Freire), a filha dos patrões, Henrique (Ênio Santos) e Isabel (Ida Gomes, outra
atriz que deixou saudades), a quem pretende conquistar, precipitando sua
escalada dentro do grupo editorial. Rosália, em sua busca pela riqueza de modo
fácil, também esbarra na família Becker. Conhece Otávio (Cláudio Cavalcanti),
primogênito de Henrique e Isabel, e inicia um romance com ele. O rapaz, no
entanto, não revela sua condição financeira, o que a leva a crer que ele é tão
ou mais pobre do que ela e, consequentemente, terminar o romance. Manter sua
fortuna camuflada ajuda Otávio a afugentar interesseiras; sempre rechaçou quem
se aproxima dele com interesse no patrimônio de sua família. Obcecado por
conquistas difíceis, Otávio despreza a riquinha Gisa (Patrícia Bueno), que lhe
parece muito óbvia, e cai de amores por Helena (Ísis Koschdoski), que lhe não
dá a mínima por ser absolutamente apaixonada por Edson, seu namoradinho de
infância, que a ampara no momento em que ela perde o pai, Saraiva (Fregolente).
Desprezada por Ivan e por Otávio,
Rosália parte em busca de outro bom partido. O eleito é Heitor (Rubens de
Falco), que corresponde às investidas da moça, se revelando um completo
apaixonado. Rosália o ludibria, negando sua origem, e por pouco não é
descoberta por Edson, que, por entender as razões da irmã de querer fugir da
superproteção da mãe, consente em esconder suas mentiras. Edson também está em
busca do seu lugar ao sol e tem dúvidas se lá há espaço para a abnegada Xepa.
Após ganhar um concurso de contos, ingressa no fechado círculo de intelectuais cariocas,
onde é tratado como um escritor em ascensão, e realiza seu sonho de ir morar
sozinho, acreditando que já não é de bom tom morar na vila pobre em que vive
com a mãe não é. Edson também procura descobrir o paradeiro do pai. Investiga
Corina (a ótima Zeni Pereira), feirante amiga de Xepa, e descobre que o pai
trabalhara em uma rádio, onde consegue informações que dão conta da data de seu
desaparecimento. É desta forma que ele passa a pressionar a mãe para descobrir
o que acontecera com Joel (Castro Gonzaga), o marido que se escafedeu sem dar
explicações.
Após a decepção com a saída do filho
de casa, e os desentendimentos causados pelo esposo sumido, Xepa enfrenta a
rejeição de Rosália. Prometendo lua-de-mel na Europa, Heitor consegue leva-la
ao altar, sem que ela descubra sua verdadeira condição financeira. Milionário
de berço, Heitor viu o pai, Raul Pires Camargo (Antônio Patiño), perder toda a
sua fortuna, o que leva Glorita (Ana Lúcia Torre, excelente!), sua madrasta, ao
desespero. Glorita almeja figurar entre os colunáveis do Rio de Janeiro e tem
verdadeira obsessão por Isabel Becker. Dona de uma boutique, na qual trabalha
Regina (Ângela Leal), grande amiga de Xepa, Glorita costuma usar as roupas de
sua loja e devolvê-las para que sejam vendidas às parcas madames que frequentam
o estabelecimento. A pobre Rosália, enfim, continuará tão pobre quanto sempre
fora.
Para bancar a viagem de lua-de-mel,
Heitor entrará em dívidas e assinará diversas promissórias. É a forma que ele
encontra de manter o status que aparenta; homem de classe que é e fazendo jus à
boa fama que conquistou como diretor do escritório de advocacia mantido pelo
pai. O dinheiro que conseguira levantar, no entanto, não é suficiente para
bancar a festa de casamento. Enquanto busca um jeito de impedir Xepa de
participar da recepção (o que já fizera anteriormente no noivado, onde deixou a
feirante restrita à cozinha), Glorita faz uso do dinheiro que a feirante
consegue vendendo doces para fora para promover a festa. O matrimônio,
entretanto, é ameaçado por Daniel. Trabalhando como fotógrafo numa revista de
fotonovelas, o jovem consegue se tornar diretor da editora Becker, onde assume
a revista Passarela e conquista a confiança de Joice (Marlene Figueiró),
profissional experiente na redação, enfrentando a oposição de Ivan,
principalmente após seu envolvimento com Heloísa. Indo à igreja, Daniel intima
Rosália, mas é impedido por Regina, a esta altura trabalhando como atriz e
apaixonada por Otávio, de promover um escândalo maior. Também Xepa, por pouco, não
causa um grande burburinho. Ela quase não participa da cerimônia, uma vez que
Glorita lhe dá bebida com sonífero, a qual Xepa não bebe porque é impedida por
Cleonice (Marina Miranda), sua amiga que trabalha na casa de grã-finos.
Casada, Rosália se afasta cada vez
mais da mãe, a quem passa a visitar apenas uma vez por semana, esquecendo-se
das promessas de tirá-la do meio em que vivia. Pouco depois, se descobre
grávida. Completamente apaixonado pela esposa, e ansioso pela chegada do bebê,
Heitor simula o roubo de um valioso colar, aplicando um golpe em sua
seguradora. Rosália encontra a joia em meio aos pertences do marido, ao mesmo
tempo em que descobre que Heitor e o pai desviaram uma grande quantia das
empresas de Henrique Becker. Decidida a ir embora do apartamento de Glorita,
Rosália telefona para o marido, que, desesperado, parte em disparada ao seu
encontro, sofrendo um acidente de carro que lhe tira a vida. Logo em seguida,
Raul é preso, e Rosália, sentindo-se culpada, decide permanecer no apartamento
de Glorita, que irá fazer de tudo para afastar Xepa da neta, considerando sua
presença prejudicial à menina, Maria Carolina, cujo nascimento transfere a ação
da novela para 1976.
A imprensa da época resumira o perfil da feirante
da seguinte forma: “Dona Xepa é representante de uma classe menos privilegiada
que chega a sacrifícios incomensuráveis para que os filhos estudem e cheguem a
posições de destaque dentro da sociedade”. E Gilberto Braga completou: “Até que
ponto os filhos que não pediram esses sacrifícios ficam implicados em retribuir
material e afetivamente o que lhes foi dado? E os pais, que tanto deram de si,
não cobrarão essa dívida, no futuro?”. O Canal Viva poderia nos conceder a
chance de ver, ou rever, a novela, e saber se a trama foi feliz em sua
abordagem. Por Xepa, por Yara Côrtes e por nós... #ReprisaViva!
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